O ‘maior erro’ de Bolsonaro na relação com Gilmar Mendes
Ex-presidente da República lamentou ter entrado em rota de colisão com ministro do STF
O ex-presidente Jair Bolsonaro está convencido de ter melindrado irremediavelmente sua relação com o decano do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. De longe o magistrado com maior perfil político na Corte, Mendes tem participação ativa em consultas sobre indicados em tribunais superiores. Por conta desse histórico é que Bolsonaro avalia que, na reta final de seu mandato, ganhou em definitivo um inimigo público.
Em recente conversa com o ministro, o presidente do PL Valdemar Costa Neto relatou um desabafo – com boa dose de exagero – de Bolsonaro. “Meu maior erro no governo foi ter brigado com o Gilmar”, afirmou o ex-presidente segundo interlocutores do ministro e do dirigente partidário. O motivo da suposta desavença, na versão do ex-mandatário, seria a decisão de não ter escolhido o desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) Ney Bello, apadrinhado por Gilmar, para uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Embora, de acordo com integrantes do Judiciário, Bello tenha recebido garantias do próprio Planalto de que seria um dos escolhidos, ao final acabaram indicados os desembargadores federais Messod Azulay Neto e Paulo Sérgio Domingues. Apesar de o nome de predileção do decano do STF não ter conseguido a vaga, o aceno de Bolsonaro a Mendes mira, na verdade, um horizonte muito maior.
Às vésperas de ser julgado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em um processo que pode torná-lo inelegível, Jair Bolsonaro tenta construir pontes mínimas com o ministro e com o Supremo, Corte a que pretende recorrer depois do provável veredicto de que deverá ser banido do jogo político pelo menos até 2030. Não será tarefa fácil. Além de ter atacado o Judiciário diuturnamente durante os quatro anos de mandato, boa parte do STF tem por entendimento que não deve se intrometer em decisões do eleitoral.