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Pela primeira vez, cientistas detectam microplásticos no sangue humano

Estudo mostra partículas em 80% das pessoas. Elas podem se movimentar pelo corpo e se alojar em órgãos causando diversas doenças

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 mar 2022, 16h44

Pela primeira vez, cientistas detectaram a presença de microplásticos no sangue humano. Em um estudo realizado pela Vrije Universiteit Amsterdam, na Holanda, foram encontradas minúsculas partículas em quase 80% das pessoas. A descoberta, publicada na revista Environment International, mostra ainda que elas podem se movimentar pelo corpo e se alojar em órgãos.

O impacto na saúde ainda é desconhecido, mas os pesquisadores estão preocupados porque em laboratório, os microplásticos causam danos às células humanas, além de serem as principais poluidoras do ar, forma como entram no organismo e provocam milhões de mortes precoces por ano. “Nosso estudo é a primeira indicação de que temos partículas de polímero em nosso sangue. É um resultado inovador”, disse o professor Dick Vethaak, ecotoxicologista da Vrije Amsterdam, na Holanda. “Mas temos que estender a pesquisa e aumentar o tamanho das amostras e o número de polímeros avaliados”.

No estudo, os cientistas analisaram amostras de sangue de 22 doadores anônimos, todos adultos saudáveis, encontrando partículas de plástico em 17. Metade das amostras continha plástico PET – usado para fazer garrafas de bebidas –, um terço continha poliestireno, utilizado para embalar alimentos e outros produtos e um quarto continha polietileno, do qual são feitas as sacolas plásticas. “É razoável se preocupar”, afirmou Vethaak ao jornal The Guardian. “As partículas estão lá e são transportadas por todo o corpo”. Ele acrescentou que trabalhos anteriores já mostraram que os microplásticos eram 10 vezes maiores nas fezes dos bebês em comparação com os adultos. “Também sabemos, em geral, que bebês e crianças pequenas são mais vulneráveis ​​à exposição a produtos químicos e partículas. Isso me preocupa muito”.

A pesquisa adaptou as técnicas existentes para detectar e analisar partículas tão pequenas quanto 0,0007 mm. Algumas das amostras de sangue continham dois ou três tipos de plástico. A equipe usou agulhas de seringa de aço e tubos de vidro para evitar contaminação e testou os níveis de fundo de microplásticos usando amostras em branco.

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Vethaak disse que a quantidade e o tipo de plástico variaram consideravelmente entre as amostras de sangue, e essas diferenças podem refletir a exposição de curto prazo antes de serem coletadas, como beber um copo de café forrado de plástico ou usar uma máscara facial do material. “A grande questão é: o que está acontecendo em nosso corpo?”, disse Vethaak. “As partículas ficam retidas no corpo? Elas são transportadas para certos órgãos, podem passar pela barreira hematoencefálica? Esses níveis são suficientemente altos para desencadear doenças? Precisamos urgentemente financiar mais pesquisas para que possamos descobrir essas coisas”. O estudo foi financiado pela Organização Nacional Holandesa para Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde e a Common Seas, empresa social que trabalha para a redução da poluição plástica.  “A produção de plástico deve dobrar até 2040”, afirmou Jo Royle, fundadora da Common Seas. “Temos o direito de saber o que todo esse plástico está fazendo com nossos corpos”, completa. A Common Seas, juntamente com mais de 80 ONGs, cientistas e parlamentares, estão pedindo um aporte de 15 milhões de euros ao governo do Reino Unido para pesquisas sobre os impactos do plástico na saúde humana. A União Europeia já está financiando pesquisas sobre o impacto do monoplástico em fetos e bebês e no sistema imunológico. Um estudo recente descobriu que os microplásticos podem se prender às membranas externas dos glóbulos vermelhos e limitar sua capacidade de transportar oxigênio. As partículas também foram encontradas nas placentas de mulheres grávidas e em ratazanas prenhas, que passam rapidamente para os corações, cérebros e outros órgãos dos fetos.

Um artigo de revisão publicado na terça-feira , de coautoria de Vethaak, avaliou o risco de câncer por essas partículas. “Pesquisas mais detalhadas sobre como micro e nanoplásticos afetam as estruturas e processos do corpo humano, e se podem transformar células e induzir a carcinogênese, são urgentemente necessárias, principalmente pelo aumento exponencial da produção de plástico. O problema está se tornando mais urgente a cada dia”, concluiu.

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