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Caso raro: mulher passa 12 anos sem conseguir falar

Marie McCreadie era uma criança normal quando, de repente, não conseguiu mais falar ou fazer qualquer barulho

Por Redação
Atualizado em 15 out 2019, 19h57 - Publicado em 15 out 2019, 19h20
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  • Você já imaginou como seria sua vida se não pudesse falar? Se perdesse sua voz neste exato momento, o que aconteceria? Enquanto você considera as respostas, imaginando que isso provavelmente nunca vai acontecer, Marie McCreadie, de 60 anos, sentiu na pele essa experiência assustadora. Aos 13 anos de idade, a britânica – que tinha nascido uma criança normal, sem qualquer deficiência – perdeu a voz do dia para a noite.

    Ao longo de 12 anos, ela não conseguia emitir qualquer som. Então, de repente, aos 25 anos, ela recuperou magicamente a capacidade de falar. Mas o que levou Marie a ficar sem voz por tanto tempo? Durante anos, nem os médicos conseguiram descobrir a causa do problema.

    Décadas depois de recuperar a voz, ela decidiu revelar sua jornada no livro “Voiceless” (Sem voz, em tradução livre), lançado em julho deste ano.

    A viagem

    A história de Marie começa na década de 1970. Poucos meses antes de perder a voz, a menina se mudou do Reino Unido para a Austrália. Nesse período ela ainda conseguia falar. A viagem pareceu tê-la deixado animada, mas como toda mudança, Marie precisou se adaptar a nova rotina. Mas, antes que estivesse completamente acostumada, o incidente aconteceu.

    Sem voz

    Um dia, Marie acordou com uma forte dor de garganta e um resfriado. Dois dias depois, ela teve bronquite. Durante uma semana, ela sentiu irritação e forte dor na garganta e também febre. Mas, nos dias subsequentes, a temperatura foi caindo e a infecção desapareceu. “Eu comecei a me sentir melhor e ‘normal’… mas, depois de umas seis semanas, minha voz não voltou”, contou Marie à BBC. A partir desse momento, ela não conseguiu mais se comunicar por meio de sons.

    Sem entender o que estava acontecendo, Marie foi levada ao médico, mas o diagnóstico parecia errado. “A princípio diagnosticaram uma laringite e depois disseram que se tratava de mudez histérica”, disse. A mudez histérica é um transtorno da função vocal que ocorre sem que haja qualquer alteração no corpo. O termo, que começou a ser utilizado no século 19, era usado para indicar pessoas que se recusavam a falar por vontade própria.

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    Marie discordava fortemente do diagnóstico, pois tudo o que queria era ser capaz de falar.

    Os traumas

    Assim como na mudança para a Austrália, Marie precisou se adaptar à triste realidade. E sentiu muita dificuldade para viver sem voz. “O telefone, por exemplo. Não podia marcar um corte de cabelo ou uma consulta médica. E se estava em apuros ou sofria um acidente tampouco podia gritar”, contou. Certo dia, durante um passeio pela montanha, Marie ficou atolada e não pode gritar por ajuda. “Me dei conta de que tinha de ser mais cuidadosa”, revelou.

    Além do medo que sentiu naquele dia, Marie precisou enfrentar muitos preconceitos e traumas durante os anos que ficou sem voz. Na escola, por exemplo, havia um coral, cuja participação era obrigatória, mas sem poder cantar como as outras crianças, ela foi retirada. Para se comunicar com os amigos, precisava se caderno de notas e lápis, mas ela não conseguia participar ativamente das conversas.

    Por estudar em um colégio católico, muitos boatos sobre as causas da sua condição começaram a surgir. “Uma freira, ao saber que não havia uma razão física que me impedisse de falar, disse que Deus estava me castigando e havia me deixado sem voz”, relembrou. Logo ela foi aconselhada a confessar seus pecados para que recuperasse a voz. Sem se sentir culpada por nada, Marie se recusou a fazê-lo. Por causa disso, foi proibida de entrar na igreja.

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    “As meninas costumavam me chamar de mulher do diabo. Nesse momento, comecei a acreditar neles e a pensar que era diabólica, que pertencia ao diabo, que Cristo não queria olhar para mim, que não era parte da cristandade, que era uma bruxa”, contou.

    Já os vizinhos achavam que ela estava louca. Um amigo de sua mãe chegou a sugerir que ela fosse abandonada “porque não se sabe o que pessoas como ela podem fazer”.

    A internação

    Aos 14 anos, Marie já não suportava mais as dificuldades e tentou tirar a própria vida. Depois de receber atendimento médico e se recuperar da tentativa de suicídio, ela foi internada em um hospital psiquiátrico. Lá, as terapias com choques elétricos eram comuns; muitas vezes ela ouviu os gritos de outros pacientes. Ela chegou a passar por uma sessão. “Era como uma câmera de tortura. Muito cruel”, disse.

    Assustada com o que via e ouvia no local, ela decidiu fugir e foi recebida na casa de um amigo. Em seguida, a adolescente foi mandada para casa, mas sentiu que a relação com seus pais estava prejudicada. Os traumas que tinha vivido fez com que desenvolvesse medo das pessoas. “Não queria ver ninguém, a pouca confiança que tinha nas pessoas desapareceu no hospital psiquiátrico”. Ela passou seis meses isolada.

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    Seguir em frente

    Depois de perceber que não recuperaria mais a voz, Marie decidiu retomar sua vida. Começou a trabalhar no café que sua mãe administrava e aprendeu a língua de sinais. Também voltou a estudar e aprendeu mecanografia (ou datilografia) para usar a máquina de escrever. Embora não tivesse resolvido todos os problemas, o começo de sua vida adulta foi relativamente normal.

    O retorno da voz

    Aos 25 anos, Marie levou outro susto. Um dia enquanto estava trabalhando começou a se sentir mal. “Comecei a tossir e começou a sair sangue da minha boca. Pensei que estava morrendo. Podia sentir algo se movendo no fundo da minha garganta”, contou. Ela foi levada ao hospital.

    Durante o atendimento, os médicos notaram que havia algo na garganta dela e o extraíram. O objeto nada mais era do que uma moeda que havia se alojado na garganta de Marie anos antes. Os médicos acreditam que o objeto tenha ficado ao lado das cordas vocais, impedindo que elas vibrassem e emitissem sons. Por causa da posição em que ficou, não foi possível detectá-la, o que permitiu que ficasse ali por anos.

    Até hoje, Marie diz não saber como a moeda foi parar em sua garganta. Mas assim que foi retirada, Marie recuperou a voz. “Pude sentir o som na minha garganta, gemidos, soluços. No início, não sabia de onde vinha esse ruído. Fiquei em choque”, revelou.

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    Após passar tanto tempo sem falar, ela precisou reaprender a respirar e a moderar o tom da voz. Sua primeira ligação telefônica foi para a mãe, que chorou de emoção. Com o retorno da voz, Marie decidiu participar do coral local para fazer as pazes com o passado.

    Já a fatídica moeda fica guardada em uma pulseira que Marie usa de vez em quando.

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