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Caso raro: americano entra na puberdade aos 2 anos de idade

Patrick Burleigh, hoje com 34 anos, tem testotoxicose, condição causada por uma mutação genética rara que afeta a produção hormonal masculina

Por Redação
Atualizado em 26 jun 2019, 19h36 - Publicado em 26 jun 2019, 16h12

A puberdade é a fase da vida em que ocorrem modificações no corpo de uma criança, fazendo com que ela se torne um adulto. Em meninas, ela ocorre entre 8 e 13 anos e em meninos, entre 9 e 14 anos de idade. Mas existe uma condição genética rara, conhecida como testotoxicose, que pode fazer com que os meninos passem pela puberdade muito antes disso. Este foi o caso de Patrick Burleigh:  aos 2 anos de idade, ele passou pelas mudanças características da puberdade, como crescimento dos pelos e oscilações de humor, segundo informações da BBC.

De acordo com Patrick , hoje com 34 anos, essa condição hereditária está presente nos homens de sua família há gerações. Por causa disso, quando ele nasceu, seus pais já sabiam que ele tinha 50% de chance de herdá-la. A puberdade precoce, como também é chamada, é provocada por mutações do gene do receptor LH, cuja função é impulsionar a ovulação nas mulheres e a produção de testosterona nos homens. Essa mutação faz com que os testículos comecem a produzir o hormônio muito cedo. “Quando tinha 2 anos e meus primeiros pelos pubianos surgiram, não foi uma surpresa”, disse à BBC.

Apesar de ser criança, o menino tinha o corpo muito desenvolvido para sua idade — aos 5 anos, por exemplo, já aparentava ter 10. Isso fez com que Patrick se sentisse muito deslocado socialmente. “Não me encaixava na escola e no mundo em geral. Isso marcou minha infância desde muito cedo”, revelou.

Desconforto social

A mutação também provocou muitos desconfortos ao longo da infância. Ele contou que certa vez sua mãe foi praticamente expulsa de um banheiro feminino por causa dele. “Como eu tinha pelos pubianos e parecia ser muito mais velho, uma mulher repreendeu minha mãe, gritou com a gente e nos envergonhou. Minha mãe tentou explicar, mas as pessoas geralmente não acreditavam por ser algo muito raro e estranho”, contou.

Essa foi uma das muitas situações difíceis que sua mãe precisou enfrentar por causa dele. Embora tenha sido emocionalmente exaustivo, ela sempre o defendeu. O que não aconteceu com seu pai, mesmo que ele tivesse passado pela mesma situação. “Por uma série de razões, sua infância foi bem traumática, então, ele não queria falar disso e nunca sentou comigo quando eu era criança para me explicar o que eu estava sentindo e como lidar com aquilo”, lamentou Patrick.

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O tratamento

Na época em que ele começou a passar pelas mudanças hormonais, seus pais buscaram ajuda médica. Através de uma anúncio de jornal, sua mãe soube que havia uma equipe de pesquisadores recrutando pessoas com a mesma condição para participar de um estudo. Sua participação na pesquisa consistia em ficar uma semana no hospital a cada seis meses. Em troca, ele recebia tratamento gratuito. Como a família não tinha muito dinheiro, essa troca foi extremamente importante.

Patrick fez parte do primeiro grupo de meninos com testotoxicose a receber tratamento médico para a condição. “Eles testavam coquetéis de drogas e só conseguiram encontrar um que funcionasse bem quando tinha 8 ou 9 anos”. A intervenção terapêutica era feita por meio de uma combinação de drogas para desacelerar o processo de amadurecimento do corpo. Segundo ele, a solução médica não chegou rápido o suficiente.

Criança-problema

Durante a puberdade, os hormônios mudam não apenas o corpo, mas o comportamento das pessoas. No caso de Patrick, que nem sequer teve a chance de ganhar uma mínima experiência de vida para entender as mudanças, os efeitos foram avassaladores. “Eu não tinha controle dos meus impulsos, então, era agressivo. Como eu era grande e peludo, implicavam comigo e minha reação era sempre brigar”.

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Ele se meteu em muitos problemas no ensino básico. Por causa disso, foi batizado de “criança-problema”. Embora não gostasse de ser visto dessa maneira, acabou aceitando o rótulo: aos 9 anos, já fumava cigarro e maconha. A situação piorou depois que o tratamento foi suspenso.

Aos 12 anos, os pesquisadores concluíram que seu corpo e idade haviam finalmente se alinhado. As medicações foram interrompidas de uma vez, ou seja, não havia mais o único mecanismo que segurava os efeitos mais drásticos da testosterona. “Isso amplificou aquele meu padrão de mau comportamento. As coisas pioraram”, disse.

