Depois de décadas de especulações, uma equipe de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Case Western Reserve, nos Estados Unidos, conseguiu desvendar como a insulina interage com as células do corpo. A descoberta pode melhorar drasticamente a qualidade de vida de pacientes com diabetes – ao acabar com a necessidade de injeções diárias. Segundo o estudo, publicado nesta quinta-feira no periódico Nature, o mecanismo de interação da insulina com seu receptor celular funciona como uma espécie de “aperto de mãos molecular”.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: How insulin engages its primary binding site on the insulin receptor
Onde foi divulgada: revista Nature
Quem fez: John G. Menting, Michael A. Weiss, Michael C. Lawrence e equipe
Instituição: Universidade Case Western Reserve, Universidade de Chicago, Universidade de York e Instituto de Química Orgânica e Bioquímica de Praga.
Resultado: Os pesquisadores descobriram que ao interagir com o receptor celular, a molécula de insulina e o próprio receptor sofrem alterações estruturais. Na interação, uma parte da molécula de insulina se dobra para fora, e peças importantes do receptor se movem para envolver o hormônio – agindo como um “aperto de mãos molecular”.
A descoberta foi feita por uma associação entre a Case Western Reserve, em Cleveland, nos Estados Unidos, a Universidade de Chicago, a Universidade de York (Grã-Bretanha) e o Instituto de Química Orgânica e Bioquímica de Praga. “Agora, podemos utilizar esses conhecimentos para elaborar tratamentos mais eficazes com insulina”, diz Mike Lawrence, pesquisador do Instituto de Pesquisa Médica Walter e Eliza Hall, na Austrália. Essa melhoria poderia representar, dizem os pesquisadores, o fim das injeções diárias de insulina. Espera-se ainda que em países emergentes se comece a produzir uma insulina mais estável, que resista a temperaturas elevadas sem refrigeração.
Pesquisa – Para conseguir energia, as células do corpo absorvem o açúcar proveniente dos alimentos. A glicose, no entanto, não consegue penetrar na membrana celular sem a ajuda da insulina, um hormônio secretado pelo pâncreas. Para absorver o açúcar, a maioria das células tem receptores de insulina, que se ligam ao hormônio, captando-o da corrente sanguínea.
No estudo, os pesquisadores reproduziram a interação entre insulina e receptores testando modelos estruturais com uso de metódos genético-moleculares. Com o procedimento, foi possível visualizar imagens altamente detalhadas e tridimensionais da interação. “Tanto a insulina quanto o seu receptor passam por um rearranjo quando interagem”, diz Lawrence. Segundo o pesquisador, após ocorrer essa interação, uma parte da molécula de insulina se dobra para fora, e partes do receptor se movem na direção do hormônio, envolvendo-o. “Você poderia chamar isso de um ‘aperto de mão molecular'”, diz.
Compreender os mecanismos de interação oferecem possibilidades para melhorar os tratamentos do diabetes – hoje feitos diariamente, com múltiplas injeções de insulina. A descoberta, de acordo com Weiss, pode oferecer alternativas às injeções, assim como reduzir o número de doses por dia.
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Diabetes – A destruição de células produtoras de insulina leva ao diabetes de tipo 1, enquanto problemas em seu funcionamento provocam a forma mais corrente da doença, o diabetes de tipo 2 (DT2). O diabetes DT2 afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Número que poderá ser duplicado nos próximos anos, devido à epidemia de obesidade e à vida sedentária acompanhada de alimentação rica em gordura e açúcar.
Alguns fatores genéticos também favorecem o aparecimento da doença. “Nós ainda não temos um tratamento para o diabetes, mas descobertas como a da fixação da insulina nos dão esperança de estarmos mais próximos”, diz Nicola Stokes, do Conselho Australiano de Diabetes. A doença é silenciosa: quando aparecem os sinais (sede, necessidade frequente de urinar, taxa de açúcar no sangue muito elevada), a doença já evolui há muitos anos. Durante esse período, a deterioração dos órgãos já começou.
O diabetes, muitas vezes associado à hipertensão e a taxas de colesterol altas, expõe a um risco maior de infarto cardíaco e de acidentes vasculares encefálicos. A doença pode também obrigar o paciente a fazer hemodiálise, e levar a amputações e à cegueira.
(Com agência France-Presse)