Depois de admitir a VEJA a possibilidade de concorrer à Presidência da República , o ministro da Fazenda Henrique Meirelles ajusta seu discurso para incluir atenção à área social. Na tentativa de fugir do rótulo de candidato do mercado, ele diz agora que é favorável a um “reforço” nos programas sociais, principalmente no Bolsa Família.
A mudança de tom é uma vacina contra as já esperadas críticas de que, se ele entrar na corrida eleitoral, será o “candidato do arrocho”. Com uma retórica mais social, Meirelles luta para se consolidar como postulante de centro-direita na disputa, com aval do Palácio do Planalto, desbancando o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), que pleiteia essa vaga.
Com o slogan “A melhor política social é o emprego”, o ministro se movimenta para mostrar que sua preocupação vai além dos áridos temas econômicos, exibindo um estilo “gente como a gente” — decisão sobre candidatura, de fato, só em março.
No dia 4 de dezembro, por exemplo, após sair de uma palestra na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, ele entrou em um supermercado com o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni e abordou consumidores que empurravam carrinhos de compra. “E os preços aí como estão? Pararam de subir?”, perguntou ele, para espanto de fregueses que viram um Meirelles sorridente. A resposta não foi bem o que queria ouvir. “Continua tudo muito caro”, disse um cliente. “Pela hora da morte”, resumiu outro.
A cena foi registrada por uma equipe de filmagem, que tem acompanhado os passos do ministro há cerca de um mês, desde que promoveu mudanças em seu perfil nas redes sociais. Segundo o Ministério da Fazenda, a equipe foi contratada por Meirelles para cuidar de sua conta no Twitter. Está à frente da equipe o publicitário Fábio Veiga.
Filiado ao PSD, Meirelles será a estrela do programa do partido, que vai ao ar na próxima quinta-feira, em rede nacional de rádio e TV. Em conversas reservadas, Meirelles não descarta a possibilidade de mudar de partido até março, mas somente se for necessário para emplacar sua candidatura ao Planalto. Já avisou, também, que não aceita de jeito nenhum ocupar o posto de vice.
Com apenas 2% das intenções de voto, de acordo com as mais recentes pesquisas, o ministro da Fazenda se aproximou do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – seu aliado na defesa da reforma da Previdência, que teve a votação adiada para fevereiro.
Entretanto, as articulações do DEM para lançar Maia à sucessão de Temer causaram estranheza à equipe de Meirelles, que também se reuniu com o prefeito de Salvador, ACM Neto, outro presidenciável do DEM. Paralelamente a isso, Meirelles mantém diálogos com o PMDB de Temer, incluindo o DEM e siglas do Centrão, como o PRB, o PP, o PR e o PTB.
(Com Estadão Conteúdo)