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“É como se estivéssemos de mãos amarradas e os olhos, tampados”

A frase é de Isaac Schrarstzhaupt, coordenador na Rede Análise Covid-19, ao falar do impacto do apagão de dados sobre a doença no Ministério da Saúde

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jan 2022, 20h55 - Publicado em 6 jan 2022, 20h29

Antes do ataque hacker aos sites do Ministério da Saúde, no dia 10 de dezembro, as informações sobre infecções pelo coronavírus responsável pela Covid-19, internações e vacinação já tinham um atraso por causa da inserção de dados no sistema, realizada por estados e municípios. Desde o mês passado, o país vive um apagão, que interfere não só no conhecimento real sobre o avanço da pandemia no Brasil, mas no desenvolvimento de estratégias para o combate ao vírus.

Pesquisadores têm encontrado dificuldade para acompanhar a evolução da doença e relatam que estão em voo cego no momento em que o mundo bate recordes de casos e países adotam medidas para conter a variante de preocupação ômicron.

No balanço do Ministério da Saúde desta quarta-feira, 5, foram confirmados 27.267 novos casos da doença e, na mesma data, foram registrados 265 casos de ômicron e outros 520 estão em investigação. As primeiras notificações no Brasil ocorreram em 30 de novembro. O país também registrou o primeiro óbito da doença causada por ômicron.

Para se ter uma ideia, um levantamento com 640 testes positivos de 1 a 25 de dezembro realizado pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS) em parceria com os laboratórios particulares Dasa e DB Molecular encontrou a nova cepa em 31,7% das infecções. Na análise de 337 amostras entre 26 de dezembro e 1º de janeiro, o índice foi de 92,6%.

Em coletiva no fim do ano passado, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que a pasta continua recebendo as informações dos estados e municípios e realizando a vigilância. “Não estar público não significa dizer que estamos trabalhando às escuras”, declarou.

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O analista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador na Rede Análise Covid-19 – coleta, interpreta e divulga dados sobre a doença no Brasil –  falou a VEJA sobre a situação e seus impactos para o país. “É como se eu estivesse trabalhando com as mãos amarradas e, agora, me taparam os olhos. A sensação é de impotência.” Leia os principais trechos da entrevista.

Qual foi o primeiro impacto do apagão de dados notado por vocês?
Foi ficar sem os dados de vacinação. Depois, sem o sistema de vigilância epidemiológica, que já tem um atraso natural. Os dados que estão lá são de 29 de novembro. Então, sabemos que aqueles são dados do começo de novembro.

E o que causa esses atrasos naturais?
Ao fazer a internação hospitalar, cada estado tem o seu jeito de colocar no sistema. Alguns hospitais, mandam para a secretaria de saúde digitar. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o hospital preenche no Sivep-Gripe (o sistema de Notificações de Síndromes Respiratórias Agudas Graves). Por isso que cada estado tem o seu atraso.

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Qual o cenário de recuperação de dados no momento?
Temos os dados das secretarias estaduais, mas algumas confiaram no sistema federal, que tabulava e mandava de volta. É importante saber que temos sistemas diferentes. O Sivep-Gripe, para casos graves e óbitos, e o e-SUS, para casos leves. Quando a gente entra no site do Ministério da Saúde, desde 21 de dezembro tem uma queda. Então, os dados deveriam ser marcados como inconfiáveis.

Quais as consequências disso?
O impacto, neste momento, é que não sabemos quais decisões tomar nas políticas públicas. Enquanto isso,  laboratórios privados e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) estão lotadas.

Estamos vendo uma explosão de casos de ômicron no mundo e uma evolução lenta no Brasil. Também é um reflexo desta situação?
A gente já tinha um problema de poucos testes e casos notificados. Tem a positividade dos testes. Quando sobe acima de 20%, 30%, o que os países europeus fazem? Aumentam a quantidade de testes para descobrir os bairros e municípios com mais casos. Aqui, quando pega a positividade dos laboratórios privados, vemos que aumenta de 1% para 10%. Se a gente vê o salto gigantesco, provavelmente entrou uma variante.

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A testagem é um problema a ser resolvido no Brasil?
Deveria ser uma política pública. A testagem sempre foi reativa no Brasil. Na testagem ativa, é possível ver possíveis surtos. O caso é um indicador de plantio. A hospitalização e óbito são a colheita.

O que podemos esperar quando todos os dados voltarem?
Represamento, porque tem de digitar tudo isso e calcular tudo que ficou represado no período. Quando calcular o Sivep, teremos o agente causador, para ver se é Influenza ou coronavírus. São trinta dias de atraso, mais trinta para digitação. Se voltar até 15 de janeiro, deve se estender até 15 de fevereiro. A gente precisa do dado da cobertura vacinal, que não é atualizado desde 7 de dezembro. Não sabemos se as pessoas estão se vacinando, se estagnou.

Como vocês, que trabalham com essas informações e as divulgam para a população, estão se sentindo diante disso?
É como se eu estivesse trabalhando com as mãos amarradas e, agora, me taparam os olhos. Foram tiradas as poucas possibilidades de monitorar a situação. A sensação é de impotência porque a gente não consegue os dados mesmo indo de secretaria em secretaria.

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Abaixo, os números da vacinação no Brasil:

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