Na contramão de 2018, Bolsonaro promete mais ministérios para reeleição
Presidente precisa manter apoio de parlamentares e auxiliares temem onda lulista às vésperas do pleito. Ao abrir espaços, ele aperta laços com centrão
Na campanha de 2018 o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro atacava o tamanho da estrutura administrativa do país. Prometia reduzir a 15 o número de ministérios, que chegou a 39 sob o comando de Dilma Rousseff (PT). “Temos que acreditar, temos como fazer um Brasil diferente. A corrupção, vamos reduzi-la o máximo possível. Sabemos a dificuldade disso, mas nós diminuiremos o tamanho do Estado. Teremos no máximo 15 ministérios e 150 estatais”, disse ele durante uma transmissão pela internet.
Quatro anos depois, Bolsonaro, o presidente, tem sob seu comando 23 ministérios e, como candidato, acena aos aliados a possibilidade de ampliar espaços, caso seja reeleito, criando as pastas de Segurança Pública, Pesca e Indústria e Comércio (MDIC). “Nós pretendemos, em havendo uma reeleição, dividir melhor os ministérios, criar no máximo mais três, para que possamos melhor administrar o nosso país”, afirmou durante entrevista na semana passada.
A medida está sendo desenhada com PL, Republicanos e Progressistas, que formam o tripé do governo e pressionam por mais espaço na Esplanada. A comunicação, agora profissional, trabalha a mensagem a ser passada ao eleitor: a ampliação de cadeiras no poder Executivo é necessária para ordenar a administração do Estado.
“O presidente reduziu ministérios em relação a governos anteriores. São 23, eram 27 durante o mandato de Temer e 35 na época da Dilma. Estamos em 2022 e, depois de quatro anos, olha-se a necessidade atual”, diz o deputado Aroldo Martins (Republicanos-PR).
De acordo com o deputado Marco Feliciano (PL-SP), a expansão é “uma necessidade orgânica” que visa desafogar áreas que precisam de tomada rápida de decisões em matérias específicas. “Uma coisa é treino, outra é jogo. Diante da multiplicidade e especificidade dos assuntos do mundo moderno há sim uma necessidade de se criar algumas pastas para tratar de temas específicos, inclusive com ganho de produtividade e com economia para os cofres públicos. Só não dá para ter 39 ministérios como Lula”, acrescenta.
Enquanto governistas têm na ponta da língua os argumentos para rebater a contradição entre os discursos de Bolsonaro, nos bastidores a história é um pouco mais complicada. O presidente precisa manter o apoio de deputados e senadores que estarão nas bases fazendo campanha boca a boca e convencendo o eleitor a votar nele a partir de agosto. Os resultados das pesquisas de intenção de votos têm sido há meses ruins para o chefe do Executivo.
Auxiliares do mandatário temem uma onda lulista às vésperas do pleito que contamine os ânimos dos aliados e eles acabem não se esforçando pela campanha à reeleição –ou, pior, estimulem voto em Lula. Ao sinalizar com mais espaço no governo, Bolsonaro aperta ainda mais os laços com o centrão.