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Essa tal felicidade

O psicólogo Tal Ben-Shahar, autoridade mundial em como ser feliz, ensina que o essencial é ter bons relacionamentos. E expressar as emoções também ajuda

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 7 dez 2018, 07h00 - Publicado em 7 dez 2018, 07h00

A especialidade do psicólogo israelo-americano Tal Ben­-Shahar, de 48 anos, interessa a todo o mundo: ele é “professor de felicidade”. Ensinar às pessoas como ser feliz fez do curso que ministrou na Harvard (sob o prosaico nome de psicologia positiva) o mais concorrido da história da universidade — 20% dos alunos inscreveram-se para as aulas, que eram opcionais. “Comecei a me interessar pelo tema porque estava insatisfeito com minha vida, que, olhando de fora, não tinha problema nenhum”, diz Ben-Shahar, autor de dois best-sellers traduzidos para mais de 25 idiomas. Desvinculado do mundo acadêmico, hoje em dia ele se dedica a dar palestras sobre a ciência da felicidade e sobre liderança (este, tema de outro curso que organizou na Harvard e se tornou o terceiro mais popular da instituição). No sábado 8, Ben-­Shahar estará em São Paulo, a convite da Sociedade Brasileira de Coaching, para o lançamento da versão em português de mais um curso seu sobre psicologia positiva. Abaixo, os principais trechos de sua entrevista a VEJA.

FELICIDADE IRREAL 
“O que despertou meu interesse pela felicidade foi minha infelicidade. Eu estava no 2º ano de ciência da computação na Harvard, era excelente aluno, jogava squash no time da universidade, tinha amizades. E sentia-me inexplicavelmente infeliz. Numa manhã em que acordei especialmente deprimido, resolvi pedir transferência para filosofia e psicologia. Estava obcecado por duas questões: por que não sou feliz e como conseguir ficar mais feliz. Descobri que meu problema — e o da esmagadora maioria dos meus alunos — era ter um entendimento completamente equivocado e irreal sobre a natureza da felicidade.”

LEDO ENGANO 
“A impressão de que prazer extremo, prestígio na comunidade e ausência de emoções negativas são sinônimo de felicidade não é nova. Os filósofos da Antiguidade já sentiam a necessidade de desmentir esse mito. Aristóteles continuamente lembrava aos gregos que o sucesso exterior não leva à felicidade. A questão está ainda mais em voga agora, porque sobra tempo para pensar a respeito dela. Sem precisarem empenhar-se em garantir comida para o dia seguinte e abrigo para o próximo inverno, as pessoas se dão ao luxo, por assim dizer, de refletir e buscar sentido para a vida. O lado desagradável é que ficamos excessivamente exigentes.”

“Pessoas religiosas são mais felizes porque creem no sentido da vida. Mas ter fé não é condição. O ser humano pode ver sentido em qualquer coisa”

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ELES ACERTARAM 
“Inúmeros filósofos investigaram a natureza da felicidade. O primeiro a chegar perto do que a ciência veio a comprovar foi justamente Aristóteles. Ele dizia que os dois caminhos para ser feliz são a contemplação — que pode ser entendida como o hábito de cultivar habilidades intelectuais — e a amizade. O segundo foi Lao-Tsé, um dos pais da filosofia chinesa, que há 2 500 anos já pregava a necessidade de expressar as emoções negativas. Só mortos e psicopatas não têm sentimentos ruins.”

ELES ERRARAM 
“O francês René Descartes (1596-1650), considerado o pai da filosofia ocidental moderna, cometeu um equívoco gigante quando desenvolveu a tese de que a mente e o corpo são irreconciliáveis e não exercem influência entre si. Isso não apenas causou infelicidade a muita gente como afetou a saúde das pessoas. A ciência levou dois ou três séculos para investigar e provar que uma coisa afeta, sim, a outra, algo fartamente documentado. Outro equívoco partiu do alemão Immanuel Kant (1724-1804), que dizia que, se você se sente bem por ajudar alguém, esse ato perde valor moral. Isso impede que celebremos nossa natureza, que é sentir-se feliz por deixar o outro contente, algo também comprovado cientificamente.”

VIDA COM SENTIDO 
“As pesquisas mostram que pessoas religiosas são mais felizes. Uma das principais razões disso é a crença no sentido da vida. Mas é possível encontrar um propósito para a existência sem ter fé. O ser humano possui a capacidade de ver sentido em qualquer coisa. Você pode passar a vida preenchendo planilhas em um banco e convencer-se de que está ajudando os correntistas a cuidar das finanças.”

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AMIGOS PARA SEMPRE 
“Relacionamentos são o fator mais importante para determinar o grau de satisfação com a vida. E, por mais clichê que isso soe, 1 000 amigos no Facebook não substituem um amigo no mundo real, e ficar com a família não tem o mesmo efeito quando todos estão mexendo no celular. Meu conselho: reserve tempo para os amigos sem interrupções do WhatsApp. Falando especialmente de relacionamentos românticos, variar assuntos e ideias é mais importante do que viagens ou invenções sexuais.”

SIMPLIFIQUE
“Uma das minhas palavras de ordem é simplicidade, e levar uma vida simples requer fazer uma coisa de cada vez. Uma pesquisa mostrou que deixar o e-mail ou outra forma de comunicação abertos enquanto realizamos algum trabalho que necessite de concentração leva a uma perda de 10 pontos no Q.I., o equivalente a não dormir por 36 horas. É o preço a pagar por ser multitarefa.”

A RECEITA
“Israel, onde nasci, está em 11º lugar no ranking dos países mais felizes, à frente dos Estados Unidos, em 18º, e do Brasil, em 28º. Alguns fatores contribuem para isso. A cultura judaica prima pelo apego à família, o que reforça os relacionamentos. Um senso de pertencimento e propósito perpassa a nação, criada para abrigar um povo historicamente perseguido. E os israelenses, de modo geral, são muito emotivos. Ligar-se a outras pessoas, sentir-se incluído e manifestar emoções constitui parte importante da fórmula para a felicidade.”

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Publicado em VEJA de 12 de dezembro de 2018, edição nº 2612

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