O que Aras diz ter nas conversas com bolsonarista alvo de Alexandre
Procurador-geral é amigo de longa data do empresário Meyer Nigri, alvo de uma operação de busca determinada pelo ministro do STF
Assessores e amigos próximos do procurador-geral da República Augusto Aras ouviram dele o relato de que não haveria nada de comprometedor no conteúdo trocado entre ele e o empresário Meyer Nigri, fundador da Tecnisa e alvo, na terça-feira, 23, de uma operação policial determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O magistrado havia decretado busca e apreensão e a quebra dos sigilos bancários e telemáticos de oito empresários bolsonaristas, entre os quais Nigri, após eles terem trocado mensagens em um grupo privado de WhatsApp sobre a hipótese de golpe de Estado caso o presidente Jair Bolsonaro saia derrotado na eleição.
Com a batida policial, o empresário forneceu a senha de seu aparelho celular, onde estavam as mensagens sob investigação e também conversas com o procurador-geral. O caso ganhou ares de preocupação maior após o site Jota ter revelado que, entre as apreensões decretadas por Alexandre, estão mensagens de Augusto Aras a alguns dos empresários. Amigo de longa data do chefe do Ministério Público, Meyer Nigri procurou o governo horas depois de entregar seus celulares à polícia para informar que existem, sim, diálogos entre os dois, mas que as conversas não teriam referências a rupturas institucionais ou a um golpe militar.
Aras, segundo o relato de interlocutores, confirmou a existência de conversas entre ele e o empresário alvo do STF, mas as classificou como mensagens sociais, comentários neutros e, “no máximo, uma indicação de vinho”. Sobre o conteúdo enviado por Nigri, porém, ele disse não se recordar ao certo porque seu celular tem mecanismos de autodestruição de diálogos e eles não estariam mais disponíveis.
Conforme mostra VEJA na edição que chega neste fim de semana às bancas e plataformas digitais, a ofensiva de Alexandre de Moraes provocou um sentimento de união entre figurões do PIB. Empresários com acesso direto a ministros do Supremo, por exemplo, se articularam para procurá-los com reclamações e um recado em comum: o de que, ao dar guarida a buscas e quebras de sigilo por mensagens isoladas de um pequeno grupo e sem evidências claras de ilícito, o STF estaria à beira de reeditar métodos heterodoxos utilizados na Operação Lava-Jato condenados pela própria Suprema Corte. O principal temor de setores do patronato é que investidas como a de terça-feira contra os empresários possam provocar desconfiança no mercado e afetar diretamente seus negócios.