Secretário de Polícia Civil de Witzel pede demissão no Rio
Decisão acontece dias após operação da PF contra governador; delegado Flávio Brito, atual subsecretário de Gestão Administrativa, foi indicado para posição
O secretário de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, delegado Marcus Vinicius de Almeida Braga, acaba de pedir demissão neste sábado, 30. A decisão foi anunciada dias após a Polícia Federal realizar a Operação Placebo, que teve o governador Wilson Witzel como alvo dos mandados de busca e apreensão.
Em nota, o governador confirmou a escolha do delegado Flávio Marcos Amaral de Brito, que era subsecretário de Gestão Administrativa, para o lugar de Marcus Vinicius de Almeida Braga.
Segundo fontes ouvidas por VEJA, a saída do secretário ocorreu após desgaste com Witzel, principalmente depois da Operação Favorito. A Polícia Civil, comandada pelo ex-secretário, trocou informações com a Polícia Federal. A ação teve como alvo principal o empresário Mário Peixoto, um dos maiores fornecedores de mão de obra terceirizada da gestão Witzel e acusado pela força-tarefa da Lava Jato de participação em irregularidades em contratos emergenciais sem licitação.
Peixoto está preso em Bangu 8. Ele é amigo de Lucas Tristão, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais. Marcus Vinicius, porém, não explicou o motivo do pedido de demissão. Witzel também não esclareceu as razões para a saída do secretário.
Braga era responsável por todas as investigações no estado, inclusive pelo caso de assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). É uma baixa importante na gestão, que vem enfrentando escândalos de corrupção principalmente na saúde.
Esta é a quarta baixa no primeiro escalão do governo nas últimas semanas. Outros dois secretários foram demitidos na última quinta-feira: André Moura (Casa Civil) e Luiz Claudio de Carvalho (Fazenda). Na semana passada, o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, também foi dispensado.
O delegado enviou uma carta de demissão a Witzel. Na mensagem, Braga elogia os “patamares sem precedentes na história” atingidos pela investigação criminal no Estado nos últimos meses. O agora ex-secretário ainda ressalta que até então, os órgãos de investigação contavam com “absoluta autonomia, tanto na condução das investigações como na escolha daqueles em cargos de chefia e direção”.
Flávio Brito, que assume a posição, está na Policia Civil desde 2002. Passou por diversas delegacias da Baixada Fluminense e da Capital, inclusive como titular de algumas unidades. Flávio exerceu diversos cargos na área administrativa e operacional desde 2009, entre eles o de diretor geral de Administração e Finanças. Na gestão do governador Wilson Witzel, o delegado foi subsecretário de Inteligência e, atualmente, ocupava o cargo de subsecretário de Gestão Administrativa, segundo na hierarquia da instituição.
Leia a íntegra da carta de demissão:
Me dirijo a Vossa Excelência, respeitosamente, para pedir nesta data minha exoneração do cargo de Secretário de Estado da Polícia Civil. Agradeço profundamente a Vossa Excelência pelos avanços que em um ano e cinco meses foram promovidos na Polícia Civil. Com o fim da Secretaria de Segurança Pública, no seu Governo, a investigação criminal no nosso Estado atingiu a patamares sem precedentes na história , sendo-lhe assegurada absoluta autonomia, tanto na condução das investigações como na escolha daqueles em cargos de chefia e direção. Órgãos que por razões políticas, como a inteligência, Draco e CGU não estavam na estrutura da Polícia Civil retornaram. No um ano e cinco meses que estive a frente da instituição promovemos ampla reestruturação interna, bem como combate incessante às organizações criminosas que atuam em nosso Estado. Estabelecemos níveis de parcerias sem precedentes com o Ministério Público, Polícia Militar e SEap, no interesse da segurança pública e da investigação criminal que resultaram no melhor cenário dos indicadores criminais em décadas. Não poderia deixar de agradecer a todos os policiais civis do Rio de Janeiro, que diariamente arriscam as suas vidas na defesa da nossa sociedade, mesmo sem o o reconhecimento proporcional aos resultados alcançados por parte dela. Há muito o que fazer ainda, mas me despeço serenamente, profundamente agradecido a Vossa Excelência pela oportunidade ímpar e na certeza de que as sementes foram plantadas para os avanços que ainda virão.
Marcus Vinicius de Almeida Braga.
Delegado de Polícia