Uma noite ele conseguiu um pouco de LSD, uma droga alucinógena ilegal, e usou escondido dos pais. Na manhã seguinte, ainda sob o efeito do entorpecente, ele disse que estava doente e não queria ir para a escola. Os pais, acostumados a ouvir a mesma desculpa, o forçaram a ir. Com uma dose restante de LSD, ele chegou a escola e ofereceu para os colegas, que recusaram. Mesmo sem querer usar a droga, alguém achou que seria divertido colocar na bebida de outra pessoa.

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“Uma hora depois, estava na aula quando a minha amiga que tomou o LSD sem saber entrou em desespero, me abraçou e começou a chorar porque não entendia o que estava acontecendo. Ela foi levada para a enfermaria e contei o que tinha feito. Ela foi levada para o hospital e eu fui preso”, revelou.

O episódio rendeu uma expulsão. Ele também foi proibido de estudar em qualquer instituição do mesmo distrito escolar. A solução encontrada pelos pais foi colocá-lo em uma escola militar a milhares de quilômetros de distância de casa. Infelizmente, não funcionou: ele foi expulso de novo.

Mudança de vida

Patrick passou a se comportar melhor no ensino médio. Isso porque, aos 14 anos, ele já tinha os hormônios estabilizados e a aparência certa para a sua idade. Estudando perto de casa e se sentindo mais confortável em meio aos colegas de classe, ele decidiu mudar: afastou-se de uma série de amigos, começou a estudar e praticar esportes e chegou à conclusão de que queria ir para a faculdade.

Seu esforço gerou resultados: entrou em uma boa universidade, onde se tornou atleta, e apresentou bom desempenho acadêmico. Buscando esquecer o passado, ele criou uma nova identidade e virou escritor.

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Anos mais tarde, decidiu não mais esconder quem ele havia sido. Ficou surpreso com a reação das pessoas. “Elas reagiam com compaixão, demonstravam interesse, e foi uma catarse falar sobre o assunto, senti como se fosse um processo de cura. Foi bom parar de me esconder”, disse.

Histórico familiar

Ao aceitar o passado, Patrick quis conhecer o histórico dos homens de sua família. A pesquisa revelou o inimaginável. Começando por seu bisavô, que foi o mais jovem soldado americano na I Guerra Mundial. “Ele fugiu de casa e se alistou com outro nome. Foi mandado para o front e seu primeiro trabalho foi como motorista de altos oficiais, o que era algo doido, porque ele nem sequer tinha idade para dirigir. Mas acho que isso não foi suficientemente excitante para ele”, contou.

Assim como Patrick, seu bisavô não se comportou bem. Em meio à guerra, ele aprontou várias. Uma das peripécias foi a responsável por revelar sua verdadeira identidade. “Ele ficou bêbado com amigos, eles pegaram um avião de carga e sobrevoaram a região que separava as tropas francesas e alemães. Quando pousou, foi mandado de volta à corte marcial e para o front, onde sofreu envenenamento por gás mostarda e foi levado para o hospital”. Foi aí que seu bisavô foi descoberto: enquanto todos achavam que ele tinha 22 anos, foi constado que, na verdade, ele só tinha 13. Sem idade para ser soldado, ele foi enviado para casa.

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Já o avô fugiu de casa aos 10 anos e foi parar no Canadá, onde se juntou à guarda da fronteira aos 12 anos. “Temos um histórico de passar por alguém mais velho, porque é mais fácil dizer que você tem a idade que aparenta ter”.

A paternidade

Hoje Patrick é casado e tem um filho, gerado por fertilização in vitro. Durante o procedimento, ele soube que era possível testar os embriões para saber se a mutação estava presente. Aqueles que a tivessem poderiam ser descartados. Essa opção pareceu a mais acertada, mas algo o fez mudar de ideia.

“Meu pai me ligou e disse que confiava em mim para criar um filho com essa condição. Isso foi chocante, porque veio de alguém que não falava sobre o assunto. Fiquei emocionado, porque, pela primeira vez, meu pai estava se abrindo comigo, e isso nos conectou”, contou Patrick.

A intervenção paterna surtiu efeito. Ele não quis interferir no DNA da criança. Nem sequer realizou os exames para saber quais eram as probabilidades. Aos 4 anos de idade, está claro que o filho de Patrick não herdou a mutação. “Ele dá muito trabalho. Não consigo imaginar como seria se ele também tivesse puberdade precoce. Não passa um dia sem que eu e minha mulher não digamos de brincadeira: ‘Onde a gente estava com a cabeça quando tomou aquela decisão?’. Escapamos de uma boa”, concluiu.

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