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Mantenha distância

Estudo comprova que o hábito de colar na traseira do carro à frente só piora o tráfego. A proposta dos cientistas é usar sensores que impeçam a prática

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h29 - Publicado em 19 jan 2018, 06h00
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  • A cada ano, um paulistano passa, em média, o equivalente a 45 dias parado no trânsito — o que, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), gera, no fim do período, um prejuízo de 40 bilhões de reais. No Rio de Janeiro, o tempo médio gasto em congestionamentos é de treze dias, e isso resulta, de acordo com o governo estadual, em uma despesa anual de 35 bilhões de reais. Para chegar a esses valores, levam-se em consideração o custo com o tempo perdido, na ociosidade, por trabalhadores estagnados no trânsito, e prejuízos mais literais, com combustíveis, transporte de mercadorias e emissão de poluentes. Já nos Estados Unidos, o americano perde, em média, dois dias por ano no trânsito, com um desperdício de 72 litros de combustível. Os gastos decorrentes desse tempo inútil seriam de 121 bilhões de dólares anuais.

    30-metros
    (//VEJA)

    Diante de dados tão desalentadores, cientistas do Laboratório de Ciências da Computação e Inteligência Artificial (IA) do renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, criaram uma simulação de computador com o objetivo de identificar medidas que poderiam reduzir os engarrafamentos ou até mesmo acabar com eles. Concluíram que o cumprimento de uma única regra poderia fazer com que os motoristas chegassem duas vezes mais rápido ao destino: bastaria manter a mesma distância do carro da frente e do carro de trás, eliminando-se o hábito, americano e também muito brasileiro, de colar na traseira de outros veículos.

    O método de manutenção das distâncias foi batizado pelo MIT de “controle bilateral”. Para que ele funcionasse, não haveria como depender apenas de quem estivesse ao volante. Os condutores humanos, além de imprevisíveis, não conseguiriam calcular tais distâncias com precisão e não poderiam ficar sempre olhando para trás para manter a distância correta. Por isso os cientistas propõem que sejam instalados sensores nos veículos para que mantenham a distância ideal entre seus pares motorizados — como fazem, naturalmente, os estorninhos-malhados, pássaros que voam sempre em sintonia.

    A instalação de tais dispositivos não tornaria, claro, os carros completamente autônomos — ou seja, guiados apenas pela IA, sem uma pessoa ao volante. Os sensores seriam como aquelas câmeras traseiras e dianteiras que auxiliam na hora de estacionar ou, ainda, similares a mecanismos de controle já populares, a exemplo de pilotos automáticos que fixam a velocidade em avenidas e rodovias. A única adaptação necessária seria a adição de um sensor na retaguarda. Disse a VEJA o americano Berthold Horn, o principal autor do estudo: “Se todos os automóveis tiverem o controle bilateral, os motoristas chegarão ao destino de forma mais rápida, mais econômica, segura e sustentável. Estamos avaliando ainda se nosso sistema resultaria em menor número de acidentes nas ruas e estradas”.

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    Nessa linha, Horn aposta que, com o tempo, os mesmos sensores poderiam ser instalados nos veículos autônomos. Nada ruim: outra simulação em computador, realizada pela Universidade de Illinois, também nos Estados Unidos, em 2017, concluiu que a inclusão de um único autônomo entre dezenove carros já melhoraria o fluxo nas estradas em 50%. Em outras palavras: metade dos engarrafamentos poderia ser evitada com a automatização de apenas 5% da frota atual de veículos que circulam nas ruas.

    No fim de 2012, outro levantamento do MIT compilou dados diários de mobilidade urbana na cidade de Boston coletados pela rede de celulares de 680 000 motoristas. Percebeu-se que 98% das ruas do município eram usadas abaixo de sua capacidade, enquanto os 2% remanescentes estavam abarrotados. Notou-se que o problema era causado por poucos condutores que insistiam em utilizar as mesmas vias de tráfego intenso em vez de optar por rotas alternativas. Se os motoristas dessas regiões fossem instruídos a procurar outros caminhos, toda a população voltaria para casa no fim do dia em tempo 18% menor.

    Nesse sentido, os veículos autônomos também garantiriam a redução dos congestionamentos. Com um sistema interligado, em que o carro tem informações sobre o trânsito, ele tomaria as decisões para levar o passageiro pelas vias em que o fluxo estivesse liberado. Com a promessa de ocuparem as ruas a partir de 2020, os veículos autônomos devem, valendo-se desses recursos, reduzir em 90% o índice de acidentes de trânsito. Enquanto isso não acontece — automóveis rodando integralmente comandados por IA —, os motoristas agora já sabem que podem seguir uma regra simples para evitar passar tantos dias por ano presos no trânsito.

    Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2018, edição nº 2566

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