Verdinha, cheirosa e estatal
Com longas filas e falta de estoque, Uruguai deu início à venda de maconha para uso recreativo
A iniciativa do governo do Uruguai de legalizar a produção e a comercialização de maconha alcançou seu momento mais vistoso e decisivo em julho, quando começou a venda da Cannabis estatal para uso recreativo nas farmácias. Segundo a lei, apenas uruguaios e residentes permanentes podem adquirir a erva, no limite máximo de 40 gramas por mês, ao custo equivalente a 4 reais o grama. No primeiro dia, longas filas se formaram em frente aos dezesseis estabelecimentos cadastrados para esse fim. No fim da tarde, o estoque já tinha acabado em quatro das farmácias da capital, Montevidéu. Também houve problemas na conferência da impressão digital dos compradores.
Embora a legalização seja reprovada pela maioria da população, as autoridades uruguaias enxergam o processo como um experimento, cujos resultados ainda são inconclusivos. Os dados para uma avaliação são escassos. Um estudo francês identificou um aumento no consumo de maconha no Uruguai, principalmente entre os mais jovens, mas os números só vão até 2014. A maconha ainda não estava disponível nas gôndolas das farmácias, porém já existia a permissão para que algumas pessoas plantassem a erva no quintal ou se associassem a um dos 69 clubes de cultivo. Outro fenômeno observado foram os ladrões de Cannabis. Como as flores da planta (chamadas de cogollos) são mais poderosas e contêm teores maiores de THC, a substância que gera o barato, elas passaram a ser furtadas das plantações antes da colheita. Os ladrões foram apelidados de cogolleros. Por fim, bancos estrangeiros ameaçaram interromper operações com as farmácias cadastradas. A razão disso é que o sistema bancário americano veta transações vinculadas ao comércio de substâncias controladas, maconha incluída. O fumacê uruguaio tem cheirinho de discórdia.
J.N.
Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562