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Lula vira alvo de bolsonaristas por fala sobre sequestro de Abílio Diniz

Em evento de campanha, petista contou que foi ao então presidente FHC para atuar pela soltura dos criminosos, que faziam greve de fome

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jun 2022, 08h30 - Publicado em 18 jun 2022, 16h50

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) virou alvo de bolsonaristas após contar que intercedeu em favor dos sequestradores do empresário Abílio Diniz que estavam presos e faziam uma greve de fome, em 1998. Nove deles eram estrangeiros e pressionavam o governo brasileiro para serem extraditados. Em um evento de campanha em Maceió (AL) na sexta-feira, 17, o petista afirmou que foi conversar com o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que acabou celebrando um acordo de troca de prisioneiros. Nas redes bolsonaristas, a fala do presidente, que contém erros históricos, foi apontada como sendo Lula o responsável por libertar os criminosos.

“Tinha dez brasileiros presos. [na verdade era um só, os outros nove vinham do Canadá, Argentina e Chile], que foram presos, em 89, naquele sequestro do Abílio Diniz. Esses jovens, que tinham argentinos, tinha gente da América Latina, ficaram presos dez anos. Teve um momento que eu fui conversar com o Fernando Henrique Cardoso porque eles estavam em greve de fome e iam entrar em greve seca, que é ficar sem comer e sem beber. Aí a morte seria certa. Aí, então, eu fui procurar o ministro da Justiça chamado Renan Calheiros”, começou Lula.

Na época do caso, existia uma pressão geral para que a situação da greve de fome dos sequestradores e a extradição fossem resolvidas no Brasil em comum acordo com os governos dos outros países, que mantinham brasileiros presos.

Os primeiros beneficiados com o tratado, determinado pelo secretário de Direitos Humanos José Gregori, foram os canadenses Christine Gwen Lamont e David Robert Spencer. Juntamente com cinco chilenos, dois argentinos e um brasileiro, eles haviam sido condenados a penas que vão de 26 a 28 anos de prisão pelo sequestro do empresário.

O único brasileiro a participar do sequestro de Diniz, Raimundo Rosélio Costa Freire, foi solto na mesma época, mas acabou preso novamente pela Polícia Federal em 2004, por tráfico de drogas. Não se sabe o paradeiro dos outros envolvidos.

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Na fala desta sexta-feira, Lula conta como foi o diálogo com FHC: “Eu falei ‘Fernando, você tem a chance de passar para a história como um democrata. Ou você tem a chance de passar para a história como um presidente que permitiu que dez jovens, que cometeram um erro, morram na cadeia. E isso não vai apagar nunca’. E o Fernando Henrique Cardoso disse: ‘Lula, se você for conversar com eles e convencer eles a acabarem com a greve de fome, eu solto eles'”, continuou o político.

Na sequência, o ex-presidente disse que esteve com os presidiários. “E eu fui na cadeia no dia 31 de dezembro, conversar com os meninos e falar: ‘Olha, vocês vão ter de dar a palavra para mim, vocês vão ter de garantir pra mim, que vão acabar com a greve de fome agora e vocês serão soltos. Eles respeitaram a proposta, pararam a greve de fome e foram soltos. E eu não sei onde eles estão agora”, concluiu o líder nas pesquisas de intenção de voto das eleições presidenciais de 2022.

O deputado federal Eduardo Bolsonao (PL/SP) reproduziu a fala e insinuou que o ex-presidente é leniente com bandidos. “Se alguém sequestrar seu filho ou cometer outra barbaridade e quiser ficar livre, certamente Lula intercederá pela soltura deste criminoso”. Carla Zambelli (PL/SP) também usou o mesmo trecho da fala de Lula para criticar o petista. “O ex-presidiário cada vez mais vem mostrando sua verdadeira face e dá sinais de como pretende ‘governar'”, escreveu.

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Empresário e dono do Grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz foi sequestrado em 11 de dezembro de 1989 no Jardim Europa, em São Paulo. Ele ficou seis dias em um cativeiro no bairro do Jabaquara, na zona Sul da capital paulista. O empresário foi resgatado com vida. A polícia capturou e prendeu os dez sequestradores.

O caso ocorreu em plena campanha presidencial, quando Lula disputava o segundo turno com Fernando Collor. À época, circulou uma notícia falsa de que o PT estava envolvido no caso, já que os sequestradores foram apresentados usando camisetas do partido. Investigações revelaram que eles  a polícia os forçou a vestir a peça de roupa. Até hoje, os petistas acreditam que o fato contribuiu para a derrota de Lula.

Veja a fala do ex-presidente na íntegra:

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