Em abril de 2015, quando a Lava-Jato ainda estava concentrada na raia intermediária do esquema de corrupção na Petrobras, VEJA publicou informações que mudariam o patamar das investigações. A reportagem revelava que o engenheiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS preso em uma das etapas da operação, guardava — e ameaçava contar — três segredos que seriam letais para o ex-presidente Lula. O primeiro: a pedido de Lula, a empreiteira, envolvida até o pescoço no escândalo, havia reformado um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, frequentado pelo ex-presidente e sua família. A reportagem mostrou que a empreiteira construiu piscina, churrasqueira, campo de futebol e um lago para peixes na propriedade — e, para não deixar rastro, pagou aos operários e o material de construção com dinheiro vivo. O caso se transformou em um processo contra o ex-presidente por corrupção e lavagem de dinheiro.
Na segunda-feira 5, o juiz Sergio Moro começou a ouvir as testemunhas. Prestaram depoimento o ex-marqueteiro João Santana, sua mulher e um engenheiro da Odebrecht, empreiteira que, descobriu-se depois, também participara da reforma do sítio. Por coincidência, as audiências começaram na mesma semana em que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) publicou o acórdão com o desfecho do segundo segredo revelado por Léo Pinheiro, de acordo com o qual, também a pedido de Lula, a OAS bancara a construção e a reforma do tríplex no Guarujá, no litoral de São Paulo. Nesse caso, o ex-presidente já foi condenado a doze anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, está inelegível e poderá ser preso tão logo o TRF4 julgue sua última apelação, o que deve ocorrer até o fim de março.
CONFIDÊNCIAS - Uma reportagem de VEJA, publicada em abril de 2015, revelou três segredos que o empreiteiro Léo Pinheiro guardava sobre Lula. Dois já viraram processos — e um deles já levou à condenação do ex-presidente
O terceiro segredo do empreiteiro é o único ainda sob investigação. Pinheiro contou que, de novo atendendo a pedido do ex-presidente, a OAS pagou mesada a Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República e amiga íntima de Lula. Flagrada pela polícia fazendo tráfico de influência em 2012, quando ainda estava no governo, Rose, como é conhecida, ameaçava envolver no caso o ex-presidente, com quem se relacionava havia mais de duas décadas. Para acalmá-la, a empreiteira, além da mesada, repassou dinheiro para a empresa do marido de Rose, forjando um contrato de prestação de serviços. A Lava-Jato já localizou provas da relação financeira entre a ex-secretária e a empreiteira. Léo Pinheiro era amigo e confidente do ex-presidente Lula. Condenado a 35 anos, sete meses e 23 dias de prisão, ele cumpre pena enquanto aguarda a homologação de sua delação, na qual promete fazer novas revelações.
Publicado em VEJA de 14 de fevereiro de 2018, edição nº 2569