Do aval do presidente Michel Temer para pressionar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao papel do ex-ministro Geddel Vieira Lima como interlocutor dileto entre a JBS e o gabinete presidencial, passando pela estratégia para silenciar o ex-deputado Eduardo Cunha. Os temas tratados pelo empresário Joesley Batista com Temer nos quase 40 minutos de conversa reservada no Palácio do Jaburu revelam não apenas a proximidade entre os dois, como também um grau elevado de submissão do poder público aos interesses do empresário, um dos mais ricos do Brasil e, de longe, o maior doador das últimas campanhas eleitorais. A seguir, alguns dos temas discutidos entre Temer e o dono da JBS durante a conversa do último dia 7 de março.
As tentativas de influenciar o ministro da Fazenda
Joesley e Temer conversam sobre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que por quatro anos foi o principal executivo da holding do empresário. O dono da JBS revela que, desde que Meirelles assumiu a Fazenda, conversou com ele várias vezes – muitas delas sobre assuntos de seu estrito interesse. Já sugeriu, por exemplo, que o ex-subordinado trocasse o comando da Receita Federal, órgão vinculado à pasta da Fazenda. O empresário, com jeito, se queixa: diz que seus pedidos nem sempre são atendidos por Meirelles. E pede o auxílio de Temer para que seus interesses passem a ser mais bem tratados pelo ministro. “É isso que eu quero. Se eu falar com ele, e ele empurrar para você, eu poder dizer, não, não, não, pera aí (…) Consulta o presidente. Consulta e me fala”, diz Joesley. No que Temer concorda: “Consulta o presidente”, diz. Joesley revela interesse em nomear servidores em órgãos estratégicos, como o Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão responsável pela defesa da concorrência empresarial. Ele fala na necessidade de colocar um “presidente ponta firme” no conselho. Temer concorda.
O processo de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE
O presidente e o empresário conversam sobre o processo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode resultar na cassação da chapa Dilma-Temer. “No TSE, como é que tá?”, pergunta Joesley. Temer diz: “Um troço meio maluco. Eu acho que não passa, a minha cassação não passa porque eles têm uma consciência política”. Depois, Temer diz que, na eventualidade (que, como se sabe, ele considera remota) de o tribunal decidir pela sua cassação, ainda haveria diversos recursos possíveis e o caso não teria um desfecho antes de dezembro de 2018. “Tem recurso no TSE, tem recurso no Supremo. Isso daí já terminou o mandato”, disse o presidente.
“Tamo junto”
O dono do frigorífico JBS diz a Temer, logo no início da reunião, Joesley se coloca à disposição de Temer para o que for necessário. “Tamo junto, viu? O que o senhor precisar de mim, o senhor me fala”, diz. O empresário havia se encontrado pela última vez com Temer dez dias antes do impeachment. Desde então, seus contatos com o Palácio do Planalto se davam por meio do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Além de servir de ponte com o gabinete presidente, Geddel, segundo o próprio Joesley, também era um dos pontos de contato com o operador de mercado Lúcio Funaro, que junto com Eduardo Cunha ameaçava implodir a cúpula do PMDB.
A “perseguição” do Ministério Público
Joesley reclama da postura do Ministério Público nas investigações de que é alvo. “É duro, né, ô presidente? Porque é o seguinte, igualzinho o senhor aqui também, né? A gente fica equilibrando aqueles pratos, né? Um monte. Nós não temos só isso. Tem a empresa, tem o concorrente, tem os Estados Unidos. Tem o dia a dia. Tem a empresa. Aí tem que parar por conta de resolver coisa. Eu falo para o procurador lá: ‘Ô doutor procurador, o senhor quer me investigar, não tem problema. Mas não fica dando solavanco, não. Não fica dando solavanco e fazendo medidas destemperadas e divulgando para a imprensa. Ô doutor, é o seguinte: eu posso estar certinho, mas eu vou chegar lá morto. De tanto solavanco que o senhor vai me dar, se eu tivesse 100% certo, eu morro. Para com isso.’ Da última vez eu até falei pra ele: (…) ‘Se o senhor ficar desse jeito, vai me quebrar, puta que pariu’. Mas tudo bem, nós somos do couro grosso, não é?”. Temer tenta tranquilizá-lo: “Isso vai passar. Não dá para ficar a vida toda assim”. Ao encerrar o assunto, Joesley critica o instrumento da delação premiada – ao qual viria a aderia em seguida. Diz ele: “Passar vai passar (…) Se não for atrás de algo positivo, esses meninos, eles não têm juízo, eles não param. Eles vão ficar… porque um delata um, que delata um, que delata outro”.
A conexão direta
Joesley Batista pergunta a Michel Temer como deveria proceder quando quisesse falar com ele. “Qual a melhor maneira de falar contigo?”, indaga. O presidente diz que o empresário pode visitá-lo quando quiser, no Jaburu, em encontros reservados como o daquela noite de 7 de março, após o expediente. Os dois combinam que, “se for alguma coisa que precisa combinar”, falarão pessoalmente. O canal, por sugestão de Temer, seria sempre Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial do gabinete presidencial. Loures, agora deputado federal, é o mesmo que, por indicação de Temer, se encarregou de resolver uma demanda da JBS no Cade – serviço pelo qual recebeu R$ 500 mil em propina, em uma operação registrada passo-a-passo pelos investigadores da Lava-Jato.