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Energia bombástica

Estudo realizado no Canadá lista os efeitos nocivos que apenas duas latinhas de energético podem causar no organismo humano — especialmente no dos jovens

Por Thaís Botelho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h16 - Publicado em 18 Maio 2018, 06h00
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    (Arte/VEJA)

    Desenvolvidas na Tailândia na década de 70, as bebidas sem álcool feitas com substâncias estimulantes surgiram para dar pique aos caminhoneiros. Para suportarem longas travessias de estradas, os motoristas de Bangcoc tomavam um tônico caseiro chamado de Krating Daeng (Touro Vermelho), referência a uma espécie de bovino do Sudeste da Ásia.

    Dez anos depois, um empresário austríaco experimentou a mistura, sentiu algum efeito positivo e decidiu ganhar dinheiro com o produto. Nasceram, assim, os energéticos, hoje amplamente espalhados em todo o mundo, usados por esportistas, frequentadores de academias e pessoas que, de um jeito ou de outro, enfrentam longas jornadas de trabalho. O consumo entre jovens é quase uma epidemia, uma muleta artificial para atravessarem as noites nas baladas. Suspeitava-­se que o uso exagerado provocasse desconforto ao produzir taquicardia, mas nada muito grave. Um recente estudo conduzido pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Waterloo, no Canadá, porém, demonstra que os efeitos são mais complicados.

    Divulgados no Canadian Medical Association Journal, os resultados são contundentes. Com a participação de 2 055 homens e mulheres com idade entre 12 e 24 anos, o trabalho listou os efeitos do consumo de até duas latinhas de energético — uma quantidade inferior à máxima recomendada para esse tipo de bebida. Quatro em cada dez entrevistados já haviam tido sintomas que variavam de aceleração dos batimentos cardíacos a dor de cabeça, dificuldade para dormir, vômito e diarreia (veja o quadro ao lado). Os problemas de saúde estão associados à quantidade de estimulantes contidos nos energéticos — que, atenção, nada têm a ver com os isotônicos, cuja função é reidratar o organismo.

    A cafeína é o principal composto dos energéticos. “A quantidade de cafeína em uma embalagem de 250 mililitros pode ser equivalente ao conteúdo de três xícaras de café, a depender da marca do produto”, diz o endocrinologista Francisco Tostes, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, especialista em medicina do esporte e atividade física. Os energéticos também são preparados com taurina, um aminoácido encontrado em peixes, frutos do mar, aves e carne bovina que tem ação excitatória, capaz de diminuir o cansaço muscular. A taurina potencializa o efeito da cafeína, aumentando a sensação de disposição e bem-­estar. O produto contém ainda glucoronolactona, substância derivada da glicose, que dá mais energia.

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    Os adultos, com seu organismo já formado, também podem sentir a bomba estimulante, sobretudo se já sofrem de alguma doença, como problemas cardíacos ou hipertensão. Nos jovens, no entanto, o impacto é maior. Eles têm naturalmente menos massa corporal e possuem metabolismo mais acelerado. “Acreditamos que esse tipo de bebida seja realmente mais nocivo para organismos novos”, disse a VEJA David Hammond, um dos coor­denadores da pesquisa. Há um problema adicional, de probabilidade. Quanto mais jovem é o adolescente, maior é o consumo de energéticos. Um levantamento conduzido pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, instituição que fornece à Comissão Europeia pareceres científicos sobre alimentos, mostrou que jovens entre 10 e 18 anos são os que mais ingerem essas bebidas. Nessa faixa etária, 68% dos indiví­duos consomem energéticos. Entre os mais velhos, a taxa é de 30%.

    Outra preocupação dos médicos é a associação dos energéticos com o álcool — um hábito crescente entre os jovens. Segundo estudo do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Universidade Federal de São Paulo, 15,4% dos adolescentes que tomam bebidas alcoólicas adicionaram os energéticos ao copo. Outra pesquisa, da Universidade da Flórida, revelou que meninos e meninas em idade escolar que acrescentam bebidas alcoólicas aos energéticos correm risco três vezes maior de embriagar-se, em comparação àqueles que consomem apenas bebidas alcoólicas. Isso porque os estimulantes reduzem a ação depressora do álcool no córtex cerebral, postergando a hora de parar.

    Os energéticos servem de gatilho para o consumo de bebidas alcoólicas, pois seu sabor adocicado disfarça o gosto amargo do álcool — ideal para o paladar ainda inexperiente. Parte das cinquenta marcas do produto disponíveis no Brasil passou a ter recentemente versões mais agradáveis e palatáveis, com sabores como lima-da-pérsia e açaí.

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    A venda de energéticos é liberada para qualquer idade. Alguns países adotam medidas próprias, mas sem legislação específica. No Reino Unido, por exemplo, desde o início do ano os grandes supermercados passaram a só autorizar a compra para clientes com mais de 16 anos. No Brasil, a Câmara dos Deputados analisa projeto de lei que proíbe a venda, a oferta e o consumo de bebidas energéticas a menores de 18 anos. Se aprovado, passa por duas comissões, depois para o plenário da Câmara dos Deputados para, então, seguir para o Senado Federal e, enfim, pousar na mesa do presidente da República. Enquanto esse percurso não for concluído, a venda continuará totalmente liberada.

    Publicado em VEJA de 23 de maio de 2018, edição nº 2583

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