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As mulheres de preto

A cor do protesto contra o desrespeito foi usada por (quase) todas no Globo de Ouro, mostrando que as famosas de Hollywood não estão para brincadeira

Por Lizia Bydlowski
Atualizado em 30 jul 2020, 20h29 - Publicado em 12 jan 2018, 06h00
Do contra - Blanca Blanco, a dama de vermelho: nem aí para as manifestações políticas (Greg Doherty/Getty Images/AFP)

Em moda, preto é a aposta certa de bem-vestir. Por esse ângulo, o tapete vermelho do Globo de Ouro 2018 — um mar de pretinhos nada básicos no corpo de mulheres espetaculares — foi um dos mais chiques de todos os tempos. No entanto, elegância foi do que menos se falou na festa em Los Angeles que abre a temporada das premiações do cinema. A pergunta­-padrão no desfile de celebridades “O que você está vestindo?” foi trocada por “Por que você está vestindo preto?”. E a resposta vinha rápido e certeira: as atrizes reafirmavam ali sua posição contra o assédio sexual, uma questão de honra em Hollywood desde que, em outubro, o poderoso produtor Harvey Weinstein foi exposto como predador serial, e abriu-se a comporta das denúncias de abusos.

Quem contava com um arrefecimento da indignação, passados três meses do primeiro impacto, errou feio. O Globo de Ouro, sempre chamado de prévia do Oscar (ou seja, menos importante), virou palanque da mulher forte, poderosa, que sacudiu o marasmo e exige respeito. Na fila para o punho metaforicamente erguido posicionaram-se Angelina Jolie (de Versace), Jessica Biel (deslumbrante, de Dior), a Mulher-Maravilha Gal Gadot (de Tom Ford) e Nicole Kidman (de Givenchy), entre tantas e belas famosas. Claire Foy, a rainha Elizabeth da série The Crown, saiu sem estatueta, mas marcou território de calça e paletó (de Stella McCartney). Nem aí para filigranas políticas, a americana Blanca Blanco, que como atriz é excelente exibicionista, foi de vermelho — quer dizer, mais pele que vermelho. Queria aparecer, claro. E apareceu.

Um efeito colateral da convocação pelo preto foi a correria dos estilistas para embalar em seus ateliês e despachar para Los Angeles vestidos na cor certa para tanta gente, em pouco tempo. Visual de tapete vermelho sempre foi coisa seriíssima, planejada com grande antecedência. O Globo de Ouro 2018 mudou isso. “Muitas clientes aceitaram usar qualquer grife disponível, para apoiar o movimento”, revelou a stylist de estrelas Tara Swennen. “É um momento de solidariedade, não de moda”, bradou Eva Longoria, uma das patrocinadoras do movimento que convocou a marcha do preto, o Time’s Up, expressão inglesa que significa “tempo encerrado”.

O ponto alto da cerimônia de afirmação do poder da mulher hollywoodiana foi o discurso de nove minutos da apresentadora Oprah Winfrey, que prenunciou “um novo dia no horizonte” em que “ninguém mais dirá ‘Eu Também’ ” — referência a #MeToo, a hashtag de denúncias que incendiou as redes sociais. Oprah saiu do Globo de Ouro mais candidata ainda a presidente dos Estados Unidos em 2020, uma especulação que vai e vem desde que Donald Trump provou que, se ele se elegeu, qualquer milionário atuante no ramo do entretenimento também pode. No dia seguinte à festa, um pôster criado de brincadeira com a expressão Hope-rah, mistura de Hope (esperança) com Oprah, estampava camisetas à venda na internet.

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Indo além do combate ao assédio, as atrizes mais engajadas levantaram em sua fala desigualdades espinhosas como as diferenças de oportunidades e de salários entre homens e mulheres. Essa briga também faz parte dos estatutos do Time’s Up, um movimento de atrizes apresentado com anúncio de página inteira nos jornais que, em poucas semanas, já arrecadou 14 milhões de dólares para um fundo de financiamento jurídico de mulheres abusadas que decidirem processar seus assediadores.

No Globo de Ouro das mulheres de preto, os únicos homens que sobressaíram foram o centenário ator Kirk Douglas, outro homenageado, e o apresentador da noite, o comediante Seth Meyers. Os demais entraram mudos e saíram calados (a não ser pelos discursos obrigatórios), evitando chamar atenção. A cutucada da atriz Natalie Portman ao apresentar os indicados para o prêmio de melhor direção — “todos homens” — foi recebida com aplausos femininos e cinco sorrisos masculinos constrangidíssimos. Ganhou Guillermo del Toro, com A Forma da Água, mas nem ele nem os demais premiados tocaram, em seu agradecimento, no assunto do momento. Pareciam, todos, estar esperando o terremoto passar. Será que passa? Os olhares se voltam para o Oscar, no dia 4 de março.

Publicado em VEJA de 17 de janeiro de 2018, edição nº 2565

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