Uma análise global publicada no periódico The Lancet mostrou que o número de pessoas que vivem com obesidade passou de 1 bilhão e comprovou o cenário epidêmico da condição, principalmente entre os mais jovens: no período de 1990 a 2022, as taxas de obesidade quadruplicaram entre crianças e adolescentes. Entre adultos, as taxas saltaram de 8,8% para 18,5% em mulheres e quase triplicaram nos homens, passando de 4,8% para 14%. Diante dos achados, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que contribuiu com a coleta de dados, voltou a recomendar uma série de intervenções para reverter a tendência de crescimento do problema de saúde pública nos próximos anos (veja abaixo).
Segundo o levantamento, 159 milhões de crianças e adolescentes, da faixa etária de 5 a 19 anos, e 879 milhões de adultos viviam com obesidade no ano de 2022. Para realizar o estudo, mais de 1.500 investigadores se debruçaram nas medidas de peso e altura, usadas para calcular o índice de massa corporal (IMC), de 220 milhões de pessoas com 5 anos ou mais de 190 países.
Em adultos, considera-se que o paciente se enquadra no diagnóstico de obesidade quando o IMC é maior ou igual a 30kg/m². Para crianças e adolescentes, é necessário observar fatores como idade e sexo, além de considerar variações de altura e peso comuns nessa fase da vida.
“É muito preocupante que a epidemia de obesidade, que era evidente entre adultos em grande parte do mundo em 1990, se reflita agora em crianças e adolescentes em idade escolar. Ao mesmo tempo, centenas de milhões de pessoas ainda são afetadas pela subnutrição, especialmente em algumas das partes mais pobres do mundo. Para combater com sucesso ambas as formas de desnutrição, é vital melhorar significativamente a disponibilidade e o preço acessível de alimentos saudáveis e nutritivos”, declarou Majid Ezzati, professor do Imperial College London e principal autor do estudo.
Aumento da obesidade
O relatório mostra que o número total de crianças e adolescentes que vivem com obesidade teve um expressivo aumento, saindo de 31 milhões em 1990 para 159 milhões em 2022.
Estima-se que a população de adultos com obesidade seja de 878 milhões, dos quais 504 milhões são do sexo feminino. Nos anos 1990, eram 195 milhões de adultos vivendo com a condição no mundo.
“O estudo mostra que, em todos os países do mundo, em desenvolvimento e desenvolvidos, há um contínuo aumento do excesso de peso e da obesidade. Enquanto a taxa de desnutrição e baixo peso entre adolescentes e adultos brasileiros é pequena, em torno de 2 a 3%, as taxas de obesidade alcançam valores de 15% em média nos adolescentes e aproximadamente 30% nos adultos”, diz o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, professor da Unifesp e um dos autores brasileiros do trabalho.
“A previsão da maioria das pesquisas e das agências mundiais era de que chegaríamos aos números atuais só em 2030. Mas já passamos dessa marca, haja vista que os dados que utilizamos são dos últimos anos”, esclarece o médico.
“Este novo estudo destaca a importância de prevenir e controlar a obesidade desde o início da vida até à idade adulta, por meio de dieta, atividade física e cuidados adequados, conforme necessário”, destacou, em comunicado, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Regressar ao caminho certo para cumprir as metas globais de redução da obesidade exigirá o trabalho dos governos e das comunidades. É importante ressaltar que requer a cooperação do setor privado, que deve ser responsável pelos impactos dos seus produtos na saúde.”
A entidade relembrou que, durante a Assembleia Mundial da Saúde de 2022, os estados-membros adotaram o Plano de Aceleração da OMS para conter o avanço da epidemia da obesidade até 2030.
“Existem desafios significativos na implementação de políticas destinadas a garantir o acesso acessível a dietas saudáveis para todos e a criar ambientes que promovam a atividade física e estilos de vida saudáveis em geral para todos”, disse Francesco Branca, diretor do Departamento de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS e um dos coautores do estudo.
Veja as intervenções recomendadas pela OMS para conter a obesidade
- Ações para apoiar práticas saudáveis desde o primeiro dia, incluindo promoção, proteção e apoio à amamentação;
- Regulamentos sobre a comercialização prejudicial de alimentos e bebidas para crianças;
- Políticas de alimentação e nutrição escolar, incluindo iniciativas para regular a venda de produtos ricos em gorduras, açúcares e sal nas proximidades das escolas;
- Políticas fiscais e de preços para promover dietas saudáveis;
- Políticas de rotulagem nutricional;
- Campanhas de educação e sensibilização públicas para dietas saudáveis e exercício;
- Padrões para atividade física nas escolas;
- Integração dos serviços de prevenção e gestão da obesidade nos cuidados de saúde primários.