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Conheça os 14 fatores para diminuir a propensão a uma demência

Segundo estudo global, cuidados com a saúde ocular e o colesterol podem influenciar significativamente a prevenção e o adiamento de Alzheimer e outras doenças

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 ago 2024, 10h15 - Publicado em 5 ago 2024, 10h14

Cerca de 45%, dos casos de demência no mundo poderiam ser prevenidos ou adiados, de acordo com um estudo publicado na revista científica The Lancet. A pesquisa, realizada por especialistas de vários países, identificou 14 fatores de risco modificáveis que, se abordados desde a infância até a velhice, poderiam reduzir significativamente o risco de Alzheimer e outras condições por trás do colapso cognitivo.

Os 14 fatores de risco

Os pesquisadores identificaram dois novos fatores de risco associados à demência, além dos 12 previamente identificados pela Comissão Lancet em 2020. Esses novos fatores são:

  • Colesterol LDL elevado: aproximadamente 7% dos casos de demência estão ligados ao colesterol LDL (conhecido como colesterol “ruim”) elevado a partir dos 40 anos.

Estudos prévios já apontavam que a composição da dieta e o estado metabólico podem influenciar a composição de gordura na membrana dos neurônios. Em 2023, cientistas da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida do Texas A&M, nos Estados Unidos, descobriram que certos lipídios podem aumentar a toxicidade das proteínas beta-amiloide, que desempenham um papel no desenvolvimento da doença de Alzheimer.

  • Perda de visão: cerca de 2% dos casos são atribuíveis à perda de visão não tratada na idade avançada. O déficit visual pode ser causado por doenças como catarata, glaucoma e degeneração macular. 

Há cada vez mais evidências da conexão entre a saúde ocular e a do cérebro, especificamente como a visão afeta a função cognitiva. Ainda em 2020, um estudo associou a perda de visão em pessoas com mais de 71 anos ao desenvolvimento da demência.

Publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) Ophthalmology, a pesquisa trouxe uma análise de de dados de quase 3 mil cidadãos americanos com mais de sete décadas de vida.

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E em maio deste ano, outro artigo, também publicado no JAMA, sugeriu que tratar a catarata está associado a um risco 30% menor de que adultos com 65 anos de idade ou mais venham a desenvolver doença de Alzheimer ou outros tipos de demência. 

Os 12 fatores consolidados

Segundo especialistas, até 40% dos casos de demência podem ser influenciados por 14 fatores de risco preveníveis ou mitigáveis. São 12 anteriormente mapeados, que se somam ao colesterol LDL elevado e a perda de visão, que acabam de integrar a lista:

  • Baixo Nível Educacional
  • Perda Auditiva
  • Hipertensão
  • Tabagismo
  • Obesidade
  • Depressão
  • Falta de Atividade Física
  • Diabetes
  • Consumo Excessivo de Álcool
  • Lesões Graves na Cabeça
  • Poluição do Ar
  • Isolamento Social
  • Colesterol LDL elevado
  • Perda da visão

Saúde auditiva e saúde mental

Um dos aspectos mais relevantes apontados pelo relatório da Comissão Lancet é o papel protetor do uso de aparelhos auditivos. “Eles não apenas melhoram a audição, mas também podem prevenir problemas cognitivos associados à privação sensorial”, diz Celene Pinheiro, geriatra e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), que participou da Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC), na Filadélfia (EUA), na qual o relatório da Comissão Lancet foi apresentado nesta quarta-feira, 31 de julho

Além disso, estudos compilados pela Comissão Lancet indicam que o tratamento adequado da depressão, seja por meio de psicoterapia ou medicamentos, pode reduzir o risco de desenvolver demências, como o Alzheimer. “Cuidar da saúde mental é fundamental para preservar a saúde cerebral a longo prazo”, afirma Pinheiro.

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A ameaça crescente da demência

De acordo com o estudo Brazilian Longitudinal Study of Aging (ELSI-Brasil) de 2023, o diagnóstico de demência em pessoas com 60 anos ou mais atinge quase 2 milhões de brasileiros, representando cerca de 5,8% da população. Outros 2,7 milhões de brasileiros nessa faixa etária foram diagnosticados com algum comprometimento cognitivo, mas ainda não desenvolveram demência. Essa parcela representa 8,1% da população do país.

O estudo também revela que apenas 1,2% da amostra selecionada tinha um diagnóstico prévio de demência. Isso comprova que a doença é subdiagnosticada no Brasil, e a realidade da prevalência pode ser ainda maior. “Infelizmente, a maioria das pessoas com demência é diagnosticada em estágios avançados da doença, perdendo a oportunidade de se beneficiar das intervenções disponíveis e de se preparar para o futuro”, reforça Phelipe Cabral Nobre, terapeuta ocupacional e vice-presidente da ABRAz.

Em todo o mundo, estima-se que o número de pessoas acometidas pelo Alzheimer número chegue a 57 milhões, com previsão para quase triplicar, atingindo 153 milhões até 2050, devido ao envelhecimento da população. Esse aumento representa uma ameaça crescente para os sistemas de saúde e assistência social, com custos globais já excedendo 1 trilhão de dólares por ano. 

Outro estudo, publicado no Lancet Healthy Longevity, modelou o impacto econômico de intervenções preventivas na Inglaterra e revelou resultados promissores. Os pesquisadores estimaram que, ao adotar essas práticas, poderia haver uma redução significativa nas taxas de demência, o que por sua vez resultaria em economias de cerca de 4 bilhões de libras.

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Esse valor se deve ao menor custo com cuidados de saúde, tratamentos e suporte para pessoas com demência, além da melhora da qualidade de vida e do aumento da longevidade saudável entre a população. “Investir em estratégias para reduzir o risco não apenas economiza recursos, mas também permite que as pessoas vivam mais e com menos prejuízo em sua funcionalidade cognitiva”, ressalta Celene.

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