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Sete vezes Jair

Publicado em VEJA de 16 de janeiro de 2019, edição nº 2617

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 11 jan 2019, 07h00 - Publicado em 11 jan 2019, 07h00

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Na cerimônia de posse do novo ministro da Defesa, o presidente Jair Bolsonaro deu um passa-moleque na história. Com os olhos voltados para o ainda comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, disse, ao abrir o seu discurso: “Muito obrigado, comandante Villas Boas. O que conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”. Para os documentos sigilosos dos governos há pelo menos um prazo de validade. Vencido, os historiadores ganham a oportunidade de enriquecer ou corrigir o que até então passou como registro fiel dos fatos. Nesse caso, se o que os dois conversaram morrerá com eles, vai se condenar à eternidade o silêncio sobre um fato anunciado como crucial a ponto de ter decidido a eleição.

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No discurso no Planalto, Bolsonaro decretou o fim do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto. No parlatório, disse que “pela primeira vez o Brasil irá priorizar a educação básica”. O chanceler Ernesto Araújo definiu o objetivo da “luta extraordinária” do presidente como o de “reconquistar o Brasil e devolver o Brasil aos brasileiros”. O “nunca ­antes neste país” está de volta. É bom Jair se acostumando: o novo governo é tão jactancioso, nos ímpetos salvacionistas, quanto aquele outro. Para quem já se cansou com as refundações do país, resta o tédio, profundo.

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Bolsonaro mostrou-se à vontade e no geral bem informado, na entrevista ao SBT, diferentemente do candidato inseguro e dependente do Posto Ipiranga das entrevistas da campanha. Ao limitar-se a falar só a jornais e emissoras amigas, limita-se a si próprio.

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Bolsonaro, na entrevista ao SBT, e o chanceler Araújo admitiram a possibilidade de ceder espaço para uma base militar americana em território nacional. Antes, o presidente já se comprometera a mudar a embaixada em Tel-Aviv para Jerusalém. Nos dois casos a outra parte não pedira; foram oferecimentos gratuitos. A cogitação da base americana acabou afastada, ao que consta por influência dos militares, mas é bom Jair se acostumando: o novo governo tem a tendência de atravessar a rua para deliberadamente pisar em casca de banana.

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Qualquer problema empalidece diante do potencial destruidor dos filhos

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A ministra dos Direitos Hu­manos, Damares Alves, insurgiu-se contra a possibilidade de os alunos estudarem em faculdades fora do estado onde vivem e proclamou que menino deve se vestir de azul e menina de rosa. No primeiro caso conferiu status de problema ao que para muitos alunos é libertação. No segundo, deu asas a um infantil devaneio passadista. Qualquer problema causado por ministros, no entanto, inclusive as trombadas e os bate-cabeças, empalidece diante do potencial destruidor dos filhos do presidente. Eles estão em todas, falam de tudo. De quebra, um está enroscado nas embrulhadas de um assessor e outro em bate-­boca com ex-namorada a que não faltam inconfidências de alcova.

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Bolsonaro anunciou ter assinado aumento do IOF, até se desculpou por isso, mas não assinou. Um assessor de segundo escalão, o secretário da Receita, Marcos Cintra, precisou vir a público para esclarecer a questão. É bom Jair se acos­tumando: o presidente ainda não aprendeu a ser presidencial. Fez muito rápido o percurso do baixo clero para a candidatura, da candidatura para a cabeça de um movimento, daí para o Planalto. Não há receita, mas insistência no Twitter e nos lives pela internet não parece um bom caminho. Nem Donald Trump deve ser um modelo — mesmo porque está ameaçado de cair.

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Não dá para torcer contra. É torcer contra os interesses do Brasil e dos brasileiros, e embirrar além da conta com o resultado das urnas. Que o governo Bolsonaro tenha menos trapalhadas, menos protagonismo da prole bolsonara, menos falsos problemas, menos infantilismos e menos reacionarismos, e mais momentos bonitos e politicamente corretos como o de Michelle Bolsonaro a discursar em libras no parlatório do Palácio do Planalto.

Publicado em VEJA de 16 de janeiro de 2019, edição nº 2617

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