O ex-presidente Lula (PT) terminou o ano de 2021 numa situação confortável. Segundo as pesquisas, ele lidera a corrida ao Palácio do Planalto com ampla vantagem sobre Jair Bolsonaro (PL) tanto no primeiro quanto no segundo turno. O petista também derrotaria todos os demais pré-candidatos e tem um percentual de rejeição menor do que o de seus principais rivais. Na seara jurídica, ele se livrou das condenações sofridas no âmbito da Lava-Jato por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda declarou Sergio Moro — seu antigo algoz e hoje rival — parcial ao atuar como juiz.
Com o caminho livre, Lula manteve basicamente uma agenda positiva nos últimos meses. Em viagem à Europa, foi recebido com pompa e circunstância por líderes políticos. Na semana do Natal, foi homenageado num jantar em São Paulo ao qual compareceram representantes de diferentes partidos e o ex-governador Geraldo Alckmin, cotado para ser vice do petista na chapa de 2022. Organizado por um grupo de advogados amigos, o convescote ajudou nos esforços do ex-presidente para se apresentar como moderado e possível líder de uma frente em defesa da democracia, que, conforme o discurso petista, seria montada para deter a ameaça autoritária representada por Bolsonaro.
Essa liberdade de atuação não deve se repetir em 2022. Aliados de Bolsonaro pretendem deflagrar uma campanha para relembrar os escândalos de corrupção nos dois mandatos de Lula. O senador Flávio Bolsonaro, por exemplo, só se refere ao ex-presidente, que passou 580 dias detidos, como “ex-presidiário”. As temporadas na cadeia de outras estrelas petistas também receberão destaque nessa ofensiva. Lula sabe que será fustigado e deve adotar como discurso o mantra de que foi inocentado, o que não é verdade. O STF anulou as condenações contra ele sem entrar no mérito, tirou os processos de Curitiba e determinou que fossem retomados em outras jurisdições. É certo que todo o passivo do PT no mensalão e no petrolão voltará à tona.
Petistas costumam dizer que a pauta da corrupção não terá o mesmo peso de 2018. Especialistas concordam, mas ressaltam que ela ainda é importante para uma fatia considerável da população. Seu poder de dano, portanto, não pode ser descartado. Há certo consenso de que a economia será decisiva para o resultado da eleição. Lula também será confrontado nessa área. Ele costuma se gabar de que a economia cresceu 7,5% em 2010, último ano de seu mandato. É fato, mas também é fato que sua sucessora, Dilma Rousseff, jogou o país na recessão econômica. Os rivais, inclusive Ciro Gomes (PDT), não deixarão que o legado de Dilma seja esquecido pelos eleitores. A fatura será cobrada, obviamente, de Lula.
Neste início de 2022, o petista pretende terminar de estruturar a coordenação de sua campanha. Por enquanto, estão definidos os nomes de Rui Falcão (estratégia política de comunicação), Franklin Martins (operacionalizar a comunicação) e Gleisi Hoffmann (alianças com partidos e nos estados). Entre janeiro e fevereiro, a ideia é priorizar viagens pelo Brasil, com foco no Nordeste e no Sul, para reuniões com líderes políticos e “trabalho de bastidor”, segundo um aliado do ex-presidente. Também está nos planos do petista viajar a países com líderes de centro-esquerda, como Bolívia, Peru e Chile, e aos Estados Unidos.
Em 2021, Lula jogou praticamente sem marcação. Neste ano eleitoral, seja no Brasil, seja no exterior, ele estará sujeito a todo tipo de cobrança e canelada.