Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Dilemas da fé em tempos de coronavírus: abrir ou fechar templos e igrejas?

Evangélicos e católicos se adaptam, mas alguns de seus líderes ainda resistem ao apelo para evitar as aglomerações

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 mar 2020, 14h20 - Publicado em 20 mar 2020, 06h00

Enquanto a ciência se debruça sobre o mistério da origem da Covid-19 e as autoridades testam medidas cada vez mais drásticas para conter a contaminação (que podem incluir a proibição de eventos com aglomeração de pessoas), o bispo evangélico Edir Macedo resolveu partir para o ataque, munido de algumas “certezas”. “Minha amiga e meu amigo, não se preocupem com o coronavírus”, disse ele em um vídeo divulgado no domingo 15. Segundo o chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, a preocupação em torno da doença era uma “tática de Satanás” para espalhar o medo. Quem transparecia estar assustado, porém, era Macedo, com a perspectiva de templos vazios e, consequentemente, menos ofertas e dízimos.

A resistência a fechar as portas atinge também o grosso das igrejas pentecostais e neopentecostais no país, mesmo após a ministra “terrivelmente cristã” Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) reunir dezessete entidades evangélicas e católicas na segunda passada e pedir que evitassem aglomerações. Um sinal claro da dificuldade veio do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e amigo do presidente Jair Bolsonaro. “Enquanto o transporte coletivo estiver funcionando, a minha igreja vai estar aberta”, afirmou.

RECUO - Edir Macedo: vídeo apagado após atribuir medo do vírus a “tática de Satanás” (instagram @bispomacedo/Reprodução)

A reação negativa a esse tipo de fala, o primeiro caso de morte no Brasil e a sequência de medidas impostas pelas autoridades — suspensão de aulas, fechamento do comércio, adoção de home office e restrição à circulação — fizeram com que algumas lideranças religiosas mudassem o discurso e acatassem as recomendações de governos estaduais, como a do governador João Doria para suspender as cerimônias na Grande São Paulo. Parte das missas e cultos começou a ser transmitida pela internet ou a ser realizada ao ar livre. Saíram a água benta e o lenço consagrado, entrou o álcool em gel. E nada de imposição de mãos ou distribuição de hóstias — cada fiel foi instruído a orar e a receber as orações no seu canto. O papa Francisco, por exemplo, passou a rezar apenas missas virtuais ­­— recomendação que estendeu ao mundo —, e a celebração da Páscoa será feita sem público na Praça São Pedro. Por aqui, a Justiça suspendeu as missas em Aparecida, o maior centro de peregrinação católica do país, mas a basílica seguirá aberta.

Continua após a publicidade

ASSINE VEJA

A guerra ao coronavírus A vida na quarentena, o impacto da economia, o trabalho dos heróis da medicina: saiba tudo sobre a ameaça no Brasil e no mundo ()
Clique e Assine

Em tempos de crise como epidemias e guerras, os templos religiosos têm papel importante ao abrigar, apoiar e confortar a população. Mas é preciso equilibrar essa função com as políticas de saúde pública. Na Coreia do Sul, Lee Man-­Hee, líder da igreja cristã Shincheonji, é investigado por homicídio e danos à saúde pública depois que as autoridades atribuíram à sua igreja a responsabilidade por mais da metade dos casos de contaminação no país. Na França, a evangélica The Christian Open Door é acusada de ter virado um foco de contaminação após vários infectados em um evento espalharem o vírus até por territórios como a Guiana Francesa. No Brasil, as autoridades ainda não vetaram o funcionamento dos templos, mas a preocupação vem aumentando à medida que a doença se alastra. Depois que o bispo demonizou o vírus, a Universal apagou o criticado vídeo de Macedo, passou a adotar ações preventivas, e disse, em nota, que “a mídia distorceu o teor do alerta” de seu líder. Na última terça, no Templo de Salomão, na cidade de São Paulo, o bispo Guilherme Grando lembrou o ensinamento de Jesus Cristo de que é preciso “vigiar e orar”. Vigiar, no caso, seria tomar as medidas de precaução contra o coronavírus. Amém.

Publicado em VEJA de 25 de março de 2020, edição nº 2679

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.