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“Não é possível ignorar a situação da Venezuela”, diz líder de oposição

Em entrevista a VEJA, Maria Corina cobra apoio do presidente Lula para pôr fim à ditadura de Nicolás Maduro

Por Leonardo Caldas
Atualizado em 16 out 2023, 20h21 - Publicado em 16 out 2023, 16h53

Sufocada pela ditadura de Nicólas Maduro, a oposição na Venezuela está a menos de uma semana de realizar eleições primárias para escolher quem representará o grupo na aguardada corrida presidencial de 2024. Segundo as pesquisas, os oposicionistas devem consagrar, por ampla margem de votos, a ex-deputada Maria Corina Machado, que foi declarada inelegível por 15 anos, em junho passado, por pressão do governo Maduro. A VEJA, Maria Corina diz ter certeza de que conseguirá recuperar o direito de concorrer e que unirá o povo venezuelano rumo à retomada da democracia. Ela também afirma esperar que o presidente Lula e a esquerda latino-americana deixem o viés ideológico de lado e cobrem de Maduro a realização de eleições limpas no ano que vem:

O presidente Lula chancelou o regime de Nicolás Maduro ao recebê-lo no Brasil? O que está acontecendo na Venezuela deve provocar uma reação e uma reflexão em todos, independentemente da afinidade ideológica. Maduro se tornou uma figura tóxica devido às violações dos direitos humanos e à corrupção. Mais de 85% do país desejam uma mudança política. Portanto, Maduro precisa de legitimidade, precisa lavar a sua imagem. É por isso que ele concordou em participar de um processo eleitoral no próximo ano, conforme previsto na Constituição venezuelana.

Que papel o presidente Lula pode desempenhar nesse processo? Acredito que ele tem uma grande oportunidade não apenas por estar à frente do Brasil e da América Latina, mas diante da história. A Venezuela avançará em direção à democracia e à liberdade. Esse processo pode ser mais difícil ou mais fluido, dependendo do apoio que recebemos de líderes regionais. Com mais apoio, esse processo será mais ordenado e, espero, menos conflituoso. Espero que todos os venezuelanos possam contar com a construção e a colaboração do presidente Lula. É necessário tanto para o bem da Venezuela quanto para o bem do Brasil. Lula pode marcar seu legado como articulador da democracia na Venezuela.

A senhora acredita nessa colaboração do governo brasileiro?  O Brasil sempre teve voz e liderança política. Não é possível ignorar a situação da Venezuela. Mais de 8 milhões de venezuelanos deixaram o país e continuam saindo. Se Lula entender que a Venezuela está disposta a lutar e que pode contribuir para fazer com que Maduro e seu regime cumpram os compromissos assumidos para que haja uma eleição competitiva, limpa e livre, Lula estará desempenhando um papel fundamental. Este é o desafio que todos os presidentes da região devem enfrentar com firmeza: apoio para garantir que tenhamos eleições limpas e competitivas.

Como a senhora espera reverter a sua inelegibilidade?  A força que está sendo construída na organização cidadã na Venezuela é muito poderosa. No início deste ano, a Venezuela parecia muito triste, desanimada e desapontada, mas uma grande mudança, uma grande esperança, acendeu-se. Isso se manifestará nas primárias. A partir daí, nos consolidamos ainda mais, unindo todos os setores do país. Chávez tentou dividir os venezuelanos, mas estou unindo-os, e essa força fará com que o regime tenha de reconhecer que sou quem vai derrotá-lo.

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Como reverter essa situação juridicamente?  Isso é completamente inconstitucional, a ponto de Gustavo Petro, presidente da Colômbia, já ter se manifestado a respeito, pois ele também foi alvo de uma decisão como essa da justiça eleitoral. Ele recorreu à Corte Interamericana de Direitos Humanos, que decidiu a seu favor. Então, o que estão fazendo contra mim é ainda pior, porque não há investigação e não há crime. Não fiz absolutamente nada de errado.

Qual a situação da Venezuela hoje? Quantos milhões de habitantes o Brasil tem? Imagine um quarto deles saindo do país em menos de dez anos. É isso que a Venezuela tem vivido. Tínhamos o país mais rico da região há 25 anos e agora somos o mais pobre de todo o hemisfério. Perdemos 75% da nossa economia em menos de dez anos. As aposentadorias são de menos de 5 dólares por mês. Um professor ganha 1 dólar por dia, e as crianças estão indo para a escola apenas dois dias por semana. Além disso, temos um país onde os direitos humanos são violados. Temos presos políticos que são torturados, restrições à liberdade de expressão e perseguição política. O que isso faz? Faz com que as pessoas não queiram ficar. As pessoas não têm outra opção senão fugir.

Não há, portanto, como relativizar o regime de Maduro, como o presidente Lula fez numa declaração recente? Maduro é um tirano que viola os direitos humanos, saqueou todo o país e destruiu a economia. Os venezuelanos não vão parar de emigrar para o Brasil e outros países enquanto Maduro estiver no poder.

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