Antes da eleição municipal, o presidente Lula já era aconselhado a realizar uma reforma ministerial para oxigenar o governo, cuja avaliação positiva está estável, mas num nível próximo ao da avaliação negativa. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em outubro, 36% aprovam a gestão petista e 32% reprovam. Os números são parecidos aos de Jair Bolsonaro durante o mesmo período de mandato.
Com a derrota da esquerda nas urnas e o fortalecimento dos partidos de centro, como PSD e MDB, e de centro-direita, como União Brasil e Republicanos, a pressão por mudanças na Esplanada voltou à mesa de negociação. Ninguém sabe se e quando Lula fará a reforma, mas é certo que ele terá de pesar interesses partidários e pessoais distintos antes de tomar uma decisão.
Frente ampla
Conselheiros do presidente alegam que a composição do governo não reflete a frente ampla montada para derrotar Bolsonaro. Até petistas reconhecem que há uma hegemonia da esquerda nas principais pastas e que o ideal seria Lula aumentar os espaços de aliados do centro. A iniciativa poderia ampliar o leque de propostas e canais de diálogo da gestão, fortalecer a base aliada no Congresso e dar ao mandatário a chance de tentar amarrar as legendas do Centrão ao futuro projeto presidencial do PT.
A próxima corrida ao Palácio do Planalto é o principal interesse analisado numa eventual reforma. Fortalecidas nas últimas eleições, as siglas do centro à direita cogitam lançar concorrentes para enfrentar o PT em 2026. PSD e União Brasil já têm pré-candidatos. O MDB, que disputou a Presidência em 2022 com a agora ministra Simone Tebet, está dividido entre uma possível adesão a Lula, o embarque a uma eventual chapa com o governador Tarcísio de Freitas e até uma postulação própria. A troca de cadeiras na Esplanada, se realizada, será usada principalmente para estreitar alianças de olho na reeleição do petista.
Caciques premiados
O debate sobre reforma também considera o que fazer com uma série de líderes políticos. Uma ala governista defende que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), assuma um ministério de ponta. Petistas querem que a atual comandante da sigla, Gleisi Hoffmann, também seja contemplada com um cargo. Os dois deixarão suas respectivas funções de chefia no ano que vem. Há o entendimento também de que Gilberto Kassab, mandachuva do PSD, a sigla que mais conquistou prefeituras este ano, tem de ser ouvido nas negociações
Outro ponto a ser considerado é a possibilidade de um prêmio de consolação aos líderes do União Brasil, Elmar Nascimento, e do PSD, Antonio Brito, caso eles desistam da eleição para a presidência da Câmara e facilitem a vitória de Hugo Motta, do Republicanos. Por enquanto, ninguém sabe de Lula fará mudanças em sua equipe, mas uma coisa é certa: a conveniência política e eleitoral prevalecerá sobre a qualificação técnica na escalação de um novo ministério.