Vizinhos da casa onde o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato se escondeu em Maranello, no norte da Itália, afirmam que o mensaleiro condenado a doze anos e sete meses de cadeia estava na cidade havia meses e saía diariamente de casa. A versão contradiz a informação prestada nesta quinta-feira pela polícia de Módena, segundo quem Pizzolato estaria na cidade há apenas uma semana. Conforme a polícia local, ele não saía de casa e mantinha todas as janelas fechadas durante o dia.
Os policiais disseram que encontraram grande quantidade de comida estocada ao entrarem na residência na quarta-feira durante a prisão do mensaleiro. “Era como se ele estivesse se preparando para ficar vários dias sem sair de casa”, contou Stefano Savo, comandante da polícia de Módena.
O brasileiro ocupava um dos quartos do apartamento do sobrinho Fernando Grando, na via Vandelli, em um sobrado de dois andares no número 167, cujo valor de aluguel não chega a 800 euros por mês. O local é um dos cruzamentos mais movimentados da pequena cidade, rodeado por lojas, restaurantes e supermercados. Grando é engenheiro da Ferrari, montadora que tem sede em Maranello.
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No período em que passou na pequena cidade de Maranello, Pizzolato adotou um estilo discreto, mas não recluso, segundo vizinhos. Todos os dias, exatamente no mesmo horário, deixava a casa do sobrinho, cruzava a rua e entrava num mercado para comprar comida. Costumava caminhar pelas ruas da região central relativamente tranquilo. Eles dizem que Pizzolato agia de maneira cordial – costumava cumprimentar a todos que encontrava – e que não despertava suspeita na vizinhança.
Maranello lembra uma típica cidadezinha do interior – são apenas 17.000 habitantes – e qualquer novo morador é notado e comentado. Para a cabeleireira Giorgia Vitali, que tem um salão colado à casa do sobrinho de Pizzolato, o brasileiro já estava na cidade “antes do Natal”. “Parecia ser uma pessoa gentil”, contou. “Ele saudava e eu saudava de volta. A última vez que o vi faz já algumas semanas”, disse Giorgia.
O proprietário do mercado Sigma, que fica na calçada oposta ao esconderijo de Pizzolato e era frequentado pelo mensaleiro inclusive aos domingos, contou que o reconheceu quando viu a foto de Pizzolato no jornal. “Logo entendi quem era a pessoa”, disse o empresário Gaetano, que preferiu não ter o sobrenome revelado. “Ele vinha todos os dias pela manhã, por volta das dez horas. Comprava pasta, lasanha congelada, cerveja e pagava tudo em dinheiro. Agora que entendi que ele é um homem perigoso. Pessoalmente, parecia alguém muito distinto, muito sério e que falava pouco.”
Moradores também disseram que se assustaram com a operação da polícia no local, na manhã da quarta-feira. “Eu achava que isso só ocorria em filmes”, disse Giordana Richieri. Ela também afirma que via Pizzolato “com frequência” andando pelas ruas.
Cerco – Agentes da polícia italiana à paisana já ocupavam todo o bairro onde estava a casa de Pizzolato e haviam montado uma arapuca. Para forçar que as janelas fossem abertas e terem certeza de que era o brasileiro que estava dentro da casa, os policiais optaram por uma ação drástica: cortar a energia. A mulher do foragido, a arquiteta Andréa Eunice Haas, foi então obrigada a abrir a janela, o que permitiu que a operação fosse levada a cabo.
Nos minutos seguintes, a rua da pacata cidade veria uma ação de cerca de dez policiais para capturar o brasileiro, que chegou a insistir que ele era, na verdade, Celso – seu irmão morto há 36 anos cuja identidade foi usada na fuga. “Todos os elementos que encontramos apontam que ele planejou muito bem a fuga e que isso foi algo organizado há muito tempo”, disse Stefano Savo, comandante da polícia local. Além de dezenas de documentos, dois computadores foram apreendidos. Pizzolato não resistiu à prisão e saiu da casa sem ser algemado.
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O advogado do mensaleiro, Lorenzo Bergami, visitou Pizzolato na prisão de Módena nesta quinta-feira: “Ele [Pizzolato] está profundamente abatido”. Na primeira conversa com o defensor, Pizzolato voltou a insistir que era inocente. Mas Bergami alertou: “Aqui não é mais o momento de falar sobre isso”. A meta do advogado é evitar que o mensaleiro seja extraditado.
Desde a prisão de Pizzolato, Andréa Eunice Haas se mantém reclusa em casa, com janelas fechadas e luzes apagadas. Nesta quinta-feira, ela apareceu na porta somente quanto um policial visitou a residência. Andréa se recusou a conversar pelo interfone com jornalistas de plantão no local. O sobrinho de Pizzolato Fernando Grando costumava caminhar ou pedalar de casa ao trabalho, mas agora usa um carro. Ele também se recusou a falar com jornalistas.
A Polícia Federal brasileira vai investigar a participação da mulher e do sobrinho de Pizzolato na fuga do ex-diretor do Banco do Brasil para a Itália. O petista fugiu em setembro de 2013, com passaporte falsificado em nome de um irmão morto.
(Com Estadão Conteúdo)