Por Gabriel Castro, na VEJA Online:
A crise do governo com a base aliada no Congresso terá novos capítulos nesta semana. Já na terça-feira, as bancadas de três partidos na Câmara têm encontros marcados para reavaliar a posição diante do Planalto. Todos têm queixas a fazer: perda de espaço no governo, congelamento de emendas parlamentares, falta de diálogo da parte do Executivo. A proximidade das eleições municipais também influencia o cenário.
Os deputados do PR se encontrarão às 18 horas e, fazendo jogo de cena ou não, falam abertamente na possibilidade de sair da base governista. A decisão dos senadores do partido, que aderiram à oposição na semana passada, influencia. O PR tem 36 deputados. A ala que defende uma guinada para a oposição conta com ao menos 12 parlamentares — a maior parte ligados a Anthony Garotinho (RJ). Com a decisão do Senado, os deputados dificilmente poderão ignorar o tema.
Garotinho tem comprado brigas com o governo federal por causa de temas que desagradam a bancada evangélica, como a nomeação de Eleonora Menicucci para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, por causa de suas opiniões controversas com relação à legalização do aborto. Mais do que isso: aliado do DEM nas eleições municipais fluminenses, o ex-governador tem afinado o discurso com os oposicionistas como uma forma de se preparar para o embate com o grupo político do prefeito Eduardo Paes (PMDB), parceiro da presidente Dilma Rousseff.
Atualmente, a bancada do PR na Câmara tem adotado uma postura que define, na teoria, como “independente”. Na prática, acompanha o governo em todas as votações importantes. Integrantes do partido contrários à ida para a oposição argumentam que o rompimento só atrapalharia a obtenção das benesses do Executivo. O outro grupo, por sua vez, lembra que as ameaças do partido não surtiram efeito até agora. A sigla tem endossado queixas públicas contra o Planalto desde que perdeu o Ministério dos Transportes, em julho do ano passado, quando Alfredo Nascimento deixou o cargo depois que VEJA revelou irregularidades na pasta.
Novo foco
Pouco antes do encontro do PR, às 14 horas, outros dois partidos podem rever a posição de apoio a Dilma Rousseff: o PSC e o PTB. As legendas, que formam um bloco informal na Câmara com o objetivo de somar forças, farão uma reunião conjunta. Líder dos 21 deputados do PTB, Jovair Arantes (GO) diz que o rompimento com o governo não é o tema principal do encontro. “Não é esse o objetivo. Mas o assunto pode surgir”, reconhece.
Para além do discurso moderado do líder, a verdade é que a dupla PTB-PSC pode se transformar em mais um foco de insatisfação. Os dois partidos não têm ministérios e brigam por cargos menores – geralmente sem sucesso. O posto mais importante do PTB, a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), saiu das mãos do partido por causa de denúncias de corrupção mostradas por VEJA.
Sem ministérios, o PSC se queixa porque praticamente não tem cargos no governo. O principal deles talvez seja o de Antônio Borges dos Reis, cujo tamanho do título é inversamente proporcional à importância dele: diretor do Departamento de Políticas de Acessibilidade e Planejamento Urbano da Secretaria Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos do Ministério das Cidades. “Nós temos uma bancada com um número interessante, como o PCdoB e o PDT”, argumenta o líder do partido, Ratinho Júnior (PR). “O que a gente busca é ter o mesmo tratamento. Quem ganha a eleição quer governar junto. Nós temos quadros para isso”. O filho do apresentador Ratinho não está de todo errado. O PRB, que agora tem Marcelo Crivella no Ministério da Pesca, conta com dez deputados. O PSC tem 17.
Insatisfação
O clima de rebelião atinge também outros partidos da base aliada. O principal deles, o PMDB, ajudou a derrubar na semana passada a indicação de Bernardo Figueiredo para a presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) no Senado. No governo Dilma, os peemedebistas perderam ministérios que funcionam como vitrines, como o da Saúde. Agora, com a proximidade das eleições municipais, temem ser escanteados pelos petistas, que têm a máquina federal nas mãos.
O PDT, que perdeu o comando do Ministério do Trabalho e agora tenta reassumir a pasta, também já ensaiou movimentos de rebeldia diante do governo. As ameaças recentes de aliados motivaram Dilma Rousseff a trocar o líder do governo na Casa. Saiu Romero Jucá, entrou Eduardo Braga. Na Câmara, outra troca: Arlindo Chinaglia assumiu o lugar de Cândido Vaccarezza.