Em busca de uma reaproximação com sua base no Congresso Nacional, o Planalto decidiu trocar o comando da liderança do governo na Câmara: sai Henrique Fontana (PT-RS), que se envolveu em um embate com o novo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e assume o ex-líder do PT José Guimarães. O petista tem como uma de suas principais marcas um mal explicado episódio em que seu assessor foi encontrado com dinheiro escondido na cueca.
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Em 2005, quando o mensalão já causava dores de cabeça para o governo e arrastava para o centro do escândalo justamente o irmão do novo representante do governo, o ex-presidente do PT José Genoino, o assessor de Guimarães, José Adalberto Vieira, foi preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com 100.000 dólares na cueca, além de outros 209.000 reais guardados em uma maleta. O funcionário viajaria para Fortaleza, berço eleitoral do petista.
De acordo com o Ministério Público, os dólares eram uma propina que Guimarães iria receber por intermediar um financiamento entre um consórcio de energia e o Banco do Nordeste do Brasil. A Justiça, porém, livrou o líder do governo do processo em 2012, sob o argumento de que não havia elementos que ligassem o deputado ao dinheiro apreendido com o assessor.
Ao ser confirmado no principal cargo de confiança entre o governo e a Câmara, Guimarães agradeceu a confiança da presidente Dilma Rousseff e classificou o cargo como um dos “maiores desafios da carreira”. Guimarães disse ainda que cumprirá a função com “dedicação e respeito público”.
Embate – A mudança no comando da liderança do governo revela que o embate protagonizado durante as eleições à presidência da Casa ainda não foi superado. Na reta final da disputa, o então líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), fez duras críticas a Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por ter divulgado um áudio, claramente forjado, que traria uma negociata de dinheiro envolvendo o novo presidente. Fontana também defendeu que ministros participassem da campanha contra Cunha. Como reação, o então candidato chamou Fontana de um líder “fraco” e “desagregador” e disse que não se submeteria mais à liderança do petista.
“A partir de uma circunstância criada da disputa em que eu atuei em favor do Arlindo Chinaglia, eu entendi que ser líder do governo é uma função que demanda conversas diárias com o presidente da Casa. E a circunstância política atual indica que meu nome não é o ideal a partir da vitória do presidente Eduardo Cunha”, disse Fontana, na tarde desta terça-feira. O petista afirmou que partiu dele a iniciativa de procurar o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, e anunciar que deixaria o cargo.