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Nomes de Bolsonaro para o Senado vivem cenários difíceis nos estados

Políticos como os ex-ministros Gilson Machado Neto e Rogério Marinho colocam em risco plano de eleger o maior número de senadores bolsonaristas

Por Diogo Magri Atualizado em 13 Maio 2022, 16h18 - Publicado em 13 Maio 2022, 06h00

Desde que tomou posse, Jair Bolsonaro não esconde que o seu grande objetivo é ficar mais quatro anos no Palácio do Planalto. Nos últimos tempos, além da faixa presidencial, o pacote do projeto político de 2022 passou também a envolver como prioridade a eleição do maior número possível de senadores bolsonaristas. Para cumprir esse objetivo, o presidente investiu no lançamento de vários nomes na disputa que promete ser apertada (como se sabe, estará em jogo apenas uma vaga por estado). Mas a realidade, por ora, tem se mostrado mais dura do que se poderia imaginar, como mostra o carro-chefe da turma, Gilson Machado Neto (PL). Ex-ministro do Turismo e dublê de sanfoneiro, um dos membros do primeiro escalão que mais viajaram com Bolsonaro e mais apareceram em suas lives, sempre com o instrumento musical a tiracolo, Machado enfrenta uma situação difícil em Pernambuco, estado que é governado há quatro mandatos pela coalizão PSB-PT.

Estreante em disputas eleitorais, ele faz campanha a bordo de uma chapa puro-sangue, sem aliados, encabeçada por Anderson Ferreira (PL), ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes. Tem do outro lado adversários duros, como a deputada Marília Arraes (Solidariedade), uma das representantes do clã que domina o estado, e Danilo Cabral (PSB), apoiado por Lula. As primeiras pesquisas já deixam claro o nível de dificuldade dessa empreitada. Nas sondagens, Machado não passa de 5%. “Temos chance porque as eleições devem ser nacionalizadas”, aposta André Ferreira (PL), deputado federal e irmão de Anderson. Ele também acredita que mais partidos serão atraídos para a coligação e que Machado, apesar de nunca ter sido candidato, agrega “votos mais bolsonaristas” à chapa. Tal visão otimista sobre o futuro do sanfoneiro não harmoniza com o atual cenário político. Se há dúvidas ainda sobre a eficiência do presidente como cabo eleitoral, elas são especialmente maiores no Nordeste. Em Pernambuco, segundo o Paraná Pesquisas de março, o governo Bolsonaro é desaprovado por 65% dos entrevistados. Na corrida presidencial, Lula (PT) possui 54% dos votos no estado, mais que o dobro de Bolsonaro.

COLHEITA - Marinho: luta contra má gestão de Bolsonaro e popularidade de Lula -
COLHEITA - Marinho: luta contra má gestão de Bolsonaro e popularidade de Lula – (@rogeriosmarinho/Twitter)

Os desafios do sanfoneiro são semelhantes aos enfrentados por outro candidato ungido pelo presidente, o ex-ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). Ele passou os últimos meses no governo cortando o país em viagens com Bolsonaro para a inauguração de obras. Na comparação com Machado, Marinho conta com uma rede maior de apoios: está numa chapa com o pré-candidato ao governo Fábio Dantas (Solidariedade), numa coligação que deve ter PTB, PSC, PP e até o PSDB do prefeito de Natal, Álvaro Dias. A campanha bolsonarista considera esses apoios “extremamente importantes” na disputa contra a chapa da governadora Fátima Bezerra (PT), que terá o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT) concorrendo ao Senado — segundo o Ipespe, ele lidera com 24%, contra 17% de Marinho. O problema é que 61% dos potiguares consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo e 48% dizem que o apoio do presidente reduz a chance de voto. Já em relação a Lula, 44% afirmam que seu apoio eleva a chance de votar em alguém.

Não bastasse a concorrência da oposição, há também disputas entre bolsonaristas no mesmo estado. A mais tumultuada delas promete ser no Rio de Janeiro, onde o ex-jogador Romário Faria (PL) e o deputado federal Daniel Silveira (PTB) se colocam como candidatos do presidente. Logo após Silveira ganhar mais popularidade no universo particular do bolsonarismo raiz ao se tornar uma espécie de “mártir” da insana cruzada obscurantista contra o Supremo Tribunal Federal, Romário subiu para o ataque na tentativa de virar o jogo. “O candidato de Bolsonaro sou eu”, chutou. Romário topa até aceitar como suplente em sua chapa Rogéria Bolsonaro, ex-mulher do presidente e mãe do senador Flávio, do deputado Eduardo e do vereador Carlos. Nas redes sociais, onde o bolsonarismo é forte, no entanto, há uma massiva preferência por Silveira, mas Romário conta com o impedimento do rival, que deve ser declarado inelegível pelo TSE.

