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Como anda o problema da malária gestacional no Brasil

Pesquisa da USP indica que embora a doença ainda represente um importante problema de saúde pública no país, houve redução de metade dos casos

Por Thais Szegö, Agência FAPESP
Atualizado em 20 jul 2022, 15h17 - Publicado em 20 jul 2022, 10h51
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  • Um mapeamento inédito sobre a incidência de malária entre gestantes brasileiras foi divulgado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) na revista Lancet Regional Health – Americas.

    Os dados indicam que, embora a malária gestacional ainda represente um importante problema de saúde pública no país, houve redução de aproximadamente metade dos casos ao longo do período analisado (2004 a 2018). Segundo os autores, isso se deve à ampliação da rede de diagnóstico e tratamento, bem como à inclusão, a partir de 2006, do fármaco artemisinina no esquema terapêutico.

    Ainda segundo os pesquisadores, a redução só não foi maior possivelmente por causa da descentralização das ações públicas de combate à malária no país. Como os municípios têm autonomia para lidar com os casos, isso pode levar a perdas com a alternância de equipes vinculadas aos órgãos de saúde a cada nova eleição.

    “Embora existam vários estudos publicados sobre malária gestacional no país, nenhum deles apresentou um panorama geral da doença, pois foram realizados em sua maioria em locais ou regiões específicas”, diz à Agência FAPESP Cláudio Romero Farias Marinho, professor associado do Laboratório de Imunoparasitologia Experimental do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), que coordenou o trabalho. “E foi por isso que nos propusemos a explorar os padrões espaciais e espaço-temporais da malária na gestação no Brasil, caracterizando de forma epidemiológica essa população.”

    Grupo de risco

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    Como lembra o pesquisador, as grávidas constituem um dos principais grupos de risco para a malária – doença causada por protozoários do gênero Plasmodium e transmitida pelo mosquito Anopheles. As gestantes infectadas correm mais risco de sofrer com anemia grave, parto prematuro, aborto e natimortalidade. Já o feto pode apresentar microcefalia ou ter seu crescimento prejudicado no útero, com impactos que costumam se estender para além do período gestacional.

    “Estudos mostram que a infecção afeta o desenvolvimento e a função cerebral causando déficits cognitivos e neurológicos, consequência de condições como paralisia cerebral e epilepsia, tem associação com problemas respiratórios na infância e faz com que a criança tenha maior propensão a infecções, além do risco maior de desenvolver na vida adulta doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial”, conta Marinho.

    Por essas razões as gestantes foram o foco do levantamento conduzido pela pós-doutoranda do ICB-USP Jamille Dombrowski, bolsista da FAPESP, em parceria com pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP). O grupo analisou a série histórica da doença durante um período de 15 anos, envolvendo dados de 61.833 mulheres com malária gestacional no Brasil obtidos do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Malária (Sivep-Malária) do Ministério da Saúde. Os resultados apontaram municípios nos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Pará com alta incidência da enfermidade em gestantes.

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    O levantamento também possibilitou apontar o grupo de maior risco do quadro, que são as gestantes mais jovens, especialmente aquelas entre 15 e 24 anos. Isso porque é nessa faixa etária que se encontra o maior número de primigestas (mulheres na primeira gestação). Nesses casos, a imunidade específica contra as formas do Plasmodium que se instalam na placenta é mais baixa, pois ela é adquirida após gestações sucessivas. “Também é importante lembrar que na Região Norte do Brasil as gestantes primigestas são muito jovens e seu tempo de exposição ao protozoário é menor por causa do pouco tempo de vida, fazendo com que seu organismo tenha menos proteção contra ele”, explica o pesquisador.

    O estudo revelou ainda indícios de que o esquema de tratamento dessas pacientes pode não estar sendo feito da maneira correta, pois foi notado um elevado percentual de notificação de primaquina. Trata-se de um medicamento contraindicado durante a gravidez, pois pode provocar a destruição dos glóbulos vermelhos do sangue do feto, responsáveis pelo transporte do oxigênio, e consequentemente causar um aborto espontâneo.

    Todas essas informações obtidas pela equipe coordenada pelo professor Marinho podem ajudar a nortear o Ministério da Saúde no estabelecimento de políticas públicas para o controle da malária e também para oferecer melhor assistência às gestantes nesses casos. Vai ser possível identificar as áreas que podem exigir maior vigilância ou intervenções adicionais, atuando em estratégias específicas para proteger as gestantes e seus bebês das consequências devastadoras da doença.

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    Com o aspecto epidemiológico pronto, o foco dos pesquisadores passa a ser o diagnóstico precoce de uma complicação da doença, a malária placentária. Ele é muito importante, pois geralmente as grávidas não apresentam sintomas, mas podem estar com o parasita na sua placenta – condição conhecida como malária placentária – e a constatação da doença só é feita após o nascimento do bebê, sem a possibilidade de intervenção ou tratamento.

    Por esse motivo, Dombrowski está trabalhando em um novo projeto que visa identificar biomarcadores de rápida mensuração e custo acessível para que sua análise possa ser introduzida na rotina do pré-natal.

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