Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Número recorde de candidatos trans esquenta a briga contra a intolerância

No total, são 58 nomes na disputa por cargos de deputado estadual e federal, senador e governador — de acordo com a ONG VoteLGBT

Por Sofia Cerqueira, Camille Mello Atualizado em 12 set 2022, 12h59 - Publicado em 11 set 2022, 08h00

Retrato cruel de uma realidade que persiste no país, a história de Erika Hilton passa por uma expulsão de casa aos 14 anos pelo fato de se identificar com o gênero oposto ao seu sexo biológico, pela vida desamparada na rua e por sete anos de prostituição. Decidida a transformar seu drama em bandeira contra a intolerância, a travesti paulista de 29 anos candidatou-se pelo PSOL, tornou-se a vereadora mais votada do Brasil em 2020 e agora tenta uma inédita vaga na Câmara dos Deputados. O nome de Erika integra a lista recorde de candidaturas de pessoas trans nestas eleições: 58 candidatos a deputado estadual e federal, senador e governador — de acordo com a ONG VoteLGBT. Quando se contabilizam todos os aspirantes a cargos eletivos que declaram fazer parte do universo LGBTQIA+, o crescimento é ainda mais expressivo: 61%, ou 254 candidatos a deputados estaduais e federais. “O ódio e a discriminação que sofremos nos intimam a disputar espaço no poder. Não há como pensar em democracia sem a nossa participação”, defende Erika.

REAÇÃO À TRANSFOBIA - Ainda pré-candidata a deputada federal, Paula Benett, 42 anos, foi chamada de “mulher de próstata” nas redes. “Já passou da hora de chegarmos ao Congresso. Não é questão de cotas, mas de estarmos preparadas”, ressalta. -
REAÇÃO À TRANSFOBIA – Ainda pré-candidata a deputada federal, Paula Benett, 42 anos, foi chamada de “mulher de próstata” nas redes. “Já passou da hora de chegarmos ao Congresso. Não é questão de cotas, mas de estarmos preparadas”, ressalta. – (Fabio Bonini/.)

A vereadora é uma das protagonistas do documentário Corpolítica, com lançamento previsto neste mês no Festival Queer Lisboa. A obra retrata a trajetória de seis representantes desse universo na disputa por cargos eletivos. “Queríamos entender o que está por trás desse despertar político e as suas dificuldades”, explica o diretor, Pedro França. O assunto ganha ainda maior dimensão pela contradição que embute: o recorde de candidatos LGBTQIA+ resulta, de um lado, da pressão global por uma sociedade mais aberta à diversidade e, de outro, de seu exato oposto, a onda de conservadorismo que se alastra pelo planeta. “O salto dessas candidaturas tem muito a ver com um movimento de resistência ao efeito Bolsonaro, à retórica misógina, homofóbica e transfóbica do governo”, ressalta Gustavo Costa Santos, professor de sociologia da UFPE.

CONVITE ESPECIAL - Alçada à fama em um reality show, Ariadna Arantes, 38 anos, aspirante à Câmara, entrou no PSB a convite de Geraldo Alckmin. “Me sinto na obrigação de lutar pela causa”, declara. -
CONVITE ESPECIAL – Alçada à fama em um reality show, Ariadna Arantes, 38 anos, aspirante à Câmara, entrou no PSB a convite de Geraldo Alckmin. “Me sinto na obrigação de lutar pela causa”, declara. – (@ariadnaarantes/Instagram)

Faz sentido que a população LGBTQIA+ daqui se empenhe por maior representatividade diante dos riscos que corre. O Brasil encabeça há treze anos o inaceitável pódio do país que mais mata trans e travestis, totalizando 1 733 assassinatos durante esse período. “Tive de ir embora sem terminar meu mandato por causa de ameaças de morte e hoje, por segurança, concentro a campanha na internet”, relata a trans Benny Briolly (PSOL), eleita vereadora em Niterói em 2020 e que agora disputa uma vaga de deputada estadual. Com todo o avanço, a participação dessa população no poder ainda é mínima: ocupa só 0,16% dos cargos nas esferas municipal, estadual e federal. “Como quase todas as mulheres como eu, fui vítima inúmeras vezes de preconceito e discriminação. É inaceitável que não tenhamos uma representante no Congresso”, ressalta a maquiadora e modelo Ariadna Arantes, 38 anos, que ficou famosa ao participar de um reality show, foi convidada a ingressar no PSB por Geraldo Alckmin e é candidata a deputada federal por São Paulo.

Continua após a publicidade

LGBT

O caminho para a população LGBTQIA+ conquistar espaço na política começou a ser pavimentado, timidamente, há trinta anos, com a vitória nas urnas da piauiense Kátia Tapety, a primeira vereadora travesti do país. Quase duas décadas depois, o deputado Jean Wyllys seria o primeiro gay assumido a ocupar uma cadeira na Câmara. “A expectativa é que neste ano, até em reação a tanta gente homofóbica no poder, a nossa representatividade aumente”, avalia Wyllys, que renunciou ao terceiro mandato devido a ameaças de morte.

Na América do Sul, pelo menos três países — Chile, Equador e Venezuela — têm transexuais no Parlamento. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden nomeou a médica trans Rachel Levine para o segundo posto mais importante no Departamento de Saúde. “Nossa ascensão a cargos públicos não é uma questão de cota, mas de abrir espaço para pessoas qualificadas e que experimentam a realidade das minorias na pele”, defende a assistente social e ativista trans Paula Benett (PSB), 42 anos, candidata pelo Distrito Federal a uma vaga na Câmara que foi chamada nas redes sociais de “mulher de próstata”. Fartos de ouvir insultos, os candidatos LGBTQIA+ agora querem ter voz.

Publicado em VEJA de 14 de setembro de 2022, edição nº 2806

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.