Nas duas últimas semanas, o presidente Lula teve de abrir as portas de seu gabinete e disparar telefonemas para colher reclamações por parte dos dois principais caciques de Alagoas, o senador Renan Calheiros (MDB) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).
Como mostra reportagem de VEJA desta edição, os dois notórios adversários políticos de Alagoas transportaram a rixa para o governo federal e travam uma disputa por influência dentro do governo.
Nas conversas com Lira e com Calheiros, Lula evidencia que não quer se tornar um árbitro dessa disputa paroquial e faz acenos duplos para não melindrar nenhuma das partes.
Na última semana, o presidente viajou para a Bahia com o primogênito do senador, Renan Filho. Diante de apoiadores, fez questão de elogiar a atuação do ministro dos Transportes e dizer que ele, em cinco meses de governo, investiu mais em estradas do que o governo de Jair Bolsonaro ao longo de um ano inteiro. Renan Filho saiu aplaudido.
Ao mesmo tempo, trocou telefonemas com o presidente da Câmara em um tom amigável. Os dois chegaram a fazer troça do conflito. “O senhor me leva na próxima viagem?”, disse Arthur Lira ao presidente. “Levo. O senhor fica de um lado e o Renan do outro”, ironizou o petista.
Apesar do clima descontraído, Lula sabe que a divergência com Lira já causa problemas. O presidente da Câmara não esconde de ninguém a insatisfação de ter um adversário ocupando um cargo na Esplanada, enquanto seu grupo está sem espaço.
Em um recado claro, líderes partidários aliados de Lira boicotaram uma reunião com Lula que tinha o objetivo de ser o primeiro aceno em torno de uma pacificação. O presidente ficou furioso.