Depois de abrir seu discurso no Fórum Econômico Mundial dizendo que “o Brasil está de volta”, o presidente Michel Temer emendou, sem rodeios, um pedido para que os investidores ali presentes aportassem dinheiro no país. Justificou a proposta evocando os números de sua gestão e arrematou a fala mencionando a aprovação da reforma trabalhista, além das — segundo ele — boas perspectivas de aprovação da reforma da Previdência ainda em 2018. Com isso, o presidente valeu-se de sua primeira viagem ao fórum, em Davos, na Suíça, para vender não só o Brasil mas também a ideia de que, nas eleições presidenciais, o “candidato do mercado” não é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também presente ao evento, mas ele próprio — ou quem vier a apoiar. Temer priorizou encontros com grandes empresários em detrimento de lideranças políticas. Recebeu os presidentes mundiais da Cargill, da Ambev, da Coca-Cola, da Shell, da Enel, da Dow Chemical e da ArcelorMittal. Ian Bremmer, sócio da consultoria Eurasia, elogiou o tom “antiprotecionista” do discurso presidencial. Ressaltou que a “impopularidade doméstica” do peemedebista não exatamente o credencia como uma liderança importante no fórum, mas admitiu: “Para um presidente que começou o mandato como ‘pato manco’, os resultados impressionaram”. Temer foi a Davos para vender o Brasil, mas sua casquinha ele já garantiu.
Publicado em VEJA de 31 de janeiro de 2018, edição nº 2567