Um estudo feito em Wuhan, cidade chinesa berço do novo coronavírus, mostrou que metade dos pacientes que precisaram ser hospitalizados pela Covid-19 apresentam problemas de saúde um ano após a infecção. Os principais sintomas persistentes foram fadiga e fraqueza muscular. Além disso, um em cada três pacientes ainda sentia falta de ar. Dor e problemas psiquiátricos também estavam presentes.
“Nosso estudo é o maior até agora para avaliar os resultados de saúde de sobreviventes de Covid-19 hospitalizados após 12 meses de adoecimento. Embora a maioria tenha se recuperado bem, os problemas de saúde persistiram em alguns pacientes, especialmente aqueles que haviam estado gravemente enfermos durante a internação. Nossos resultados sugerem que a recuperação de alguns pacientes levará mais de um ano, e isso deve ser levado em consideração ao planejar a prestação de serviços de saúde pós-pandemia ”, disse Bin Cao, do National Center for Respiratory Medicine, China-Japan Friendship Hospital, em comunicado.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores acompanharam 1.276 pacientes com Covid-19 que receberam alta de um hospital em Wuhan entre janeiro e maio de 2020. Eles foram submetidos a exames de saúde detalhados após seis e 12 meses para avaliar possíveis sintomas contínuos e sua qualidade de vida relacionada à saúde.
Os resultados, publicados na quinta-feira, 26, na revista The Lancet, mostraram que, no geral, os sobreviventes da Covid-19 eram menos saudáveis do que pessoas da população que não haviam sido infectadas com o vírus. Por outro lado, os sintomas foram melhorando ao longo do tempo. A proporção de pacientes que ainda apresentam pelo menos um sintoma de longo prazo caiu de 68% após seis meses para 49% em 12 meses.
Fadiga ou fraqueza muscular foi o sintoma mais comumente relatado nos dois períodos. Após 12 meses da infecção, quase um terço dos pacientes relataram sentir falta de ar. O número foi ligeiramente maior do que o relatado seis meses antes. O problema também foi mais prevalente em pessoas que precisaram de ventilação mecânica durante a internação. Essas pessoas também foram mais propensas a sentir dor, desconforto, problemas de mobilidade, ansiedade e depressão.
Curiosamente, a proporção de pacientes que relataram problemas psiquiátricos um ano após a doença foi maior do que após seis meses. “Ainda não entendemos completamente por que os sintomas psiquiátricos são ligeiramente mais comuns em um ano do que em seis meses nos sobreviventes da Covid- 19. Isso pode ser causado por um processo biológico ligado à própria infecção do vírus ou pela resposta imunológica do corpo. Ou podem estar ligados à redução do contato social, solidão, recuperação incompleta da saúde física ou perda do emprego associada a doenças.”, disse Xiaoying Gu, um dos autores do estudo, do Instituto de Ciências Médicas Clínicas do Hospital da Amizade China-Japão.
Em comparação com os homens, as mulheres tinham 1,4 vezes mais probabilidade de relatar fadiga ou fraqueza muscular, duas vezes mais probabilidade de relatar ansiedade ou depressão e quase três vezes mais probabilidade de ter comprometimento da função pulmonar. As pessoas que foram tratadas com corticosteroides durante a fase aguda da doença também apresentaram um risco aumentado para fadiga ou fraqueza muscular. De acordo com os autores, essas descobertas serão importantes para entender melhor por que os sintomas da Covid-19 persistem em algumas pessoas.
“Grandes estudos de longo prazo de sobreviventes da Covid-19 são necessários para que possamos entender melhor as consequências de longo prazo para a saúde física e mental do Covid-19.”, ressalta Xiaoying Gu.