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Carta ao Leitor: Na direção errada

Com rompante na Petrobras, Bolsonaro confrontou com eloquência a diretriz liberal que caracteriza a política econômica do governo

Por Da Redação
Atualizado em 26 fev 2021, 08h44 - Publicado em 26 fev 2021, 06h00

Jornalista brilhante, famoso pelo ceticismo e pela aversão ao populismo, o americano Henry Louis Mencken (1880-1956) cunhou uma frase que deveria servir de mantra na tomada de decisões dos grandes líderes: “Para cada problema complexo há uma solução clara, simples e errada”. Nos últimos dias, Jair Bolsonaro deixou evidente que, definitivamente, esse ensinamento não faz parte de seu repertório. Com sua visão de mundo peculiar, temperamento mercurial e suscetibilidade a teorias da conspiração, o presidente defenestrou — de forma intempestiva — no dia 19 o economista Roberto Castello Branco da presidência da Petrobras, a maior empresa brasileira, e colocou em seu lugar o general Joaquim Silva e Luna. O motivo da mudança foi o reajuste no preço do diesel e da gasolina nas refinarias da estatal. Com tal movimento, Bolsonaro imaginou ter resolvido o problema. Como situações complexas exigem soluções complexas, não será bem assim (leia a reportagem na pág. 24).

Além de inócuo, o ato presidencial deixou economistas, investidores e empresários estarrecidos. Por mais esperadas que sejam, as trapalhadas de Bolsonaro nunca haviam confrontado com tanta eloquência a diretriz liberal que caracteriza a política econômica do governo. Ao tentar resolver em um rompante um problema pontual, escancarando sua faceta populista, o presidente provocou um terremoto. Sem a demissão sumária e evitando falar barbaridades, como “O petróleo é nosso” ou “Vem mais por aí”, ele poderia ter articulado a substituição de Castello Branco de forma discreta e tranquila. Infelizmente, porém, fez questão de adotar o padrão explosivo que marca suas ações. Na segunda-feira 22, contabilizou-se o resultado dramático de seu gesto. Ao fim do dia, a empresa havia perdido 100 bilhões de reais em valor de mercado e o país teve o grau de investimento rebaixado por várias instituições internacionais.

Motivo de orgulho entre os brasileiros, a Petrobras é particularmente vulnerável a desmandos dos presidentes, mesmo com as salvaguardas de boa governança corporativa que tentam blindá-la de abusos. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi usada de forma acintosa para abastecer a voraz máquina de corrupção do petrolão. Na gestão de Dilma Rousseff, foram congelados os aumentos dos combustíveis ao custo de vultosos prejuízos para a empresa, como mostrou uma ampla reportagem de capa de VEJA em abril de 2014. O objetivo, assim como o alegado por Bolsonaro na semana passada, era evitar o impacto sobre os consumidores — e, obviamente, estragos na popularidade. São condutas temerárias, visto o que aconteceu na Venezuela com a gigantesca estatal PDVSA. Hoje arruinada, a petrolífera do vizinho foi usada com uma rapacidade assombrosa pelo chavismo para sustentar o regime.

Com uma trajetória marcada por marchas e contramarchas e sempre de olho no impacto que suas decisões têm sobre seu eleitorado, Bolsonaro muda de opinião com facilidade. Espera-se que, desta vez, mude para melhor. Que tire lições dessa desnecessária turbulência (mais uma) e evite cometer erros semelhantes daqui por diante. O presidente certamente sabe que seu governo precisa transmitir confiança aos investidores — nacionais e internacionais — para que o país volte a crescer. E isso só é possível com credibilidade e respeito às regras. Sem rompantes.

Publicado em VEJA de 3 de março de 2021, edição nº 2727

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