Com quase 3 milhões de casos de dengue, Brasil supera mortes de 2023
País bate recorde de notificações e óbitos de toda a série histórica do Ministério da Saúde, iniciada em 2000; há 1.807 mortes em investigação
O Brasil ultrapassou nesta segunda-feira, 8, o número de mortes por dengue registrados em todo o ano passado, segundo o painel de monitoramento das arboviroses do Ministério da Saúde. Em 2023, foram 1.094 óbitos. Nas primeiras 14 semanas do ano, o painel contabiliza 1.116 mortes. O país tem quase 3 milhões de casos da doença causada pelo mosquito Aedes aegypti. Com a atualização, o ano de 2024 já bateu os recordes de episódios e mortes pela doença da série histórica com dados desde o ano 2000.
De acordo com o levantamento, o Brasil registrou 2.963.994 casos de dengue em menos de quatro meses. Em todo o ano passado, foram 1.658.816. Antes disso, a maior crise da doença tinha ocorrido em 2015, quando foram feitas 1.688.688 notificações. Em relação às mortes, o ano passado mantinha o recorde, seguido por 2022, que registrou 1.053 óbitos.
Até o momento, 1.807 mortes estão em investigação. O fato desse número estar elevado tem gerado questionamentos em relação à possível falta de celeridade para apresentar a causa dos óbitos. O ministério explica que, como a dengue é uma doença de notificação compulsória, é necessário realizar um processo de apuração clínica, epidemiológica e laboratorial.
Informa ainda que a área de vigilância dos municípios tem até 60 dias para finalizar a investigação e lançar as informações sobre o óbito no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
“Alguns casos de maior gravidade podem não ter tido coleta de amostras e em algumas situações essa coleta e todo o diagnóstico laboratorial ocorre muito posterior à morte, por meio dos serviços municipais e estaduais de verificação de óbitos”, informou a pasta em nota divulgada na última quarta-feira, 3.
Surto de dengue
O Brasil enfrenta uma forte alta de casos de dengue desde as primeiras semanas de 2024 e, em menos de três meses, o número de casos no país já ultrapassou os registros de todo o ano de 2023.
No início de fevereiro, o ministério divulgou a estimativa de que o número de casos de dengue no país pode chegar a 4,2 milhões em 2024, índice que seria um recorde.
Vacina contra a dengue
O Distrito Federal e o estado de Goiás foram os primeiros a receber doses da vacina contra a dengue, dando início à campanha de imunização que, no momento, está concentrada na faixa dos 10 aos 14 anos de idade. Além dessas localidades, Acre, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins também receberão doses, que seriam distribuídas, inicialmente, a 521 municípios. Como doses não foram utilizadas e algumas estavam perto do vencimento, o ministério fez uma redistribuição e incluiu novas cidades na lista.
Eles foram selecionados por serem locais com mais de 100 mil habitantes que estão com predominância do sorotipo 2 da doença e tiveram números altos de notificações desde o ano passado. Também são pontos que registraram índices elevados de infecção nos últimos dez anos.
O grupo prioritário foi escolhido por ser o mais afetado por episódios que levam à internação.
Em outubro do ano passado, a OMS recomendou a vacinação contra a doença com foco principalmente em crianças e adolescentes de 6 a 16 anos em países endêmicos, caso do Brasil. Por aqui, o imunizante Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) meses antes, em março.
O Ministério da Saúde seguiu a recomendação da entidade e vai ofertar o imunizante para essa faixa etária. Com a medida, o Brasil se tornou o primeiro país a incluir a vacina no sistema público de saúde.
Reações adversas da vacina
O Ministério da Saúde apresentou esclarecimentos sobre uma nota técnica com dados sobre eventos adversos relacionados à vacina contra dengue, a Qdenga, incorporada no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e aplicada no público de 10 a 14 anos.
Segundo o documento, entre as 365 mil doses aplicadas das redes pública e privada, foram relatadas 529 notificações, das quais 70 foram reações alérgicas, como hipersensibilidade e anafilaxia.
Os casos são considerados raros e especialistas recomendam que os pais continuem levando filhos a postos de vacinação para protegê-los contra infecção causada pelo mosquito Aedes aegypti.