Abandonar de vez o consumo de carnes e, em casos mais extremos, de leite e seus derivados, ou mesmo de qualquer alimento de origem animal, é uma escolha de vida que lentamente tem ganhado adeptos. Existem no Brasil cerca de 30 milhões de vegetarianos e outros 7 milhões de veganos, fatia que deve crescer nos próximos anos. Há alguns fatores envolvidos nessa decisão, incluindo o zelo com o meio ambiente e as mudanças climáticas e uma opção por um estilo de vida mais saudável. No entanto, é preciso cuidado e bom senso.
Uma dieta sem carne nem leite pode ter consequências para o organismo. Um estudo feito pela Universidade de Leeds, na Inglaterra, aponta que mulheres vegetarianas e veganas têm maior chance de sofrer fraturas no quadril quando entram em idade avançada. Foram analisados dados de mais de 26 000 participantes ao longo de 22 anos, e a pesquisa mostra que o risco de ruptura óssea é um terço maior entre o grupo. Isso se deve, principalmente, a algumas deficiências na alimentação. “Para ter um osso saudável é preciso cálcio, vitamina D e proteína”, diz a nutricionista Rosana Perim Costa. O cálcio é encontrado, sobretudo, em leite e seus subprodutos, como queijo e coalhada. Dietas mais restritivas, porém, proíbem o consumo desse tipo de comida. É possível buscar compensações nas versões à base de soja ou amêndoas e em diversos suplementos e proteínas de origem vegetal. As opções são fartas em um mercado tremendamente pujante. O segmento de alimentos à base de plantas cresceu de 5 bilhões de dólares em 2018 para 7 bilhões em 2021 nos Estados Unidos.
Nem sempre, contudo, basta ter empenho com o que se leva à boca. Uma pesquisa recente realizada na Universidade de Viena, na Áustria, aponta outro caminho para preservar a saúde óssea daqueles que optam pelo veganismo e vegetarianismo. O trabalho revelou que a adesão firme desses indivíduos aos exercícios de força e resistência lhes confere ossos e músculos bem mais fortes em comparação aos que praticam atividades aeróbicas, como natação ou caminhada. Trata-se de uma ótima notícia. Ao optar por modalidades do gênero, essa população consegue se proteger de uma eventual fragilidade no sistema músculo-esquelético que pode desaguar em dores e sucessivas internações para tratar fraturas no final da vida.
Os estudiosos não sugerem, claro, que a prática de atividades aeróbicas seja abandonada. Elas são fundamentais para deixar bem azeitado o sistema cardiovascular, permitindo que coração e cérebro funcionem como o programado. Os pesquisadores enfatizam, contudo, que adeptos de dietas cujas restrições podem impactar a saúde óssea deem ênfase também aos treinos musculares mais pesados. Modalidades como crossfit, com seus movimentos explosivos, e artes marciais (leia mais no quadro) são indicadas para quem precisa fortalecer ossos e músculos sem abrir mão das escolhas alimentares.
A constatação de que é possível adotar uma dieta vegana e ainda assim competir em alto nível é a quantidade de atletas de elite que se tornaram garotos-propaganda da subtração de carne, leite etc. O piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton é um deles. O britânico se tornou vegano em 2017 e desde então se sagrou campeão nas pistas quatro vezes. Mantém uma rotina de exercícios em que equilibra resistência e força com a necessidade de manter o peso sob controle para não prejudicar a velocidade do carro. Hamilton não é o único. O ultramaratonista americano Scott Jurek, que venceu provas no mundo inteiro, o fisiculturista alemão Patrik Baboumian e o jogador de basquete da NBA DeAndre Jordan são alguns dos atletas veganos que encantam pela impressionante potência. Adotar uma dieta vegetariana ou vegana tem benefícios, como a redução nas inflamações sistêmicas e a manutenção do peso corporal. Mas envolve um acompanhamento para garantir que não haja deficiência na ingestão de micronutrientes e o compromisso firmado com os exercícios certos.
Publicado em VEJA de 24 de agosto de 2022, edição nº 2803