Uma possível relação entre os medicamentos à base de semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy, a episódios de ideação suicida levou a investigações, uma delas da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), e alertas de entidades médicas, inclusive brasileiras, sobre a necessidade de mais pesquisas sobre o tema. Agora, um robusto estudo realizado com suporte dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) apontou que usuários do remédio para obesidade e diabetes tipo 2 tiveram risco até 73% menor de pensamentos suicidas em relação a pessoas que fazem tratamento com outras drogas para essas condições.
Publicada no periódico Nature Medicine, a análise teve como ponto de partida a falta de estudos aprofundados sobre um cenário que era citado apenas em relatos. O caso mais divulgado, que levou à investigação da EMA, foi o episódio de três pacientes da Islândia que demonstraram pensamentos suicidas e de automutilação durante o tratamento.
Para o estudo, os pesquisadores analisaram registros de saúde de 240.618 pacientes com obesidade ou sobrepeso que fizeram uso de semaglutida ou outra medicação para reduzir o peso entre junho de 2021 e dezembro de 2022. A idade média dos participantes era 50 anos e 72,6% das pessoas avaliadas eram do sexo feminino. No grupo, 7.847 tinham histórico de ideação suicida. Para diabetes tipo 2, foram avaliados os dados de 1.589.855 pacientes em tratamento de dezembro de 2017 a maio de 2021, dos quais 16.970 tinham história prévia de pensamentos suicidas.
O histórico médico dos pacientes nos primeiros seis meses desde a prescrição da medicação mostrou que, entre os pacientes com obesidade, o risco de ideação suicida pela primeira vez era de 0,11% e de 7% entre os que tinham história prévia. Entre os que faziam uso de outros remédios para perda de peso, os índices foram de 0,43% e 14%, respectivamente.
“Em pacientes com diabetes tipo 2, a prescrição de semaglutida foi associada a 0,13% de risco de ideação suicida pela primeira vez e 10% de ideação recorrente, em comparação com 0,36% e 18%, respectivamente, para outros medicamentos para diabetes. Em comparação com outros medicamentos, a semaglutida também foi associada a um menor risco de ideação suicida pela primeira vez em pacientes com diabetes tipo 2 em períodos de acompanhamento mais longos (até três anos)”, diz comunicado do NIH.
O Ozempic é o mais famoso membro de uma classe recente de medicamentos, os análogos de GLP-1. Eles imitam o hormônio conhecido por essa sigla que naturalmente é produzido pelo intestino, desencadeando uma cascata de reações bioquímicas por trás da sensação de saciedade, do esvaziamento mais lento do estômago e da liberação otimizada de insulina para captar a glicose no sangue.
Ozempic falsificado
Amplificado por celebridades nas redes sociais, o medicamento tem sido usado de forma incorreta para emagrecer e começou a ser falsificado em países como Áustria e Alemanha. Lotes falsos também foram encontrados no Brasil.
No fim do ano passado, a Food and Drug Administration (FDA) emitiu alerta sobre o recolhimento de “milhares de unidades” falsas do remédio da farmacêutica Novo Nordisk.
Em comunicado, a agência reguladora americana informou que até as agulhas foram adulteradas, algo que compromete ainda mais a segurança do produto e oferece riscos adicionais aos usuários das canetas de semaglutida. A FDA disse ainda que cinco episódios de eventos adversos relacionados com o lote falsificado foram identificados.