Não faltaram sinais de que a ONG Tesloo tinha potencial de lesar os cofres públicos. A entidade é suspeita de pagar “mesada” para o deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB) em um esquema de corrupção na prefeitura do Rio de Janeiro, revelado pelo site de VEJA. Em 2012, a Tesloo deixou de cumprir serviços para os quais foi contratada. Mesmo assim, voltou a ser contratada pelo município e Bethlem, gestor do contrato, acabou promovido na burocracia interna municipal, de secretário de Assistência Social para secretário de Governo. Gravações mostraram na sexta-feira que Bethlem disse para sua ex-mulher, Vanessa Felippe, que retirava entre 65.000 e 70.000 reais por mês em propina paga pela Tesloo.
Nesta segunda-feira, a prefeitura do Rio deu início a uma auditoria especial para investigar irregularidades em todas as contratações firmadas por Bethlem nas secretarias que comandou no município, de 2009 a 2014: Ordem Pública, Assistência Social e Governo.
Sem apresentar documentos, a administração municipal também informou que uma auditoria de rotina da Controladoria Geral do Município constatou, em setembro de 2012, que a Tesloo cumpriu somente 54,22% das metas estabelecidas em um contrato com a Secretaria Municipal de Assistência Social. Apesar disso, a ONG foi contratada para novos serviços depois dessa descoberta e Bethlem jamais foi considerado suspeito de irregularidade. “Não houve qualquer sinal de que havia naquele momento qualquer tipo de beneficio pessoal para o deputado Rodrigo Bethlem”, afirmou o prefeito Eduardo Paes (PMDB), no último sábado.
No convênio nº 151, iniciado em setembro de 2011, a ONG Tesloo foi contratada pelo município para “promover a revisão cadastral, recuperação, atualização e inserção de novas famílias no Cadastro Único de Programas Sociais- CADÚnico”. Mas só 221.039 famílias foram cadastradas até setembro de 2012, contra uma previsão de 408.207 famílias. O contrato autorizava um pagamento de 9.687.841,10 reais para a ONG pelo serviço. Até setembro, já tinham sido desembolsados 6.110.517,11 reais (63,07% do total). Por isso, com a constatação de que o serviço ficou incompleto, a Controladoria recomendou que a Secretaria de Assistência Social solicitasse a devolução do valor excedente (858.142,64 reais).
A prefeitura diz ainda que, a partir de setembro de 2012, nenhum outro pagamento foi feito para a Tesloo pelo serviço de atualização do CADÚnico. Naquele ano, o Tribunal de Contas do Município (TCM) do Rio de Janeiro tinha solicitado que a prefeitura não renovasse convênios com a ONG, por indícios de fraudes.
No sábado, o prefeito Eduardo Paes tinha informado que o valor excedente recebido pela Tesloo, no contrato de atualização do CADÚnico, foi devolvido. Mas ele não soube explicar quando nem quanto. Nesta segunda-feira, a administração municipal diz que a “verificação completa da prestação de contas ainda está em curso” e que, só depois disso, vai poder informar quanto foi devolvido.
De acordo com o comunicado da prefeitura, não existe mais nenhum contrato em vigor com a ONG Casa Espírita Tesloo ou a Obra Social João Batista (nova denominação da entidade).
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