A injeção bombou: o fenômeno Ozempic dominou o ano
Remédio para tratar o diabetes transpôs fronteiras e receituários médicos e se tornou sensação pop, instigando o emagrecimento de celebridades
Poucas vezes na história um remédio provocou uma ebulição como o Ozempic. A injeção semanal para tratar o diabetes transpôs fronteiras e receituários médicos e se tornou fenômeno pop, instigando o emagrecimento de celebridades e outros milhares de pessoas que, na surdina ou no holofote das redes sociais, buscaram e propagaram um atalho para perder peso. Barrigas enxutas, rostos murchos, glúteos derretidos… Eis o efeito Ozempic, que não se restringiu aos corpos dos pacientes. Catapultou a Novo Nordisk, seu laboratório, ao posto de mais valioso da Europa, engordou o PIB da Dinamarca, a pátria da farmacêutica, e movimentou as drogarias nos Estados Unidos a ponto de causar desabastecimento.
O sucesso no mercado não veio isento de polêmicas. Entidades médicas condenaram o uso fora da bula e sem acompanhamento médico, enquanto especialistas questionaram a utilização desenfreada. Exemplo clássico de uma boa solução sendo mal empregada. O fato é que a classe do Ozempic representa um divisor de águas no tratamento do diabetes e da obesidade. O princípio ativo, a semaglutida, hoje integra em outra dosagem o Wegovy, formulação especialmente desenhada para perda de peso que deve desembarcar no Brasil no primeiro semestre de 2024. Integra o mesmo pacote revolucionário a tirzepatida (Mounjaro), da Eli Lilly, que, também aprovada pela Anvisa, promete estrear no país no próximo ano. São medicamentos que resultam em índices inéditos de emagrecimento, chegando a mais de 20% de redução do peso corporal.
Resultado de anos de pesquisa, a nova safra de fármacos provou ser segura e eficaz para domar a glicemia e os quilos extras, reforçando o arsenal terapêutico de duas das condições mais prevalentes no mundo, o diabetes tipo 2 e a obesidade. E, claro, tornou-se um sonho de consumo para pessoas que não conseguem baixar o ponteiro da balança com os recursos atuais ou dependem tão somente da cirurgia bariátrica. Sonho que até pode virar pesadelo: o mercado paralelo, ligeiro, já começou a tentar tirar proveito do apelo, falsificando lotes de semaglutida — só no Brasil foram notificados dois episódios. É o efeito Ozempic… Em todos os sentidos.
Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2023, edição nº 2873