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PSDB sai das eleições afogado em crise que ameaça o futuro da sigla

O partido elege a menor bancada de sua história, perde a sua fortaleza em São Paulo após 28 anos e agora se encontra em queda livre

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 out 2022, 08h00

Partido que consolidou a estabilização da moeda e o fim da hiperinflação, com duas vitórias presidenciais em primeiro turno, ambas com Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, o PSDB luta há tempos contra um processo de definhamento. Quatro derrotas sucessivas para o PT em disputas para a Presidência, entre 2002 e 2014, reduziram o capital político da sigla. A derrocada evoluiu com líderes apanhados em casos de corrupção e a ascensão à direita do bolsonarismo em 2018, com a consequente perda do lugar que ocupava na polarização contra o petismo. Para 2022, as perspectivas já não eram das melhores. O resultado das urnas superou as expectativas mais pessimistas e os tucanos se encontram agora em queda livre.

No plano nacional, sem lançar candidato ao Planalto pela primeira vez, mesmo após organizar prévias que de nada serviram diante do boicote interno sofrido pelo vencedor, o ex-governador João Doria, a sigla apoiou Simone Tebet (MDB), que terminou com 4% dos votos. O golpe mais duro ocorreu em São Paulo, estado onde o partido nasceu e que comanda desde a vitória de Mario Covas em 1994 — o governador Rodrigo Garcia não foi sequer ao segundo turno. O clima de fim de festa no PSDB piorou com a forma com que o partido encerrou a sua hegemonia no estado. Garcia, um tucano neófito levado ao ninho por Doria em maio de 2021, não tardou a correr para os braços do bolsonarismo, declarando “apoio incondicional” a Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, candidato ao governo.

OPOSTOS - Leite e Serra: o gaúcho é uma das poucas esperanças no PSDB em 2022, enquanto o paulista foi derrotado em eleição para a Câmara -
OPOSTOS - Leite e Serra: o gaúcho é uma das poucas esperanças no PSDB em 2022, enquanto o paulista foi derrotado em eleição para a Câmara – (Reprodução/Edilson Dantas/Agência O Globo)

A adesão imediata a um presidente, ao qual o governo paulista foi um importante contraponto na pandemia, irritou parte do tucanato. Doria, em seguida, emitiu nota dizendo que não apoia nem Lula nem Bolsonaro. FHC declarou apoio ao petista, coisa que não havia feito no primeiro turno. Do lado de FHC, ficaram os senadores José Serra e Tasso Jereissati e o ex-senador Aloysio Nunes. “O apoio de Garcia a Bolsonaro e Tarcísio está ‘permitido’ dentro da absoluta confusão política que reina no PSDB. Mas me parece humilhante o apoio ‘incondicional’ depois de Tarcísio repeli-­lo”, diz Aloysio Nunes, lembrando que o ex-ministro esnobara o PSDB. Há menos tempo no partido, mas igualmente relevante, Rodrigo Maia, que era secretário de Garcia, pediu demissão na sequência. Manter a hegemonia em São Paulo era prioridade na eleição. Em 2018, isso havia sido conseguido a duras penas, com Doria recorrendo ao já célebre “BolsoDoria”, aproveitando-se do fato de que o fenômeno Bolsonaro não tinha candidato no estado. Agora, o PSDB capitula diante de Tarcísio e corre o risco de, como ocorreu no país, ver o seu eleitorado conservador e antipetista ser anexado pelo bolsonarismo.

O partido, que já tinha chegado combalido às eleições de 2018, agora respira por aparelhos. Conseguiu ir ao segundo turno em quatro estados, sendo dois deles já governados por tucanos: Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Também vai tentar trincar a muralha vermelha do Nordeste, com Raquel Lyra, em Pernambuco, e Pedro Cunha Lima, na Paraíba. Seu maior nome nas urnas será Eduardo Leite, que ilustra com perfeição a trajetória errática recente do PSDB: ele renunciou ao governo, tentou ser presidente, perdeu as prévias, insistiu, ameaçou deixar o ninho, não conseguiu e voltou a disputar o governo, coisa que dissera que não queria. Levou um calor de Edegar Pretto (PT), a quem superou por 2 441 votos, e terá dificuldades para vencer o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL). As outras disputas também não serão fáceis, mas é o que resta de esperança. “Olhando o copo meio cheio, vejo quatro lideranças aparecendo com o perfil completamente diferente da velha política. O caminho são esses jovens reassumirem a liderança e a frente do partido e, ao assumirem, levantar as bandeiras social-democratas, voltar aos nossos fundamentos”, diz Tasso.

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arte PSDB

Não será nada fácil. No Congresso, a legenda virou nanica ao eleger treze deputados, a menor bancada de sua história, e nenhum senador. O fiasco se deu apesar de uma estratégia de privilegiar as eleições ao Parlamento. Dos 166,4 milhões de reais gastos com campanhas até quarta-feira, 75,1 milhões de reais (45,1%) foram destinados a candidatos a deputado federal. Um símbolo da derrocada foi Serra, que desistiu de disputar o Senado, era considerado puxador de votos para a Câmara e sequer foi eleito. “O PL elegeu, só em São Paulo, dezessete deputados, mais do que a bancada do PSDB inteira na Câmara”, compara José Aníbal, ex-­presidente do partido, que também não conseguiu uma cadeira de deputado.

Desorientado e sem boas perspectivas, sob a pífia liderança do presidente Bruno Araújo (apelidado de “coveiro” por alguns correligionários), o PSDB resolveu não se arriscar. Liberou seus filiados no segundo turno para apoiar quem for mais adequado ao cenário local. Fundado nos anos 1980 em cima de um ideário social-democrata, o PSDB, lamentavelmente, tem cada vez menos coloração própria. “Existe a possibilidade de o partido se reerguer, mas para isso é necessário posicionamento ideológico claro”, alerta a cientista política Graziella Testa, da FGV. No mundo político, a aposta é que os partidos de centro tenham que caminhar para uma fusão de siglas. Uma coisa, no entanto, é certa: o PSDB que fez história no país certamente não existe mais.

Publicado em VEJA de 12 de outubro de 2022, edição nº 2810

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