PF quer ouvir Lúcio Funaro no inquérito dos Portos
Intenção é "explorar com melhores detalhes as novas informações disponíveis" que estão na delação do doleiro
A Polícia Federal (PF) quer ouvir o delator Lúcio Funaro no inquérito que apura se o presidente Michel Temer (MDB) recebeu vantagens indevidas em troca de favorecimento a empresas do setor portuário com a edição do decreto dos portos em maio de 2017.
A intenção, segundo o delegado Cleyber Malta Lopes, é “explorar com melhores detalhes as novas informações disponíveis, relacionados aos fatos investigados, a partir dos termos que constam” na delação premiada de Funaro. Essa foi uma das pendências listadas por ele ao pedir, na quinta-feira passada, 28, a prorrogação por 60 dias do prazo para a conclusão do inquérito.
O ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, autorizou novas diligências até manifestação da Procuradoria-Geral da República, mas ainda não se pronunciou sobre o pedido de prorrogação. Embora o inquérito tenha sido aberto para apurar fatos relacionados à edição do decreto dos portos, a investigação avançou sobre a atuação do grupo político de Temer em relação a fatos anteriores ao decreto, mas também relacionados ao setor portuário.
A inclusão do acordo de Funaro reforça essa nova linha de investigação. Em sua delação ele abordou fatos relacionados à edição da Medida Provisória 595/2013, conhecida como MP dos Portos e que tinha o deputado cassado Eduardo Cunha (MDB) “como o articulador”.
Na delação, Funaro apontou que o presidente Michel Temer tem negócios com a empresa Rodrimar e teria influenciado diretamente a aprovação da MP 595/2013, conhecida como Medida Provisória dos Portos, para defender interesses de grupos ligados a ele. A MP foi aprovada em maio de 2013. Funaro falou sobre uma possível comissão para políticos pela aprovação da MP, entre eles Temer, e citou também o grupo Libra e pelo menos um sócio do grupo.
Cleyber Malta Lopes afirmou, ainda, que pretende usar o prazo adicional para analisar a relação da Argeplan, do coronel da reserva João Batista Lima Filho, com a empresa Eliland do Brasil, que teve contrato de dez anos com a empresa Rodrimar, também investigada. “Será possível colher novos elementos relacionados às empresas que surgiram recentemente na investigação, com indicativo de utilização interposta pela empresa Argeplan e seus sócios, para intermediar contratos com empresas ligadas ao setor portuário, a exemplo da Eliland do Brasil.”
A defesa de Lúcio Funaro afirmou que ele seguirá colaborando, como vem fazendo de modo efetivo. O advogado Delio Lins, defensor de Eduardo Cunha, afirmou que “Funaro é um delator desequilibrado, que não apresenta quaisquer provas do que fala”. Por meio de sua assessoria, a Rodrimar disse que não foi beneficiada pelo decreto — o que foi reconhecido em relatório da Polícia Federal — e que nunca atuou para receber privilégio do poder público.
“O Grupo Libra reafirma seu compromisso em cooperar com a justiça, e reitera que desde o início das investigações seu único interesse é que a verdade seja apurada, e assim, suas legítimas concessões, ganhas de maneira legal e por concorrência pública não sofram ainda mais as perdas decorrentes de todo esse longo processo”, disse a empresa, em nota.