A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) manifestou-se na manhã desta quarta-feira, 24, a respeito da contratação de seu namorado, o colombiano Daniel Alejandro Martínez, para prestar serviços durante sua campanha nas eleições de 2018. Reportagem de VEJA mostrou, no sábado, que a parlamentar pagou 23 mil reais, com dinheiro do fundo eleitoral, pelo “serviço de análises estratégicas para a campanha”. Até então, ela só havia se manifestado por meio de sua assessoria de imprensa, que se limitou a dizer que foram seguidas as leis — mas não detalhou a execução do trabalho de Martínez e seus resultados.
“O Daniel disse não a diversas oportunidades de emprego e postergou projetos profissionais, por vários meses, para poder trabalhar na minha campanha. Quem já fez campanha saindo do zero sabe que é muito difícil encontrar pessoas que queiram interromper suas carreiras por meses por algo tão pouco palpável e possível, e comigo não foi diferente. Quando decidi me candidatar, no início, pude contar com menos de 10 pessoas, e o Daniel foi uma delas”, escreveu Tabata em sua conta no Facebook.
De acordo com a parlamentar, o namorado fez pesquisas, conversou com especialistas de educação e pobreza e “teve um papel muito importante na construção de um documento de dezenas de páginas com minha visão e propostas para diversas áreas, de educação a moradia”. Também foi o namorado, diz Tabata, quem levantou dados para fundamentar suas falas em eventos e desenhou um banco de dados com critérios para a escolha de bairros e locais que seriam prioritários durante a campanha.
“Além de todos os documentos que ele gerou, são centenas de voluntários que ele coordenou e que até hoje têm seu número pessoal. Reafirmo minha gratidão ao Daniel e a toda a equipe que esteve ao meu lado durante a campanha, que abriram mão de muitas coisas por acreditarem em um sonho coletivo.”
Também nesta quarta-feira, os advogados Tony Chalita e Flavio Henrique Costa Pereira, do escritório Braga Nascimento e Zilio, emitiram uma nota para afirmar que Tabata cumpriu rigorosamente todas as exigências da legislação eleitoral. “A Prestação de Contas foi analisada criteriosamente por órgão técnico qualificado e julgada pelo Tribunal Regional Eleitoral, que aprovou as receitas e despesas contraídas durante o processo eleitoral. São, portanto, inadequadas quaisquer ilações sobre práticas de atos ilegais envolvendo a campanha”, diz o documento.
A reportagem de VEJA mostrou que Tabata, que emergiu como um dos principais expoentes da “nova política”, não escapou da armadilha de contratar parentes ou amigos — prática relacionada ao que há de mais antiquado da tradição política brasileira. O registro do pagamento está no site do Tribunal Superior Eleitoral. A equipe da deputada, entretanto, não apresentou os resultados do serviço prestado por Martínez, a quarta pessoa física que mais recebeu dinheiro da campanha da então candidata.
O colombiano é formado em estudos sociais por Harvard e é bolsista da Michael C. Rockefeller Memorial Fellowship, um centro de pós-graduação mantido dentro da universidade por doadores ligados à família Rockefeller. “Imagino minha jornada como uma combinação de experiências de convivência com povos indígenas, afro-brasileiros e comunidades camponesas; navegando na Amazônia; ficando com famílias locais; e me voluntariando para trabalhar com organizações locais”, diz seu perfil. Ele não respondeu aos pedidos da reportagem.
De acordo com o advogado eleitoral Fernando Neisser, não é crime empregar parceiros, cônjuges ou até familiares durante a campanha — depois de eleito, sim. O crime está no fato de pagar por serviços que não foram prestados. Neste momento, não é possível afirmar, portanto, que Tabata cometeu irregularidade, mas apenas que os resultados do serviço prestado por Martínez não podem ser checados e não foram apresentados pela parlamentar.
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