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Caso Witzel: o informante de Bolsonaro na porta do Palácio Laranjeiras

Amigos do presidente como Waldir Luiz Ferraz, o Jacaré, contribuem com o que escutam, captam nas redes sociais ou simplesmente imaginam

Por Nonato Viegas Atualizado em 4 jun 2024, 14h24 - Publicado em 29 Maio 2020, 06h00

Precisamente às 5h30 da manhã na última terça-feira, 26, Bolsonaro recebeu em seu celular imagens dos carros da Polícia Federal em frente ao Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro, onde seriam cumpridos mandados de busca e apreensão. Os agentes estavam na porta da casa de Wilson Witzel esperando o relógio marcar 6 horas para iniciar a Operação Placebo. O informante não era um agente infiltrado, um delegado solícito ou um procurador amigável. Esperando o dia amanhecer para documentar a batida, lá estava a postos Waldir Luiz Ferraz, o Jacaré, fiel escudeiro do presidente da República. Sabe-se lá como, ele soube com antecedência da operação. “Eu estava passando e vi a movimentação”, despista. Depois de receber as imagens, Bolsonaro ainda pediu que ele “corresse” atrás de mais histórias sobre o inimigo.

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Desde a semana passada, o presidente tenta explicar a revelação feita por ele mesmo de que tem um serviço particular de informações. O coronel Câmara, como se viu na reportagem, coordena uma equipe que opera nesse setor de maneira sistemática e organizada. Mas é fato também que amigos, como Jacaré, contribuem com o que escutam, captam nas redes sociais ou simplesmente imaginam. Waldir é um personagem ativo desse submundo. No Rio de Janeiro, onde mora, ele sempre anda com dois celulares — ambos dados por Bolsonaro. Sua lista de contatos tem mais de 2 000 nomes. São essas pessoas, segundo diz, algumas de suas “fontes habituais”. É daí que o amigo do presidente recebe a maior parte das “histórias” que leva ao conhecimento do “chefe”. “Eu recebo as denúncias do Brasil todo. O presidente tem de saber”, afirma.

Waldir conhece Bolsonaro há mais de trinta anos. Ex-oficial de máquinas da Marinha, já trabalhou nos gabinetes dos vereadores Rogéria Bolsonaro e Carlos Bolsonaro, ex-mulher e filho do presidente. Diz que recebe cerca de 1 000 relatos por dia, faz uma triagem e, antes de o sol nascer, envia tudo ao presidente. Às vezes, diz, ele mesmo faz uma apuração antes de retransmitir os informes. Um exemplo recente foi quando decidiu investigar se os hospitais do Rio estavam realmente lotados de pacientes com Covid-19. Ele filmou salas e leitos de UTI vazios e encaminhou as imagens ao presidente para provar que o governador Witzel mentia sobre um possível colapso do sistema. Bolsonaro reproduziu a história em suas redes sociais.

Logo depois da posse, em janeiro, Waldir foi convidado pelo presidente para trabalhar em Brasília. Recusou a oferta alegando que não gostava de usar terno. “A verdade é que ninguém me queria lá. Sabiam que, se pisassem fora da linha, eu levaria ao presidente”, afirma. Ele continuou indo à capital sempre que tinha relatos considerados delicados a transmitir. Sobre o conteúdo, ele não fala. Pessoas próximas a Bolsonaro garantem que essas informações já levaram à queda de um ministro e foram decisivas para o presidente deixar o PSL. No fim do ano, Waldir se dizia frustrado com o chefe. “Apesar de eu levar as denúncias, os caras continuam lá”, explicou a VEJA, sem dar detalhes. Mas isso já é passado. Na terça-feira à noite, o presidente ligou para o amigo. Queria saber se ele já tinha novidade sobre a nova missão. Jacaré está em campo desde então.

Publicado em VEJA de 3 de junho de 2020, edição nº 2689

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