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Cientistas avançam com tratamento sem quimioterapia em tipo de câncer

Estudo apresentado na ASCO mostra bons resultados para câncer de mama HER2-positivo em estágio inicial, com remissão do tumor e sem recorrência em 3 anos

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2023, 10h55 - Publicado em 3 jun 2023, 07h02

Um estudo apresentado na tarde de sexta-feira 2, no congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) de 2023, em Chicago, nos Estados Unidos, trouxe boas notícias a pacientes com câncer de mama. A pesquisa internacional, aplaudida pela comunidade médica, mostrou resultados positivos de um estudo clínico de um potencial tratamento sem uso de quimioterapia para o tumor HER2-positivo – que representa cerca de 20% dos casos de câncer de mama – em estágio inicial.

Intitulado PHERGain, o estudo financiado pela empresa espanhola MEDSIR, foi realizado com 356 pacientes de 45 centros em sete países europeus, para avaliar a viabilização de uma estratégia terapêutica adaptada a redução gradativa da quimioterapia, com base na resposta observada por exames de tomografia de emissão de pósitrons (PET) e resposta patológica completa (pCR).

Durante a pesquisa, 98,9% das pacientes que seguiram essa estratégia de diminuição gradual da quimioterapia proposta pelo estudo, permaneceram livres de câncer nos três anos seguintes desde a remoção do tumor. São resultados considerados relevantes uma vez que, entre essas mulheres, cerca de 30% delas não receberam quimioterapia em nenhum momento do seu tratamento.

“Este estudo oferece uma potencial opção terapêutica que permite reduzir significativamente a toxicidade e melhorar a qualidade de vida desta população de pacientes sem reduzir a eficácia do tratamento”, diz Javier Cortés, cofundador de MEDSIR, professor da Universidade Europeia de Madri e diretor do International Breast Cancer Center (Barcelona e Madrid). “Sem dúvida, a descoberta mais relevante deste ensaio é que 99% do subgrupo de pacientes que recebeu terapia anti-HER2 sem quimioterapia, não apresentou recorrência da doença durante os 3 anos de acompanhamento”.

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A saber, o estudo clínico fase 2, controlado e randomizado, é voltado para o tratamento desse tipo de câncer de mama, Her2 positivo, um tumor agressivo, de aparecimento e crescimento muito rápido, mas altamente responsivo à quimioterapia. “Em geral, o tratamento aniquila esse tipo de tumor e os pacientes têm taxas de cura muito altas. Foram muitos os progressos de drogas seletivas contra esse alvo, o subtipo HER2”, comenta o oncologista clínico Max Mano, líder da especialidade de câncer de mama no Grupo Oncoclínicas, em São Paulo. “O problema é que o tratamento foi ficando um pouco pesado. Envolve uma quimioterapia de cinco a seis meses, com todos os efeitos colaterais associados, e hoje o foco é diminuir a agressividade do tratamento, tentando manter a eficácia”, completa.

Segundo o especialista, existem várias estratégias para alcançar esse objetivo. Uma delas é exatamente reduzir o número de ciclos de quimioterapia, associando-o ou substituindo por uma terapia alvo, utilizando dois anticorpos monoclonais – estruturas quase idênticas aos anticorpos naturais de defesa do organismo, mas produzidos em laboratório e preparados para atacar alvos específicos nos tumores – trastuzumabe e pertuzumabe, como é feito no estudo Phergain. “Quando a quimioterapia é retirada gradativamente e administra-se drogas como essas ou similares, 30%, 40% dos tumores conseguem ter uma regressão total. O que a gente não tinha ainda era muita informação sobre como esses pacientes vão a longo prazo, se vão ou não desenvolver casos de recorrência à doença em um, dois ou três anos”, explica o médico, autor de recente artigo editorial sobre a tendência do “Treatment de-escalalation” na Annals of Translational Medicine, publicação científica internacional. “O que é mostrado nesse novo estudo é justamente isso: um grupo de pacientes, que nunca fez nenhuma terapia, só os dois anticorpos, e atingiram uma resposta completa do tumor, sem recorrência da doença após três anos. Algo muito importante”.

Mesmo com resultados positivos, porém, há que se ponderar que é consenso que a quimioterapia ocupa lugar importante no combate ao câncer e que este estudo, assim como outros na mesma linha, ainda não é suficiente para mudar completamente a prática clínica. Os tumores precisam ser acompanhados por mais tempo. Além disso, o número de pacientes estudados é relativamente pequeno. “Precisamos de mais pesquisas que mostrem a mesma coisa, com dados parecidos, nos atestando a segurança de se fazer uma estratégia desse tipo”, pontua o médico.

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Ainda assim, com cautela, a mensagem é positiva e o estudo reforça que busca pela estratégia de reduzir a agressividade do tratamento – o termo aportuguesado seria descalonamento – para esse tipo de câncer é o caminho a ser seguido pela medicina. “Esses resultados nos aproximam ao fim da quimioterapia para uma porcentagem importante de pacientes com esse tipo de tumor”, afirma Llombart-Cussac, cofundador da MEDSIR e chefe de serviço do Hospital Arnau de Vilanova de Valência, na Espanha.

Na oncologia moderna, menos agressividade dos tratamentos não significa menor eficácia. “Este estudo avança em um ponto muito importante: a individualização do cuidado do paciente oncológico. O tratamento padrão para esta população inclui o uso de quimioterapia, mas estes dados mostram que precisamos de informações mais consistentes para decidir o remédio ideal para cada paciente e cada tipo de câncer de mama”, diz o oncologista Bruno Ferrari, fundador e CEO do Grupo Oncoclínicas, que adquiriu 49% da MEDSIR em 2022. “Há um entendimento geral sobre a necessidade de informações mais individualizadas para decidir o tratamento ideal para cada paciente, e, de fato, temos visto avanços neste sentido com o desenvolvimento da medicina de precisão e ampliação do arsenal terapêutico. Com isso, a redução do espaço de tratamentos menos precisos e mais tóxicos como a quimioterapia nos tratamentos tende a ocorrer naturalmente”, finaliza.

Javier Cortés, cofundador de MEDSIR, apresenta estudo no congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) de 2023, em Chicago, nos EUA
Javier Cortés, cofundador de MEDSIR, apresenta estudo no congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) de 2023, em Chicago, nos EUA (Divulgação/Divulgação)
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