Está em estágio avançado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) uma investigação que apura o possível envolvimento de desembargadores de Goiás na venda de sentenças a quadrilhas como a que atua no STJ, revelada por VEJA em uma série de reportagens, e a desbaratada pela Polícia Federal na quinta-feira, 24, quando cinco desembargadores do Mato Grosso do Sul foram afastados do cargo por ordem do ministro Francisco Falcão.
Sigiloso, o caso ganhou tração nos últimos dias depois de se verificar que, ainda de que forma mais residual, conversas entre o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e o advogado Roberto Zampieri, armazenadas no celular deste último, fazem referência à comercialização de decisões judiciais tanto no Mato Grosso do Sul quanto em Goiás, onde a dupla alegava ter contatos eficientes para moldar veredictos de desembargadores conforme seus interesses. Foi a partir do telefone de Zampieri que a Polícia Federal descobriu que os dois também corrompiam servidores do STJ para produzir minutas de votos nos gabinetes de quatro ministros do tribunal e depois vendiam a decisão pronta a clientes.
Na operação Ultima Ratio, que atingiu em cheio o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, a Polícia Federal identificou conversas de Andreson Gonçalves com o desembargador Marcos José de Brito Rodrigues. Em maio de 2023, por exemplo, Andreson envia ao desembargador dois prints de processos no TJ. Dias depois, o juiz pede a seu principal assessor para imprimir os votos daquele caso específico. O valor da causa em discussão pela dupla ultrapassava os 64 milhões de reais.
O nome do lobista já havia entrado no radar dos investigadores porque outro investigado, Felix Jayme Nunes da Cunha havia recebido mais de 1 milhão de reais de uma empresa de Andreson. Na sequência, os valores foram sacados em espécie. “Considerando que Anderson envia os extratos dos processos a Marcos Brito e que ele proferiu decisão em pelo menos um processo relacionado a eles, somado à proximidade entre eles (…), além das altas movimentações do primeiro com Felix Jayme, entendemos haver fortes indícios de que tal desembargador estivesse recebendo propina de Andreson”, anotou a PF no inquérito sobre o Mato Grosso do Sul.