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“Se tivesse prova, já teria denúncia”

Apesar de ter recebido ordem de silêncio do STF, o ex-diretor-geral da Polícia Federal reafirma que não há elementos contra Temer 

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 mar 2018, 06h00 - Publicado em 9 mar 2018, 06h00

Em sua gestão-relâmpago, o ex­-diretor-geral da Polícia Federal Fernando Segovia entrou para a história da corporação. Em apenas 99 dias no cargo, ele disse que uma mala de dinheiro não poderia ser considerada prova, afirmou que não havia indícios de crimes num inquérito que envolve o presidente Michel Temer, despertou a fúria de um grupo de delegados da Lava-Jato, recebeu ordens do ministro Luís Roberto Barroso para ficar em silêncio — e foi demitido. Desde que deixou o comando da PF, em fevereiro, passando o bastão para Rogério Galloro, Segovia submergiu para não atrapalhar o processo de sua nomeação como adido na Itália. Na terça-feira 6, o ex-diretor-geral quebrou o silêncio, falou sobre sua queda e, contrariando ordem do Supremo Tribunal Federal, voltou a dizer que não há provas contra Temer. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Por que, afinal, o senhor foi demitido? Eu estava trabalhando e pensando que estava fazendo o bem para o país. Mas a coisa desandou para tudo quanto é lado.

Algum palpite sobre o motivo de sua queda? Acho que foi uma escolha do ministro Raul Jungmann. Ele é o novo ministro da Segurança Pública e pode escolher quem quiser para comandar a Polícia Federal, que está agora subordinada a ele. No dia da posse do Jungmann, participei de uma reunião com ele à tarde. Depois desse encontro, ele pediu para falar comigo um minuto. Foi logo dizendo: “Quero o seu cargo”. Respondi: “O cargo não é meu”. Ele disse que tinha outro projeto e precisava me substituir.

A demissão pode ter sido motivada por sua declaração a respeito da investigação sobre o presidente Temer? Se o inquérito que envolve o presidente Temer fosse sigiloso, eu deveria perder o cargo. Mas era público e notório. Qualquer cidadão poderia ir lá e tirar uma cópia do inquérito. As pessoas não estão acostumadas a ouvir algumas verdades.

Ao dizer que não havia indícios para incriminar o presidente, o senhor não se antecipou à conclusão da investigação? Não. Não estou adiantando a conclusão. É uma coisa fática. Se já houvesse todas essas provas, o que aconteceria? O Ministério Público teria de denunciar. Isso é do direito penal. A investigação tinha de ir até o final. Pode haver provas? Pode. O presidente pode ser condenado? Pode. Se tivesse prova, já teria denúncia. Sou honesto e transparente. Por isso me atacaram de todas as maneiras.

O senhor cobrou explicações do delegado quando ele enviou um roteiro de perguntas ao presidente Temer? Sim, cobrei explicações do diretor da área porque as perguntas tinham vazado. Em todo vazamento, a gente quer saber o que está acontecendo. Não tem a ver com pressão.

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Mas, se o inquérito é público, em tese, não há vazamento… Em tese, as perguntas tinham sido enviadas apenas ao ministro Luís Roberto Barroso. De repente, a imprensa estava sabendo antes mesmo de o Barroso ter despachado as questões ao Planalto.

Os próprios delegados da Lava­-Jato protestaram contra tentativas de interferência nas investigações em andamento. Se eu realmente tivesse interferido, você não acha que algum deles tomaria uma iniciativa? Se eu tivesse feito qualquer coisa errada, estaria afastado judicialmente, preso. Qualquer delegado que influísse numa investigação, eu mandaria prender.

O senhor se sentiu constrangido por ter recebido ordens do ministro Barroso para ficar em silêncio? Não me senti constrangido porque tenho a consciência tranquila de que eu não tinha feito absolutamente nada. Nessa reunião, estávamos eu, o ministro Barroso e dois auxiliares dele. O ministro me perguntou de onde eu era. Falei do meu histórico na Polícia Federal. Ele disse que tinha notícias de que eu era uma boa pessoa e falou que tinha boas referências minhas. Aí, eu disse que ocorreu um mal-entendido e falei que o inquérito era público. E disse que não me manifestaria mais sobre esse assunto.

Embargos – O ministro Luís Roberto Barroso, do STF: ordem de silêncio (Cristiano Mariz/.)

O senhor teve um encontro, fora da agenda, com Temer poucos dias antes de o presidente responder às perguntas feitas pela PF. O senhor não vê problema nisso? Sinceramente? Antes de mais nada, Temer é investigado. Mas investigado não quer dizer condenado. Só porque alguém é investigado as pessoas acham que é culpado. Todo mundo pode ser investigado por qualquer fato. Se ele é investigado, cabe primeiro à polícia apontar as provas, ao MP fazer ação penal e à Justiça condenar. Esse caso está no início da apuração. Ele é o presidente da República, a autoridade máxima do país. Se ele quer me chamar para falar sobre qualquer assunto, eu vou.

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Nesse encontro, vocês falaram sobre o inquérito no qual o presidente é investigado? Não vou falar nada sobre o que a gente conversou. Até porque eu já disse que o assunto da reunião foi segurança pública. Ele queria muito uma guarda de fronteira.

O presidente manifestou alguma insatisfação com a investigação da PF? Ele não falaria sobre isso.

A sua nomeação como adido na Itália foi vista como um prêmio e está sendo questionada. Não acredito que foi um prêmio. É constrangedor um diretor que assume ter um ex-­diretor ali ao lado dele. Para mim, foi um reconhecimento do grau profissional que tenho. O ministro Raul Jungmann e o diretor-geral Rogério Galloro me indicaram. Disseram que eu poderia ir para Roma, Washington ou Londres. Eu disse que queria ir para Roma. Doutor Galloro consentiu. O ministro fez a indicação e o presidente da República me nomeou.

Mas por que houve um rito tão rápido em sua nomeação? O que ouvi dizer é que o presidente queria fazer a nomeação do doutor Galloro como diretor-geral da PF junto com minha nomeação para Roma. Não foi minha escolha ser nomeado como adido. É uma escolha do Galloro, do ministro e do presidente.

Publicado em VEJA de 14 de março de 2018, edição nº 2573

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