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Sem apresentar nenhuma prova, Bolsonaro tenta ligar ONGs a queimadas

Presidente atribui insinuação ao seu "sentimento", mas pesquisa científica relaciona aumento dos incêndios na floresta amazônica ao avanço no desmatamento

Por Leonardo Lellis
Atualizado em 22 ago 2019, 09h38 - Publicado em 21 ago 2019, 11h58

Depois de um levantamento indicar aumento no número de focos de queimadas na Amazônia em 2019, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) insinuou que esse tipo de ação tem sido provocado por ONGs com o intuito de prejudicá-lo. “Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses ‘ongueiros’ para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa”, afirmou, ao sair do Palácio do Planalto, nesta quarta-feira, 21.

O presidente, entretanto, não apresentou nenhuma prova dessa sua hipótese, baseada apenas em seu “sentimento”. “O pessoal foi para lá filmar e tacaram fogo. Esse é o meu sentimento”. À parte disso, uma análise técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) relaciona o aumento dos incêndios na floresta, que já é 60% superior à média dos últimos três anos, ao avanço do desmatamento na região.

O aumento no desmatamento durante o governo Bolsonaro já provocou a suspensão de recursos dos governos da Noruega e da Alemanha para o Fundo Amazônia, que serviam para financiar atividades de preservação. Reportagem de capa de VEJA em sua edição 2648 mostra que, além de arranharem a imagem do país no exterior, as ações e o discurso do presidente contra o meio ambiente podem trazer enormes prejuízos à economia brasileira.

Do começo do ano até terça-feira 20 foram registrados 39.033 focos no bioma Amazônico, contra 22.165 no ano passado até o fim de agosto, segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número também já supera os dados dos oito primeiros meses de 2016, que tinham sido particularmente secos no início do ano e registrado 36.333 focos até 31 de agosto.

Questionado se o bloqueio de recursos do Fundo Amazônia pode prejudicar ações de combate ao fogo, Bolsonaro afirmou que 40% dos recursos serviam para “bancar ONGs”. O presidente também culpou os governadores dos estados da região pela situação. “Não quero citar nome, que está conivente com o que está acontecendo e bota a culpa no governo federal”, disse.

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O presidente disse que o governo discute maneiras de combater os incêndios. “A Justiça pode mandar, acredite, quarenta homens da Força Nacional para lá. É uma gota d’água no meio do oceano. As Forças Armadas, devemos usar, talvez a partir de amanhã, unidades ali da região, porque não tem como deslocar daqui para lá. Vai faltar comida para o Exército a partir de setembro. É a situação em que nós nos encontramos.”

Epidemia de incêndios

O número de focos de incêndios, para maioria dos estados da região, já é o maior dos últimos quatro anos. O Mato Grosso lidera, com 13.682 focos até segunda-feira, alta de 87% em relação ao ano passado. E já supera também o ano de 2016, que tinha sido o recorde para o estado, com 12.896 focos. No Brasil como um todo, este já é o ano com maior número de focos de calor desde 2013.

Uma das justificativas para a alta é que este ano a Amazônia novamente está enfrentando uma estiagem mais prolongada, como ocorreu em 2016, mas de acordo com os pesquisadores do Ipam, só a seca não explica a alta nas queimadas. Avaliando o cenário local de seca até o último dia 14, o grupo liderado por Divino Silvério observou que a estiagem atual está mais branda do que nos últimos anos.

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Os pesquisadores compararam os focos de incêndio registrados pelo Inpe com indicadores de alertas de desmatamento feitos pelo sistema de monitoramento por satélites SAD, do Imazon, e observaram uma correlação forte, indicando que “o desmatamento possa ser um fator de impulsionamento”, escrevem em nota técnica divulgada nesta terça-feira 20.

“Os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios foram também os que tiveram maiores taxas de desmatamento”, comparam os autores. Segundo eles, esses municípios são os responsáveis por 37% dos focos de calor em 2019 e por 43% do desmatamento registrado até o mês de julho na região. “Essa concentração de incêndios florestais em áreas recém-desmatadas e com estiagem branda representa um forte indicativo do caráter intencional dos incêndios: limpeza de áreas recém-desmatadas”, apontam.

(com Estadão Conteúdo)

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