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“MÁRTIR” - Daniel Silveira: popular entre os radicais, ele pode ficar inelegível por ataques ao Supremo -
“MÁRTIR” - Daniel Silveira: popular entre os radicais, ele pode ficar inelegível por ataques ao Supremo – (André Coelho/EFE)

O cenário de disputa entre bolsonaristas pelo mesmo espaço se repete no Distrito Federal, tendo como protagonistas Damares Alves (Republicanos), ex-ministra dos Direitos Humanos, e Flávia Arruda (PL), ex-ministra-chefe da Secretaria de Governo. Flávia Arruda tem o apoio do governador Ibaneis Rocha (MDB), favorito à reeleição, e empata com o senador José Reguffe (União Brasil), atual detentor da vaga, na liderança das pesquisas. Já Damares conta com o aval do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP). Todos convergem, no entanto, na ideia de que precisa ser declarado um armistício na disputa entre bolsonaristas. “Temos até agosto para desatar esses nós”, preocupa-se o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), vice-­presidente nacional do partido.

Em alguns estados, a situação é até pior, como em São Paulo. Ainda não há definição sobre quem será candidato na chapa ao governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), embora o próprio ex-ministro tenha dito que a vaga está reservada ao instável José Luiz Datena (PSC). O apresentador enfrenta resistência pesada do bolsonarismo raiz e já mudou de direção várias vezes na atual campanha. Para piorar, pesa contra ele o histórico de seguidas desistências em sua reiterada intenção de entrar para a política. Por via das dúvidas, Bolsonaro estimulou a fiel deputada Carla Zambelli (PL) a se colocar à disposição para tentar ser senadora. Isso irritou outra aliada e concorrente à mesma vaga, a deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB), que abraçou de vez as teses mais estapafúrdias do discurso bolsonarista na esperança de contar com o apoio do presidente.

Existem exceções nessa intrincada batalha. Alguns ex-integrantes do governo gozam hoje de uma posição mais confortável em suas pretensões ao Senado. A ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP) é o melhor exemplo. Respeitada no agronegócio pela sua competência, ela conta com a simpatia da maioria dos prefeitos de Mato Grosso do Sul e já cravou quase 30% das intenções de voto em pesquisa local, bem à frente do ex-colega de Esplanada, o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (União Brasil), que tem 11%, e virou um nome antibolsonarista. No Rio Grande do Sul, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) também lidera a corrida, mas ali a disputa promete. Mourão está empatado com a ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB), apoiada por Lula. Aliás, a derrota do general para uma comunista será um duro revés para o governo, mesmo que vice e presidente não sejam os melhores amigos.

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JOGADA - Romário: aliança com ex-mulher do presidente para ser o candidato governista no Rio -
JOGADA - Romário: aliança com ex-mulher do presidente para ser o candidato governista no Rio – (Geraldo Magela/Agência Senado)

As lembranças dos apuros enfrentados pelo governo no Senado são o combustível que impulsiona os esforços do governo nessas campanhas. Foi na Casa que o presidente enfrentou os seus maiores problemas no Congresso. O principal foi a CPI da Pandemia, que colocou a sua administração contra a parede, durante boa parte do ano passado. Também foi no Senado que o presidente sofreu uma derrota humilhante na votação de uma vaga de ministro do TCU, quando seu líder na Casa, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), recebeu 7 votos, contra 52 de Antonio Anastasia (PSD-MG).

Apesar de faltar pouco menos de cinco meses para as eleições, podem acontecer muitas surpresas ainda, pois a maioria dos eleitores deixa a decisão de candidato ao Senado para o último instante. Em 2018, Dilma Rousseff (PT) liderava com 26% em Minas Gerais, segundo o Ibope, mas terminou em quarto lugar. De qualquer forma, convém ao bolsonarismo ter uma postura mais cuidadosa na definição das candidaturas, para não dividir o eleitorado, ampliar alianças e não ficar isolado em uma corrida em que só um sai vencedor — diferente de 2018, quando cada estado tinha duas vagas em disputa. “O desgaste na CPI também se deveu à incapacidade do presidente em costurar coalizões políticas”, relembra Carolina Botelho, pesquisadora de estudos eleitorais do Iesp/Uerj. Ou seja, as próprias derrotas no Senado servem de alerta ao bolsonarismo na sua luta para ter no futuro alguma vida tranquila na Casa, na hipótese de uma reeleição. Por ora, no entanto, como mostram exemplos como o do sanfoneiro Machado, muitas campanhas começaram de forma desafinada para atingir esse objetivo.

Publicado em VEJA de 18 de maio de 2022, edição nº 2789

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