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Negociação do governo com o Centrão irrita antigos aliados de Bolsonaro

Governo dobra os joelhos à velha política, diz Delegado Waldir sobre oferta de cargos por apoio no Congresso; problema é a demagogia, afirma Julian Lemos

Por Roberta Paduan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 abr 2020, 16h02 - Publicado em 22 abr 2020, 15h52

Muita gente ficou sem entender quando o presidente Jair Bolsonaro gritou “não vamos negociar nada”, durante a manifestação a que se juntou no domingo 19 em frente do quartel-general do Exército, em Brasília. O que parecia apenas a repetição de um de seus mantras de campanha foi, na verdade, uma espécie de ação preventiva, na tentativa de neutralizar as notícias — que já vinham circulando, mas tomariam volume esta semana — de que o governo está em plena negociação de cargos com partidos do Centrão, o maior bloco de de deputados federais, em busca de apoio no Congresso.

Não adiantou. “Diante da inépcia de seus articuladores políticos, o governo está dobrando os joelhos à velha política”, resumiu o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO), que, na condição de líder do partido que já abrigou Bolsonaro – e que o levou ao poder na eleição de 2018 -, sempre foi um defensor do atual governo.

O assunto começou a pegar fogo entre antigos aliados depois que começou a circular em Brasília que o governo acertou com o PL, de Valdemar da Costa Neto – uma das principais figuras envolvidas no chamado escândalo do mensalão, durante o governo Lula -, o comando do Banco do Nordeste e da Secretaria de Vigilância em Saúde (cargo tocado pelo secretário Wanderson de Oliveira, que era um dos principais auxiliares do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, e que ficou famoso nas coletivas do ministério, especialmente depois que pediu demissão, que não foi aceita pelo então chefe).

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Nas últimas semanas, Bolsonaro já havia conversado com o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, e o deputado federal Marcos Pereira, presidente do Republicanos, outros dois promeninentes líderes do Centrão. Também se encontrou o deputado Arthur da Lira (PP-AL), Wellington Roberto (PL-PB e Diego Andrade (PSD-MG), todos com algum cargo de liderança em suas legendas. Pelos bastidores da capital federal também é dado como certo que o PP passará a responder pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento (FNDE) e o Departamento Nacional de Obras Contra Secas (Dnocs).

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As negociações têm provocado a fúria de apoiadores tradicionais do governo. O deputado federal Julian Lemos (PSL-PB), um dos mais ativos na campanha de 2018, disparou pelo Twitter: “Agora temos uma ‘aliança pelo Brasil’, e ela já tem seu fundo eleitoral, Banco do Nordeste, Funasa”, referindo-se ao partido Aliança pelo Brasil, fundado por Bolsonaro e que ainda busca registro na Justiça Eleitoral. A VEJA Lemos afirmou: “O problema não é o Centrão, mas a demagogia desse governo, e, pior ainda, a sua inabilidade política. ‘Negociar’ não é palavra proibida. A negociação pode ser totalmente republicana, discutida no mérito, mas o próprio Bolsonaro destrói a política atacando todos, quem merece e quem não merece”.

 

Julian
(Reprodução/Reprodução)

De acordo com o deputado, a gestão Bolsonaro foi absolutamente inábil desde o início do mandato. “Esse governo destruiu as conexões políticas com o Congresso. Desprezou e denegriu a imagem de todo o Legislativo, batendo até naqueles que o apoiavam — e ainda apoiam — sem pedir nada em troca. Agora está procurando garantir a governabilidade com negociações de custarão muito caro. Por que precisa dar banco em troca de apoio?”, concluiu o parlamentar.

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A inabilidade política do governo também é apontada por Delegado Waldir. Segundo o parlamentar, nem o líder do governo na Câmara, deputado Major Victor Hugo (PSL-DF), nem o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, vêm atuando com eficiência para garantir vitórias do governo no Legislativo. Exemplo disso, explica Waldir, foi a “derrota fragorosa” na semana passada, quando a Casa aprovou por 471 votos a ajuda a estados e municípios, sem a definição de contrapartidas. “Eu fui um dos 70 que votaram contra a farra fiscal, mas votei por coerência. A liderança do governo e a Casa Civil ficaram de braços cruzados”, completa.

A deputada Professora Dayane Pimentel (PSL-BA) também se manifestou a respeito das negociações. No Twitter, a parlamentar ironizou: “Se essas pessoas fossem filme, como vc titularia?”, referindo-se a cinco líderes do Centrão. Em seguida, a parlamentar deu sugestões nada abonadoras: Ciro Nogueira (PP) seria “O $abidão”; Gilberto Kassab (PSD-SP), “Nem esquerda nem direita. Apenas o que for lucrativo”; Roberto Jefferson (PTB), que denunciou o Mensalão e acabou preso por também fazer parte do esquema, seria  “O delator envolvido”; Marcos Pereira (Republicanos) seria “O enviado… de Edir Macedo ” (ambos são pastores da Igreja Universal); por fim, Valdemar da Costa Neto (PL) teria o título “Eu ouvi raposa?”.

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Dayane
(Reprodução/Reprodução)

As críticas da deputada foram rebatidas pelo vereador e filho do presidente, Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). O Zero Dois chamou a parlamentar de desconhecida e a acusou de ter usado a imagem do pai para se eleger. Os ataques a Dayane levaram outros pesselistas a defendê-la, entre eles , Julian Lemos e Joice Hasselmann, que já foi líder do governo no Congresso e que também vem criticando o modus operandi político do governo. Pelo visto, o descontentamento e os barracos tendem a continuar.

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