A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão do Ministério Público Federal, pediu, na noite desta quinta-feira 18 que a Procuradoria da República no Distrito Federal analise a suposta ordem do presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, para a retirada de informações e artigos de líderes negros, como Zumbi dos Palmares, do site oficial da instituição. Militante de direita, Camargo foi indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro.
Na petição, o procurador Carlos Alberto Vilhena afirmou que “não é a primeira conduta institucional da entidade e de seu presidente a denotar a intenção de negar a relevância de figuras historicamente associadas ao papel essencial da população negra na construção e no desenvolvimento da sociedade brasileira”. O documento destaca, ainda, que a Fundação Palmares tem o objetivo de “promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”.
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Clique e AssineO documento enviado à Procuradoria da República do Distrito Federal cita uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada na segunda-feira 15, segundo a qual a Fundação Palmares retirou do ar a página que continha artigos sobre Zumbi dos Palmares, os abolicionistas Luís Gama e André Rebouças, a escritora Carolina de Jesus, entre outros negros de projeção na história do país em diversos setores, como o esporte, por exemplo. Vilhena destaca que a atuação de Sérgio Camargo tem a intenção de “desmerecer a importância de tais personagens, sem qualquer análise aprofundada e, tampouco, oportunidade de que se defendam as respectivas reputações”.
Como VEJA mostrou, no início deste mês, Vilhena também havia pedido que a Procuradoria da República do Distrito Federal avaliasse a abertura de uma outra investigação contra Sérgio Camargo, baseada em falas ditas pelo diretor da Fundação Palmares durante uma reunião do órgão: ele classificou o movimento negro de “escória maldita” e prometeu exonerar servidores que divergirem do seu padrão ideológico.
Segundo o procurador, ao dizer que vai demitir ou mandar para outro órgão quem for “esquerdista”, ele pode ter praticando “possível desvio de poder, já que transparece a intenção de prejudicar servidores da entidade apenas em razão de divergências ideológicas individuais”. Para Vilhena, a fala de Camargo pode ser enquadrada como ato de improbidade administrativa.